ANA CLARA DE SOUZA DAVID (*)
A pandemia do Covid-19 tem acentuado as desigualdades sociais, econômicas e educacionais no Brasil. Com um número de infectados e mortos muito alto, nosso país ainda possui um governo viral e totalmente prejudicial não só à saúde do nosso povo mas também à todos os nossos direitos, como a educação e os meios de acesso à ela.
O governo Bolsonaro anunciou através do portal de notícias do CNPq que as bolsas de iniciação científica cedidas entre agosto de 2020 e julho de 2021 serão disponibilizadas somente para projetos que têm o objetivo de avançar as Tecnologias Prioritárias do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação excluindo qualquer pesquisa da área das humanidades, escancarando o projeto deste desgoverno que é de negação da ciência e desvalorização da educação como um todo, principalmente de setores que estudam a sociedade e questões sociais. Muitos estudantes pesquisadores e bolsistas dependem dessas bolsas para realizar seus estudos e esse tipo de corte em meio uma pandemia acentua as dificuldades de acesso e de produção da ciência que é sobretudo essencial para a saída da crise.
De acordo com o Semesp a taxa de inadimplência entre os estudantes foi em Abril de 2019 14,9%, em Abril deste ano a taxa é de 25,5%, o aumento também acontece na taxa de evasão que ano passado era de 3,8% este ano é de 4,3%, demonstrando o quanto a falta de assistência estudantil tem afetado o ensino superior brasileiro e sobretudo a vida das e dos estudantes. Enquanto essas taxas aumentam, os tubarões da educação privada aumentam também as mensalidades e mantém as datas de pagamento mesmo com grande redução nos gastos estruturais das faculdades, que não estão gastando com luz, água e com o espaço físico em geral. A implantação do EAD sem nenhuma política de acesso, tanto nas universidades privadas quanto nas públicas, é também um problema pois vivemos em um país em que 45,9 milhões de brasileiros não têm acesso a internet (IBGE).
Muitos estudantes não só se dedicam a vida acadêmica mas também ao trabalho. Os jovens são os primeiros demitidos diante de uma crise ou recessão, principalmente os estagiários, além disso a maioria de nós trabalha de forma informal, sendo assim a luta pela permanência estudantil e por políticas de assistência efetivas é muito importante para que os jovens brasileiros consigam permanecer em seus cursos superiores.
Grandes conquistas do movimento estudantil nesse período como o adiamento do ENEM, a suspensão das parcelas do FIES aprovada pelo Senado e a redução de mensalidades em algumas faculdades em vários estados do país devem servir de roteiro para continuarmos lutando pela educação brasileira e pela permanência estudantil. Precisamos construir saídas para algumas políticas, como por exemplo o Ensino Remoto Emergencial que tem sido implementado em algumas universidades, precisamos a partir dele garantir que as e os estudantes tenham acesso à essas aulas e conteúdos, além disso é preciso que as bolsas de assistência continuem existindo concretamente neste momento. Algumas
universidades como por exemplo a UFJF tem pensado em projetos que continuem atendendo esses alunos que dependem destas bolsas, como a entrega de quentinhas para inscritos na bolsa alimentícia, ações assim permitem que os estudantes estejam amparados.
É necessário que estejamos atentos para que todos os que entrem na universidade possam permanecer, e que a educação e a ciência sejam as bandeiras guiarão o Brasil para o fim desta crise!
(*) Estudante de Serviço Social da UFJF e diretora de permanência estudantil do DCE