
A ACLU denuncia que muitos pais foram pressionados a concordar com a deportação sem entender seus direitos. Antes o governo dizia que o total de pais deportados era de 12
De acordo com informação prestada ao juiz federal Dana Sabraw pelo Departamento de Justiça, ao menos 463 pais imigrantes foram deportados sem os filhos, tirados deles à força pela chamada política de “tolerância zero” do governo Trump, o que na prática não passa de sequestro oficializado.
Nesta quinta-feira (26) encerra-se o prazo dado pelo juiz para que o governo reúna às famílias todas as crianças que foram separadas, entre 2 mil e 3 mil crianças, e já se sabe que não será cumprido integralmente. Anteriormente, o governo havia admitido um número bem menor de pais expulsos dos EUA sem seus filhos: apenas 12.
Na realidade, o governo Trump sequer tem certeza de que sejam mesmo 463, com os advogados do regime dizendo que ainda estão “revisando os casos individualmente”. Esses 463 fazem parte de um grupo maior de 917 pais que o governo considerou “inelegíveis” ou “ainda não reconhecido como elegíveis” para se reunir com os filhos de que foram apartados, sob pretextos como antecedentes criminais, doenças transmissíveis ou outras questões, de acordo com o USA Today.
Na sexta-feira passada, uma das crianças vítimas da xenofobia de Trump cujo caso chamou mais a atenção, um bebê hondurenho que foi de mamadeira e tudo a um tribunal para ter oficializada sua deportação, se reuniu afinal com os pais, Adalicia e Rolando, em San Pedro de Sula. Eles não puderam partilhar com a criança, Johan, seu primeiro aniversário de vida ou seus primeiros passos porque estava em um cativeiro a que pomposamente Trump chama de abrigo. Rolando foi deportado sem o filho. “Eles foram muito cruéis”, denunciou.
Desde que o juiz Sabraw ordenou a suspensão da política de separar as famílias capturadas na fronteira, o governo Trump reuniu somente 1021 crianças com seus pais. Para o governo, apenas 1637 de 2551 crianças separadas são “elegíveis” – segundo seus próprios e discutíveis critérios – para a reunião com a família.
Cerca de 900 pais tiveram ordens de deportação na segunda-feira, e a União Americana das Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), o que a entidade está tentando barrar judicialmente, até que eles se reúnam com seus filhos. Pelos ‘critérios’ em vigor, se os pais não estiverem nos EUA na hora determinada para a reunificação, podem ser considerados “não ser elegíveis”.
A ACLU e entidades de defesa dos imigrantes afirmaram que muitos dos pais que foram deportados foram pressionados a concordar com a deportação, sem entender seus direitos. “Se este número [de pais já deportados] acaba por ser tão grande como o relatório sugere, este vai ser um grande problema para nós”, afirmou o advogado da ACLU, Stephen Kang. “Estamos preocupados com a desinformação dada a esses pais sobre seus direitos de combater a deportação sem seus filhos”.
Áudio de uma audiência em que uma mãe teve seu pedido de asilo recusado, que a CNN divulgou, permite revelar todo o desespero experimentado pelos pais separados arbitrariamente dos seus filhos. “Por favor, não me retire deste país”, implorou em espanhol uma mãe fugindo da violência e da miséria em seu país natal.
SEPARAÇÃO
“Faça isso por mim ou pelo meu filho. Eu não tenho mais nada. Eu não tenho mais ninguém. Eu sou uma mãe solteira”. Ela tentou explicar ao juiz que estava perturbada na primeira entrevista e não conseguia entender as perguntas feitas. “Eu estava me sentindo muito desesperada porque estava separada do meu filho, que ficou na jaula do ICE [imigração], no chão, e eu não sabia nada sobre ele naquela época”.
É provável que muitos dos pais deportados tivessem assinado formulários sem perceber que estavam concordando com a própria deportação, ou sem entender que seriam obrigados a deixar seus filhos para trás, denunciaram advogados de imigrantes ao New York Times. 130 pais deportados assinaram deportação deixando os filhos, segundo a imigração ianque. “Nossos advogados voluntários que trabalham com pais separados detidos estão vendo muitas pessoas que assinaram formulários que não entendiam”, disse um advogado de imigração de El Paso, Texas.
“Eles pensaram que a única maneira de ver o filho novamente era concordar com a deportação”, acrescentou. Enquanto isso, o número de crianças detidas no Texas aumentou, desde o final de junho, de 4.0919 para 5.024, o que inclui crianças desacompanhadas.
ANTONIO PIMENTA