“A esperança que vejo é com os milhões de americanos que saem às ruas, com eles dizendo que já chega: vejo esperança”, afirma o cineasta Spike Lee, ao final de sua entrevista ao jornalista Scott Roxborough.
“E me sentirei mais esperançoso no dia 4 de novembro, um dia após a eleição presidencial”, diz ainda, deixando claro ao jornalista a quem recebeu em sua residência no Brooklin, a sua vontade de se ver livre de Trump, que apelida de “Agente Laranja” e avalia que “será o pior presidente da história dos Estados Unidos”.
A entrevista, publicada pela rede alemã Deutsche Welle, aconteceu do dia 11, um dia antes da estreia de seu novo filme, Da 5 Bloods (Destacamento Bloods), uma produção em conjunto com a Netflix (já pode ser visto lá desde o dia 12 deste mês),
O filme retrata o resgate dos restos mortais de Stormin’ Norman – comandante de uma unidade de infantaria composta somente por negros – por parte dos seus comandados na selva vietnamita. Segundo Lee, é uma homenagem a seu filme favorito “Apocalypse Now” de Francis Ford Coppola.
O filme, que começa com o boxeador Mohamed Ali (Cassius Clay) justificando a recusa em participar da invasão ao Vietnã e termina com o discurso de Martin Luther King, questionando a intervenção norte-americana no país asiático, pouco antes de seu assassinato, lembra que apesar da população negra norte-americana ser, à época da guerra, de 11%, o número de negros no combate fomentado pelo governo de brancos era de 32%, nos postos mais expostos ao fogo dos defensores do Vietnã.
Em uma das cenas, o cineasta lembra dos filmes estrelando Chuck Norris e Silvester Stallone, “os brancos tentando ganhar em Hollywood a guerra que perderam no terreno”.
Em outra cena, um dos protagonistas compara o libertador do Vietnã, Ho Chi Minh, com o que derrotou os colonialistas ingleses mas, sendo negro, destaca: “Nunca nos ensinaram que George Washington, o primeiro presidente dos EUA, possuía 123 escravos.”
Na entrevista, Spike Lee fala da sensação que teve ao ver o vídeo que mostra o assassinato de George Floyd por asfixia: “Tive a impressão de um déjà-vu: com Eric Garner [morto pela polícia em 17 de julho de 2014]. Eu fiz um filme sobre o tema: Faça a coisa certa (1989) foi baseado no assassinato na vida real do grafiteiro Michael Stewart [em 15 de setembro de 1983]. E então comecei a pensar em todas aquelas outras pessoas negras sendo mortas, não apenas por estrangulamento, em todos aqueles sendo baleados”.
Ao falar de sua esperança, ele acrescenta que “estamos começando aqui nos EUA, onde americanos, não apenas americanos pretos e pardos, os brancos americanos, minhas irmãs e irmãos brancos, estão saindo às ruas e se juntando a nós, de braços dados, dizendo que isso precisa acabar’.
Sobre os militares que recentemente se afastaram de Trump ele é categórico: “E é engraçado agora ver seus aliados, esses generais e políticos que estão lentamente começando a se afastar dele, porque eles podem ver os sinais dos tempos e não querem entrar para a história ligados a esse cara, ser descritos como aqueles no lado errado da história. Definitivamente do lado errado”.
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