Desde o início desta tragédia as FFAA se colocaram ao lado da ciência, conforme ficou atestado no estudo “Crise Covid-19: Estratégias de Transição para a Normalidade”, elaborado pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx) sobre a pandemia do coronavírus
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, criticou no sábado (11), durante videoconferência do Banco Plural, a situação criada pelo governo no Ministério da Saúde durante a pandemia do coronavírus. Sua crítica se dirigia ao fato do órgão ter sido, segundo ele, esvaziado em plena pandemia. Mendes cometeu o deslize de estender sua crítica aos militares em geral pelo fato de, atualmente, estar à frente do Ministério da Saúde um general do Exército.
“Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa. Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, disse Gilmar.
Em nota, o ministro da pasta, Fernando Azevedo e Silva, junto aos comandantes das Forças Armadas: Edson Leal Pujol (Exército), almirante Ilques Barbosa Junior (Marinha) e brigadeiro Antonio Carlos Bermudez (Aeronáutica) repudiaram a declaração do ministro do STF. “Comentários dessa natureza, completamente afastados dos fatos, causam indignação. Trata-se de uma acusação grave, além de infundada, irresponsável e sobretudo leviana. O ataque gratuito a instituições de Estado não fortalece a democracia”, disse em trecho da nota.
“Genocídio é definido por lei como “a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso” (Lei nº 2.889/1956). Trata-se de um crime gravíssimo, tanto no âmbito nacional, como na justiça internacional, o que, naturalmente, é de pleno conhecimento de um jurista. Na atual pandemia, as Forças Armadas, incluindo a Marinha, o Exército e a Força Aérea, estão completamente empenhadas justamente em preservar vidas. Informamos que o MD encaminhará representação ao Procurador-Geral da República (PGR) para a adoção das medidas cabíveis”, conclui a nota dos militares.
O erro do ministro Gilmar Mendes, ao fazer esta associação entre a atuação do Exército e o comportamento de Bolsonaro não é pequeno. Não perceber a diferença do esforço que vem fazendo as FFAA em apoio ao país na luta contra a pandemia e o comportamento irresponsável e negacionista de Jair Bolsonaro é um erro grave.
O esforço das FFAA para colaborar com o país num momento grave como este é bastante significativo, como reforçam os comandantes militares. Milhares de soldados estão trabalhando na desinfecção de locais públicos, na construção de hospitais de campanha, no apoio às operações em locais distantes do país, na orientação da população, na logística de transporte de medicamentos e de equipamentos, etc.
Gilmar Mendes comete uma injustiça importante ao não reconhecer este fato e associar as consequências nefastas do comportamento obscurantista do presidente diante da pandemia com o que vem fazendo o Exército brasileiro.
Deve-se registrar que, diferente de Bolsonaro, desde o início desta tragédia as FFAA se colocaram ao lado da ciência, conforme ficou atestado no estudo “Crise Covid-19: Estratégias de Transição para a Normalidade”, elaborado pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx) sobre a pandemia do coronavírus.
O estudo foi publicado no site do órgão no início de abril deste ano. Não havia nada neste estudo dos militares que reforçasse o negacionismo de Bolsonaro. Ao mesmo tempo, as tropas eram colocadas a serviço da população para atender as necessidades da luta contra o vírus.
Não há nenhum problema no fato do Ministério da Saúde estar sendo dirigido interinamente por um general. O problema não é este. Afinal, já tivemos ministros que não eram da área da saúde. O fato grave é o presidente da República minimizar o problema da pandemia, desorientar a população, mergulhar de corpo e alma em terapias não confirmadas pela comunidade científica e obrigar os integrantes do governo, incluindo o Ministério da Saúde, a obedecer às suas decisões.
Em suma, é evidente que o ministro Gilmar Mendes não foi feliz ao dizer o que disse. O momento é de criticar quem realmente atrapalha. Mendes não foi preciso ao apontar de quem é a culpa pelo que está ocorrendo no Brasil. No caso da pandemia, o inimigo é o vírus e o incompetente é Bolsonaro. Por isso, não só temos que reconhecer esse erro como perceber que o Brasil terá que contar com muitas pessoas nesta batalha.
O Brasil vai precisar não apenas dos profissionais de saúde, mas também das tropas das FFAA para levar adiante a luta para conter a transmissão desse vírus. Rastrear os suspeitos de infecção e seus contatos e fazer busca ativa de casos para parar esse vírus que está provocando um verdadeiro genocídio em nosso país são atividades que envolvem muita gente.
O Exército brasileiro é um desses setores que podem entrar firme nessa luta. A história do Brasil confirma que as FFAA nunca faltaram ao país em momentos como este e não está faltando agora e, certamente, não faltará no futuro.
SÉRGIO CRUZ