A moção, redigida e assinada por quase 81% dos senadores, chama a atenção do mundo para a necessidade de o Brasil obter vacinas contra a Covid-19. O documento, que deve ser votado em plenário nesta terça-feira (23), é uma resposta da Casa contra a visível negligência do governo no combate à pandemia
As instituições republicanas, é o caso do Senado, começam a se posicionar e agir diante da tragédia ocasionada pela pandemia da Covid-19, que se abateu sobre o Brasil, e o fato de o governo Bolsonaro continuar atuando com contumaz negligência para superar os problemas relacionados à contaminação e mortes em massa da população brasileira.
Encabeçado pela senadora Kátia Abreu (PP-TO), 65 senadores redigiram, nesta segunda-feira (22), moção de apelo internacional chamando a atenção do mundo para a necessidade de o Brasil obter vacinas contra a Covid-19. O documento deve ser votado no plenário do Senado nesta terça-feira (23).
Sendo aprovada, a moção vai ser encaminhada a todos os países membros do G20, organismos da ONU (Organização das Nações Unidas), especialmente a OMS (Organização Mundial da Saúde), países da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), parlamentos europeu e inglês e Congresso estadunidense, além de embaixadores do Brasil no mundo, embaixadores estrangeiros no Brasil, empresas produtoras de vacinas, todos os presidentes das comissões de Relações Internacionais dos principais países e imprensa nacional e internacional.
Quem deu a informação, nesta segunda-feira (22), foi senadora Kátia Abreu, na reunião remota da Comissão Temporária da Covid-19. Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, ela apresentou relatório segundo o qual o Brasil precisa de 100 milhões de doses de vacinas contra a doença com urgência, para que 1/3 da população seja imunizada e a curva de infecção diminua.
RITMO DA VACINAÇÃO
No texto, que deverá ser aprovado pelo plenário, os senadores afirmam que o ritmo da vacinação no Brasil é “insuficiente para conter a propagação” da Covid-19 e ressaltam que “deixar que o povo brasileiro continue a morrer sem vacinas significa uma agressão a todas as tradições humanas”.
“É o oposto de tudo o que a civilização representa. Destrói os princípios de convivência humana. Impõe o medo e compromete a tranquilidade e segurança de todos os países”, segue o texto.
“O Brasil se tornou o epicentro mundial da pandemia. Dados confirmados pela OMS mostram que superamos nesta semana a alarmante média móvel de 72 mil novos casos e mais de 2 mil óbitos por dia. O país reclama atenção emergencial do mundo”, descrevem os senadores na moção.
“Nosso ritmo de imunização é insuficiente para conter a propagação da doença. Até o momento, menos de 5% dos 210 milhões de brasileiros foram vacinados. Dependemos de vacinas e insumos farmacêuticos ativos (IFA) importados, que chegam em ritmo lento, se comparado ao desafio posto pela segunda e devastadora onda da pandemia no Brasil.”
“Nesta crise sanitária sem precedentes que atinge o mundo, barreiras fronteiriças não nos podem proteger da propagação do vírus e do surgimento de possíveis variantes. A única defesa é a cooperação internacional, com a vacinação urgente de nossa população”, está noutro trecho da moção.
DOSES ALÉM DO NECESSÁRIO
Sob a referência da revista digital Science Magazine, no relatório apresentado aos senadores por Kátia Abreu, ela menciona a publicação, segundo a qual 11 países compraram vacinas em número muito maior ao de habitantes, havendo assim cerca de 3 bilhões de doses que provavelmente não serão utilizadas, e uma parte desse montante poderia ser cedida para o Brasil.
Na última sexta-feira (19), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pediu à vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, autorização para que o Brasil compre vacinas contra a Covid-19 estocadas pelos EUA e sem previsão de uso em solo estadunidense.
CONVITE AO NOVO MINISTRO E IMPORTAÇÃO DE INSUMOS
A Comissão Temporária da Covid-19 aprovou, nesta segunda-feira, requerimento dirigido ao futuro ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para que forneça informações atualizadas sobre os estoques de insumos, como oxigênio hospitalar, medicamentos e kits intubação, que estão na iminência de acabar nas secretarias municipais de Saúde.
Os senadores querem a importação urgente de insumos e a definição de um teto para os preços dos medicamentos contra Covid-19 está entre as sugestões oferecidas no debate na comissão temporária.
Diante do agravamento da crise, parlamentares aprovaram na última terça-feira (16) convite para que Queiroga apresente os planos do ministério para enfrentamento da pandemia de Covid-19. Na reunião desta segunda, senadores disseram esperar que ele já esteja disponível para apresentar esclarecimentos assim que tomar posse. A expectativa é que a sessão de debates temáticos com o ministro ocorra nos próximos dias.
Além de responder aos questionamentos formulados pela senadora Zenaide Maia (Pros-RN) no requerimento aprovado, Queiroga precisa se preparar para responder aos senadores pessoalmente, na audiência pública na Casa.
MÉDIA MÓVEL DE MORTES
O Brasil registrou 1.259 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas e totalizou no domingo (21), 294.115 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no País nos últimos 7 dias chegou a 2.255, mais um recorde no índice. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +46%, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença. Nesse ritmo, o número de óbitos vai chegar a 300 mil até quarta-feira (24).
É o que mostra novo levantamento do consórcio de veículos de imprensa sobre a situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h de domingo.
Já são 60 dias seguidos com a média móvel de mortes acima da marca de 1 mil, e pelo 14º dia a marca aparece acima de 1,5 mil. Foram 23 recordes seguidos nesse índice, registrados de 27 de fevereiro até aqui.
No sábado (20), foi registrado o maior número de mortes catalogadas naquele dia da semana desde o início da pandemia, superando o recorde do sábado anterior (13), quando foram contabilizados 1.940 óbitos. Na sexta (19), pela primeira vez desde o início da pandemia, o País bateu a marca de 15 mil mortes em uma semana.
Veja a sequência da última semana na média móvel:
Segunda-feira (15): 1.855 (recorde)
Terça-feira (16): 1.976 (recorde)
Quarta-feira (17): 2.031 (recorde)
Quinta-feira (18): 2.096 (recorde)
Sexta-feira (19): 2.178 (recorde)
Sábado (20): 2.234 (recorde)
Domingo (21): 2.255 (recorde)
M. V.