Em nota, o Conselho Nacional de Saúde repudia a fala de Bolsonaro instigando seus seguidores a invadir hospitais públicos, filmar e entregar para o governo. “O chefe de Estado no país aplica uma política de extermínio”, diz a nota.
Leia o texto na íntegra:
“NOTA PÚBLICA: CNS repudia declarações do presidente que ofendem profissionais de Saúde e incitam ódio
Em meio à pandemia Jair Bolsonaro mais uma vez vocifera ódio em declaração que insufla a população a invadir serviços de saúde para checar suposta negligência de profissionais da saúde
No dia em que o Brasil contabiliza mais de 41 mil pessoas que perderam a vida e mais de 800 mil infectadas em decorrência do novo coronavírus (Covid-19), o país torna-se o epicentro da América Latina, com grande possibilidade de se tornar o epicentro do mundo diante do aumento exponencial em número de infectados e mortes. Nesse contexto, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, mais uma vez se supera vociferando ódio em declaração feita na última quinta (11/06), quando insuflou a população a invadir hospitais e serviços de saúde para fotografar e filmar os atendimentos de profissionais, acusando-os de estarem negligenciando o cuidado para salvar as vidas dos pacientes.
Segundo ele, há suposto “ganho político em cima das mortes” a partir da culpabilização do governo federal. Por isso, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) mais uma vez repudia este tipo de fala que só prejudica ainda mais o contexto de crise na saúde pública. O presidente também afirmou, de forma irresponsável, que os leitos não estão sendo ocupados e os gastos não são compatíveis, ameaçando profissionais inclusive com o uso da Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin), desnudando ainda mais a face autoritária do seu governo.
O ataque sistemático do governo a servidores públicos, às universidades públicas, aos direitos trabalhistas, previdenciários, com desfinanciamento de políticas públicas e priorização escancarada dos interesses do mercado em detrimento das vidas das pessoas, torna-se ainda mais cruel nesse contexto de pandemia, especialmente para as pessoas mais vulnerabilizadas, que sequer conseguem ter acesso ao auxílio emergencial, sendo expostas à fome e à morte.
O governo federal continua assumindo sua atitude genocida, negando a pandemia, colocando-se como adversário da ciência, que tem incansavelmente se dedicado à busca de alternativas que possam minimizar os efeitos nefastos da pandemia. Isso demonstra total desprezo pela vida da população, não expressando qualquer sentimento de solidariedade, empatia e compaixão, quer com as famílias que perderam seus entes queridos, quer com os profissionais que têm adoecido e morrido no desenvolvimento de suas atividades laborais. Diferente de outros países do mundo, que reconhecem nos profissionais de saúde a fortaleza dos sistemas de saúde para enfrentamento ao novo coronavírus.
Há de se considerar ainda que esta atitude representa constrangimento a pacientes que se encontram internados, em situações de sofrimento, diante da qual precisam ter absoluta confiança nos profissionais e no tratamento que estão recebendo.
Em meio ao caos, o governo tenta retirar de sua responsabilização as mortes de milhares de pessoas que muito decorrem da falta de uma política coordenada pelo governo federal, que, ao invés disso, tem tomado atitudes isoladas e incompatíveis com os princípios básicos da ciência e defesa da vida, transferindo somente para os governos estaduais e municipais a condução de ações, acusando-os sistematicamente de não priorizarem a economia.
O presidente da república sabe que milhares de pessoas já morreram e muitas ainda irão morrer. Mortes que poderiam e podem ser evitadas se o governo tivesse compromisso com a vida das pessoas. Entretanto, o chefe de Estado no país aplica uma política de extermínio.
O CNS, expressão máxima da democracia participativa, repudia atitudes, comportamentos e falas que incitam o ódio, a violência e a perda de direitos e reafirma que vidas importam, pois vidas estão acima dos lucros. Assim, exigimos respeito a todas as cidadãs e todos os cidadãos brasileiros(as).
Conselho Nacional de Saúde”