
Enquanto o país inteiro espera uma resposta do governo federal sobre a vacina e ações de combate aos efeitos da pandemia, Bolsonaro voltou ironizar a tortura sofrida pela ex-presidente da República, Dilma Rousseff, no período em que ela foi presa, na década de 1970, durante a ditadura.
Em manifestação nesta segunda-feira (28), direcionada a apoiadores, Bolsonaro, em tom de deboche, pede que mostrem um raio-x da boca de Dilma para provar a fratura na mandíbula provocada pelas sessões de tortura.
“Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X”, afirmou.
Além de atacar a ex-presidente, Bolsonaro falou sarcasticamente dos ex-maridos de Dilma: “O primeiro marido dela, que está vivo, Cláudio Galeno, sequestrou um avião e foi para qual país democrático? Cuba. O segundo, que morreu, Carlos Araújo, (…) falou que passou a lua de mel com Dilma Rousseff assaltando caminhões de carga na baixada fluminense (risos)”.
As falas provocaram reações de repúdio a Bolsonaro no meio político e de solidariedade à ex-presidente.
O ex-deputado federal e presidente do Cidadania, Roberto Freire, escreveu em suas redes sociais se solidarizando com Dilma por essa “indignidade do amante de torturador, Bolsonaro. Desesperado, tenta desviar a atenção das barbaridades atrás de barbaridade.”
“Queremos o raio-x das contas dele, de Michelle, Flávio, Eduardo e Carlos, da relação com Queiroz, Adriano e a milícia. Queremos o raio-x da lavagem de dinheiro via imóveis e lojas de chocolate. Do roubo de milhões de reais em dinheiro público. Do superfaturamento na compra de cloroquina do laboratório do Exército. Da incompetência que deixou o Brasil sem vacina, enquanto centenas morrem por dia”, disse Roberto Freire.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) prestou solidariedade à ex-presidente que “mais uma vez foi vítima de agressões do facínora que ocupa a presidência do Brasil”. Orlando afirmou ainda que tem a “convicção que esse ser funesto sairá do Planalto para o presídio, que é o lugar de um genocida”.
A ex-deputada federal Manuela D’Ávila, candidata a prefeita de Porto Alegre nas últimas eleições, também se solidarizou com Dilma e classificou os ataques Bolsonaristas como fascistas. “O derrotaremos e construiremos um futuro de esperança para o nosso país”, disse.
Em nota, Dilma respondeu às agressões e afirmou que Bolsonaro “não respeita nenhum limite imposto pela educação e pela civilidade, uma exigência a qualquer político, e mais ainda a um presidente da República, desmoraliza mais uma vez o cargo que ocupa”.
Dilma disse, ainda, que “a visão de mundo fascista está evidente na celebração da violência, na defesa da ditadura militar e da destruição dos que a ela se opuseram”.
Na nota, a ex-presidente classifica Bolsonaro como “um sociopata, que não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro”.
Leia a nota da ex-presidente na íntegra:
Jair Bolsonaro promoveu mais uma de suas conhecidas sessões de infâmia e torpeza, falando a um pequeno grupo de apoiadores, nesta segunda-feira, 28 de dezembro.
Como não respeita nenhum limite imposto pela educação e pela civilidade, uma exigência a qualquer político, e mais ainda a um presidente da República, desmoraliza mais uma vez o cargo que ocupa. Mostra-se indigno ao tratar com desrespeito e com deboche o fato de eu ter sido presa ilegalmente e torturada pela ditadura militar. Queria provocar risos e reagiu com sórdidas gargalhadas às suas mentiras e agressões.
A cada manifestação pública como esta, Bolsonaro se revela exatamente como é: um indivíduo que não sente qualquer empatia por seres humanos, a não ser aqueles que utiliza para seus propósitos. Bolsonaro não respeita a vida, é defensor da tortura e dos torturadores, é insensível diante da morte e da doença, como tem demonstrado em face dos quase 200 mil mortos causados pela Covid-19 que, aliás, se recusa a combater. A visão de mundo fascista está evidente na celebração da violência, na defesa da ditadura militar e da destruição dos que a ela se opuseram.
É triste, mas o ocupante do Palácio do Planalto se comporta como um fascista. E, no poder, tem agido exatamente como um fascista. Ele revela, com a torpeza do deboche e as gargalhadas de escárnio, a índole própria de um torturador. Ao desrespeitar quem foi torturado quando estava sob a custódia do Estado, escolhe ser cúmplice da tortura e da morte.
Bolsonaro não insulta apenas a mim, mas a milhares de vítimas da ditadura militar, torturadas e mortas, assim como aos seus parentes, muitos dos quais sequer tiveram o direito de enterrar seus entes queridos.
Um sociopata, que não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro.
DILMA ROUSSEFF