Os aplicativos do WhatsApp, Facebook e Instagram ficaram fora do ar em todo o mundo desde meio-dia (horário de Brasília) até as 19h30min, desta segunda-feira (4). Ninguém conseguia enviar mensagens no WhatsApp ou carregar novos posts no Instagram e Facebook durante todo o dia, até que as 19h30min, as principais redes sociais usadas no mundo foram voltando a funcionar.
O blecaute atingiu tanto os aplicativos para Android e iOS quanto os sites acessíveis pelo navegador no celular e no PC. Quem tentava acessar o WhatsApp Web ou o Facebook e o Instagram pelo navegador encontrava uma tela de página fora do ar.
Em nota oficial publicada no Twitter, o Facebook — que também é dono do WhatsApp e Instagram — confirmou a pane, mas não deu detalhes sobre a falha.
“Estamos cientes de que algumas pessoas estão tendo problemas para acessar nossos aplicativos e produtos. Estamos trabalhando para voltar ao normal o mais rápido possível e pedimos desculpas por qualquer inconveniente”, disse o Facebook.
Falhas nos apps do Facebook não são inéditas. Neste ano aconteceu também em março, junho e setembro, mas elas nunca duraram tanto. Nas outras vezes, em cerca de duas horas elas voltaram. Desta vez, foram quase sete horas, o que não é comum.
A queda aplicativos pode ter ocorrido devido a uma falha de Domain Name System (DNS- Sistema de Nomes de Domínio, em português), segundo especialistas do grupo Facebook Inc. Por ter sido uma pane global nas versões web e app, é provável que seja um problema com o DNS, mas as chances de a pane ter sido provocada por ação humana intencional não está descartada.
Funciona assim: quando você digita o endereço de um site, servidores DNS entram em operação e “traduzem” o endereço para o IP relativo ao site e permitem o acesso. Quando esse caminho falha, o site desaparece completamente para o internauta. Neste caso, a rede social desapareceu para os usuários.
Como o próprio Facebook controla essas configurações, acredita-se que o problema seja interno, segundo especialistas em segurança cibernética ouvidos pela agência Reuters. Eles especulam que a pane possa ser resultado de um erro, embora a possibilidade de sabotagem interna não seja, neste momento, descartada por esses especialistas. A possibilidade de ação hacker é considerada mais remota, uma vez que exigiria uma grande coordenação entre poderosos grupos de hacking ou técnicas extremamente inovadoras.
“A duração da pane é bastante incomum, e há relatos de ‘caos’ na sede do Facebook, enquanto técnicos tentavam consertar o problema”, relata o repórter especializado em tecnologia da BBC na América do Norte, James Clayton.
Falha não envolveu hacker, diz NYT
De acordo com The New York Times, dois funcionários relataram à reportagem, condição de anonimato, que é improvável o “apagão” ter sido resultado de um ataque cibernético, pois uma ação de hacker seria incapaz de afetar os aplicativos de maneira global.
Os mesmos funcionários ainda disseram ao jornal que nem mesmo a rede interna usada entre os colaboradores da empresa estavam funcionando, paralisando diversos segmentos da gigante de tecnologia. Eles tiveram que usar aplicativos concorrentes da empresa, como LinkedIn e Zoom para manter a comunicação.
As ações do Facebook caíram quase 5% na Bolsa de Nova York, em meio também a revelações de um informante sobre práticas da empresa.
Pane ocorre um dia após ex-funcionária denunciar irregularidades
“A queda dos servidores veio menos de 24h depois de uma denúncia gravíssima. Ex-Diretora de Produto do FB revelou ontem documentos que comprovam que o Facebook priorizou o lucro e MENTIU para investidores sobre melhorias e avanços no combate à desinformação”, levantou Felipe Neto.
“Não sei se uma coisa está relacionada com a outra, mas uma coisa é fato: Com a queda dos servidores, o assunto da denúncia foi completamente escanteado e enterrado na maioria dos veículos. E essa denúncia é uma das coisas mais graves da história da internet”, apontou o influenciador digital.
O Wall Street Journal vinha revelando detalhes dos documentos vazados por Frances Haugen (37), engenheira de computação com MBA em Harvard e Diretora de Integridade Cívica do Facebook nos últimos dois anos, até se demitir em maio de 2021.
“O Facebook se deu conta de que, se mudar o algoritmo para ser mais seguro, as pessoas vão gastar menos tempo no site, clicar em menos anúncios e, consequentemente, gerar menos dinheiro”, disse Haugen, em uma entrevista ao programa ‘60 Minutes’, da CBS americana. Ela irá depor no Congresso na terça-feira (5), a respeito do impacto das plataformas da empresa para os jovens.
Haugen acredita que a empresa de Mark Zuckerberg é “substancialmente pior do que qualquer outra” gigante da tecnologia. “O Facebook, repetidamente, mostrou que prefere o lucro à segurança. Está subsidiando seus lucros com a nossa segurança”, afirmou a ex-funcionária.
Haugen lembrou ainda que na época das eleições presidenciais norte-americanas de 2020, o Facebook ativou sistemas de segurança para tornar o ambiente menos hostil — após diversas denúncias de interferência política nos anos anteriores. Porém, assim que o período eleitoral terminou, esse sistema foi apagado.
“A configuração voltou a ser a mesma de antes, priorizando o crescimento e não a segurança. Isso realmente me parece uma traição à democracia”, disse ela, que defende o monitoramento público das redes sociais.
“É mais fácil inspirar as pessoas à raiva do que a outras emoções”, disse Haugen na entrevista. Ao alimentar discursos de ódio e divisionistas, a empresa ganha mais dinheiro. “Quanto mais você sentir raiva, mais vai interagir, mais conteúdo vai consumir”, criticou.
Algoritmo negativo
A ex-funcionária ainda explicou que o algoritmo usado pelo Facebook dá preferência a mostrar para cada usuário aqueles conteúdos que gerem reações negativas. “E isso corrói nossa confiança cívica, corrói nossa fé uns nos outros, corrói nossa capacidade de querer cuidar uns dos outros. A versão atual do Facebook está destruindo nossas sociedades e causando violência étnica em todo o mundo”, alertou.
Haugen também acusa o Facebook de enganar seus próprios investidores, emitindo comunicados que mascaram os problemas e não correspondem às ações internas da empresa.
“Há declarações falsas e omissões relevantes nos memorandos aos investidores e potenciais investidores”, comentou no programa.
Ela abriu um processo de delação junto ao órgão regulador de mercado dos Estados Unidos.
Segundo Frances Haugen, o Facebook tem conhecimento de que seus produtos estão prejudicando a saúde mental e a autoestima dos jovens, principalmente de garotas adolescentes. Documentos vazados, publicados pelo The Wall Street Journal, mostram que 32% delas dizem que o Instagram faz com que se sintam mal em relação a seus corpos.
“Nós pioramos os problemas com a imagem do próprio corpo para uma a cada três garotas adolescentes”, diz uma apresentação interna.
Também há indícios de que as redes sociais potencializam casos de ansiedade e depressão entre os jovens.
O Facebook negou todas as acusações da ex-funcionária e classificou as declarações dela como “enganosas”. Em nota ao “60’ Minutes”, a empresa disse que mantém contratos com 80 agências de checagem em 60 idiomas e que um ambiente violento é ruim para os usuários, para os anunciantes e para os negócios.
As denúncias de Frances Haugen renovam as polêmicas sobre privacidade de dados, desinformação e discurso de ódio no Facebook. Essa é a primeira vez em que há evidências de que a empresa, sabendo inserção na sociedade e na política, prefere não agir para promover um ambiente mais seguro e democrático, em nome de seu lucro.