“Testa muito”. Pelo raciocínio, ser campeão mundial de mortes de coronavírus se deve à excelência dos ataúdes made in USA
O presidente Donald Trump afirmou que o fato de os EUA ter o maior número de casos confirmados da Covid-19 era um “distintivo de honra”. Os casos de contágio ultrapassam o 1,5 milhão.
A cínica declaração, que tenta transformar incompetência e obscurantismo diante da pandemia em condecoração, foi feita na terça-feira (19) durante a primeira reunião do gabinete na Casa Branca desde que o surto começou.
A explicação de Trump para ter tantos casos de coronavírus no país não é sua inépcia ou fraco gosto pela cloroquina, mas por “termos mais testes do que o resto do mundo”.
Como é notório, Trump passou o mês de fevereiro extasiado com a alta na Bolsa de Wall Street e com sua vitória sobre o impeachment, não deu a mínima para os repetidos alertas que recebeu, mandou ao Congresso um orçamento cortando 16% da verba contra epidemias e 10% na Saúde, e até disse em comícios que o coronavírus era como “uma gripe comum”, que desaparece “com o calor da primavera”. Quando março chegou, a casa caiu.
“Então, quando temos muitos casos, eu não vejo isso como uma coisa ruim, eu vejo isso como, de certa forma, como sendo uma coisa boa, porque significa que nossos testes são muito melhores”, afiançou Trump.
“Então eu vejo isso como um distintivo de honra. Realmente, é um distintivo de honra. É uma grande homenagem aos testes e a todo o trabalho que muitos profissionais têm feito.”
Por uma questão de coerência de raciocínio, ele poderia também ter se gabado de que os EUA, recordista mundial em mortes por coronavírus com mais de 92 mil, o seja por fabricar os melhores ataúdes do mundo, ou pela excelência em necrotérios ambulantes na porta de hospitais.
A declaração de Trump ocorreu quando ele respondia a repórteres sobre sua ameaça de banir os voos do Brasil para evitar que brasileiros ‘contagiem os norte-americanos’ [cujo país é o epicentro global da pandemia, tendo cinco vezes mais casos e mais óbitos por coronavírus que o Brasil].
Na reunião, seu vice, Mike Pence, anunciou que todos os 50 estados norte-americanos reabriram parcialmente suas economias. O povo americano “está respirando ar livre e fazendo isso com responsabilidade”, asseverou, de acordo com a CNN.
Por sua vez, pelo Twitter, o Comitê Nacional Democrata chamou os mais de 1,5 milhão de casos de Covid-19 de “completo fracasso da liderança” de Trump.
Na última semana, foram realizados diariamente nos EUA entre 300 mil e 400 mil testes, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).
Como tudo que Trump diz, é arriscado acreditar piamente. Assim, apesar dele contar vantagem sobre os EUA serem os campeões na testagem, isso é só meia verdade.
Com mais de 12 milhões de testes realizados, em números absolutos os EUA lideram. Mas quando a comparação é por milhão de habitantes – quantas pessoas foram testadas para cada 1 milhão de habitantes -, os EUA ficam com um modesto 38º lugar, de acordo com o portal Worldometer. Atrás da Espanha, Portugal, Rússia, Itália ou Grã Bretanha, entre muitos outros.
ANTONIO PIMENTA