“Vai ser a primeira vez na história que alguém diz que está exilado e tem o apoio do governo. Geralmente é o contrário”
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que “ninguém está sentindo falta dele [Abraham Weintraub] no Ministério da Educação”.
Depois de deixar o Ministério, Weintraub foi correndo para os Estados Unidos. “Ele estava fugindo de alguém? Estranho, não é? Vai ser a primeira vez na história que alguém diz que está exilado e tem o apoio do governo. Geralmente é o contrário. As pessoas fogem porque estão sendo perseguidas por um governo”, ironizou Maia durante entrevista coletiva.
Em seu Twitter, o ex-ministro disse que “estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). NÃO QUERO BRIGAR! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”.
Dois dias depois, postou foto nos Estados Unidos. “Agradeço a todos que me ajudaram a chegar em segurança aos EUA, seja aos que agiram diretamente (foram dezenas de pessoas) ou aos que oram por mim”, dizia a legenda da foto.
Weintraub informou que recebeu um convite para ser diretor de um banco internacional. Rodrigo Maia disse que não entendeu “essa necessidade de se criar um ambiente pra ele sair correndo do Brasil, até porque ele está sendo indicado para um banco internacional. Certamente, ele teria autorização dos EUA para entrar no país, não entendi”.
Abraham Weintraub apareceu na gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril dizendo que “eu, por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”.
Até mesmo apoiadores do governo Bolsonaro, como o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), começaram a apoiar a saída de Weintraub do Ministério.
Sua gestão, que durou 14 meses, atacou os estudantes e professores de universidades federais, cortando verba e dizendo que elas estavam “infestadas de esquerdistas”.
Recentemente, o bolsonarista acusou a China de ter criado o coronavírus para afetar outros países e aumentar seu poder relativo. Os ataques ao povo chinês causaram outro inquérito contra o ministro. Desta vez por racismo.
O governo mudou a data de exoneração de Abraham Weintraub. A alteração foi publicada no Diário Oficial da União como uma retificação, na teraça-feira (23). A saída dele foi adiantada para o dia 19, mas o decreto original foi publicado no dia 20 de junho.
Weintraub só foi exonerado oficialmente do cargo após utilizar seu passaporte diplomático de ministro para conseguir entrar nos EUA, já que o país impôs restrições a turistas brasileiros por conta da pandemia do novo coronavírus.
Com a mudança, Weintrab pode ser acusado de utilizar o passaporte diplomático indevidamente, já que viajou para Miami após não ser mais ministro.
O governo fez a mudança após o Ministério Público, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), ingressar com uma representação para que a Corte apure uma possível participação do Itamaraty na viagem do ex-ministro.
Para o sub-procurador Lucas Furtado, o governo pode ter cometido desvio de finalidade através da pasta comandada por Ernesto Araújo, já que o ingresso de seu colega em Miami, sem caráter oficial, só ocorreu graças ao passaporte diplomático.
O sub-procurador diz na representação que que a viagem não detinha nenhum caráter oficial, “o que lhe retira a finalidade pública” e, por isso, o passaporte diplomático não poderia ter sido utilizado como justificativa para o então ministro ingressar no país.