Personalidades que viveram alguns dos episódios do que Wagner Willian conta em seu livro “Uma mulher vestida de silêncio”, sobre a vida e a trajetória de Maria Thereza Goulart, esposa do ex-presidente Jango, estiveram nesta sexta-feira (10) na Livraria da Vila, no Itaim, para o lançamento da obra em São Paulo. Entre eles, o ministro de Jango e senador Almino Afonso e João Vicente, filho mais velho do ex-presidente.
Wagner Willian, que é também autor do livro “Soldado Absoluto”, uma biografia do Marechal Lott, lembra que Almino Afonso foi o primeiro integrante do governo Jango a denunciar o golpe. “Foi ele também”, diz o escritor, “o grande responsável pela autorização dos militares para que João Goulart fosse enterrado no Brasil”. “O problema do Almino é que ele não quis relatar isso por pura humildade”, acrescentou Wagner.
Presente também o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, prefaciador desta magnífica obra sobre a vida e a luta de ‘Teca”, como Maria Thereza era chamada pelo marido. “A vida de Maria Thereza Goulart revela a trajetória extraordinária de alguém que saiu da fronteira para se tornar a mais jovem primeira-dama do Brasil, capa das maiores revistas da Europa”, disse ele.
Wagner Willian nos contou que a maior importância para ele desta obra “é poder trazer à tona os fatos, trazer a verdade sobre tudo o que ocorreu”. “Sobretudo discutir a imagem que ficou. Ficou apenas a imagem da esposa de um presidente, mas, por traz disso tem toda uma história de luta, de exílio, de uma família lutando para ficar unida numa época de autoritarismo e de ditadura”.
Sobre as semelhanças entre o período analisado por ele na década de 1960 e a atualidade, Willian destaca que atualmente “há uma carga muito forte sobre a família Goulart” e que “é muito importante a informação”. “A informação é crucial nesse momento porque na ditadura havia ausência de informação, agora há uma informação deturpada e usada par ser se aproveitar em eleição, para se manter no poder, etc, e isso precisa ser mudado”, defendeu.
Para Willian a reação popular à iniciativa do governo Bolsonaro de comemorar o golpe de 1964 “foi sensacional”. “Realmente a reação foi muito boa. Até quem estava do lado do governo achou que foi demais. Dizer que não houve ditadura é um absurdo. É evidente que houve ditadura, que houve mortes, que houve perseguição, que houve várias vinganças pessoais”, observou.
“Quer dizer, a reação popular foi muito boa. Isso aí eu acho que foi a melhor coisa que aconteceu nesse ano difícil”, afirmou. “O governo teve até que refazer a palavra, fizeram lá uma mudança na frase, para tentar disfarçar. Só que tem limites para as mentiras e a gente sabe disso. Estamos atentos”, prosseguiu o escritor.
Willian comentou também a iniciativa do Instituto João Goulart de pedir recentemente uma retratação do Ministério da Defesa em relação à mentira divulgada na Ordem do Dia de 31 de março, lida nos quartéis, insistindo em afirmar que Jango estava fora do país no dia 2 de abril, quando o Congresso, numa atitude golpista, declarou vaga a cadeira da Presidência.
“Não tem o que discutir. Primeiro tentaram um impeachment e não conseguiram. Aí de repente, decidem declarar vaga a Presidência com o presidente no Brasil, voando para o Rio Grande do Sul, que eu acho que é Brasil, não é verdade? Ainda bem que eles [do instituto] tiveram esse posicionamento”, assinalou o autor.
Compareceram também ao evento, além dos amigos ao autor e da família Goulart, lideranças políticas e de entidades populares, entre elas, José Américo Morelli, Gláucia Morelli, presidente da Confederação das Mulheres do Brasil, Fátima Zanon e Rosangela Zanon, diretoras da Federação das Mulheres Paulistas e Rosanita Campos, presidente da Fundação Cláudio Campos.
O jornalista Wagner Willian é paulista, ganhou o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos pela reportagem “O primeiro voo do condor”, publicada na revista Brasileiros. É também autor de “Sílvio Luiz: olho no lance” (Best Seller, 2002) e do já citado “O soldado absoluto”, uma biografia muito bem trabalhada do Marechal Henrique Teixeira Lott.
SÉRGIO CRUZ