O presidente Trump pessoalmente demitiu no sábado (20) o procurador federal de Nova Iorque, Geoffrey Berman, que colocou na cadeia seu ex-advogado pessoal, Michael Cohen, mais conhecido como o ‘remenda-tudo’ de Trump, e vinha agora investigando o atual advogado dele, Rudolph Giuliani
A demissão foi anunciada pelo ministro da Justiça (“Procurador-geral”) do governo Trump, William Barr. A renúncia do procurador federal chegou a ser anunciada na véspera por Barr, que até divulgou o nome do substituto, mas foi desmentido pelo próprio Berman.
Na carta em que comunica a demissão, Barr acusou o procurador federal de “escolher o espetáculo público sobre o serviço público”. “Porque você declarou que não tinha a intenção de renunciar, eu pedi ao presidente para remover você a partir de hoje, e ele assim fez”, acrescentou.
O vice de Berman, Audrey Strauss, assumirá o comando interinamente. Para juristas, a medida ameaça a independência dos procuradores federais.
Conforme o New York Times, “a demissão de Berman veio depois que seu escritório trouxe uma série de casos altamente sensíveis que preocupavam e irritavam Trump e outros do seu círculo íntimo”.
O ex-promotor David Massey, que serviu no órgão por quase uma década, disse ao NYT que “tirar repentinamente alguém enquanto está investigando o advogado do presidente é sem precedentes nos tempos modernos”.
Oficialmente, Barr fora a Nova Iorque para discutir com oficiais seniores do Departamento de Polícia a reforma do policiamento, pós-protestos antirracismo. De acordo com fontes ouvidas pelo NYT, ao se encontrar com Berman, Barr lhe ofereceu o comando da divisão civil do Departamento de Justiça caso aceitasse deixar a procuradoria de Manhattan.
Ao saber que “renunciara” pela mídia, Berman deixou Barr sem sequer uma folha de parreira, ao emitir declaração esclarecendo “não ter renunciado e não ter qualquer intenção de renunciar”.
Para o NYT, o fato de que o substituto que chegou a ser anunciado, Jay Clayton, pareceu ter sido pego de surpresa, é um sinal de que a intervenção de Barr foi feita às pressas.
Clayton preside o órgão federal que supervisiona a Bolsa de Wall Street e é amigo de Trump, com quem costuma jogar golfe no clube privado deste em Bedminster (Nova Jersey).
A investigação de Giuliani, ex-prefeito de Nova Iorque, tem como foco se o atual advogado pessoal do presidente violou leis ou fez lobby para entidades estrangeiras em seus esforços para descobrir sujeira na Ucrânia contra adversários políticos de Trump. Dois associados de Giuliani nessas ações já estão presos.
Berman é republicano e foi nomeado interinamente pelo então procurador-geral Jeff Sessions, embora seu nome jamais foi oficializado em votação do Senado. Mas acabou tornando-se titular por decisão do corpo de juízes federais do Distrito Sul de Nova Iorque.
Ao tomar conhecimento da ordem de demissão, Berman disse que deixaria o cargo assim que um nome apontado pelo presidente fosse confirmado pelo Senado. Até lá, acrescentou, “nossas investigações vão seguir em frente sem atraso ou interrupção”.
À tarde Berman disse que, como Barr tinha respeitado “o curso normal da lei” ao apontar seu vice para o comando, ele se afastaria. No Senado, o líder da minoria, o democrata Chuck Schumer, instou Clayton – citado por Barr – a retirar seu nome da apreciação pelo legislativo, e pediu uma investigação sobre a decisão de demitir Berman.