“É o fim do mundo isso. Pra quem é pai e quem é mãe, não tem oxigênio pra bebê? A irresponsabilidade do governo Bolsonaro, me choca isso, como brasileiro”, disse o governador de São Paulo, João Doria
A Secretaria de Estado da Saúde do Amazonas solicitou nesta sexta-feira (15) a transferência para outros estados brasileiros de 60 bebês prematuros internados em maternidades públicas amazonenses, por conta da falta de oxigênio dos hospitais. O sistema de saúde amazonense entrou em colapso após as internações por Covid-19 no estado baterem recorde.
Segundo a secretaria, os recém-nascidos serão transferidos a partir da autorização dos pais e serão acompanhados pelas mães nos voos que estão sendo preparados pelas autoridades locais.
O governo amazonense não informou a quantidade de bebês que serão transferidos, mas disse que “técnicos da secretaria estão trabalhando no planejamento da logística de transferência” e os recém-nascidos “passarão por avaliação clínica” para saber se têm condições de transferência.
Os estados que receberão os bebês transferidos ainda não foram divulgados pelas autoridades amazonenses, mas nesta sexta o governo de São Paulo se ofereceu para receber as crianças e vai disponibilizar leitos e assistência médica para bebês e gestantes internados em Manaus e que correm o risco de ficar sem oxigênio.
De acordo com o governo estadual, o Maranhão deve receber ao menos nove bebês prematuros de Manaus. A informação é do Secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula, que também é presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Os bebês devem chegar ainda nesta sexta-feira (15) no Aeroporto de Imperatriz, no interior do Estado.
O secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse em coletiva de imprensa que tomou conhecimento da necessidade de leitos por meio da imprensa e prontamente entrou em contato com a secretaria da Saúde do Amazonas para oferecer suporte.
IRRESPONSABILIDADE
“Acabo de falar com o secretário de Saúde e São Paulo atenderá integralmente esses 60 bebês. Eu já pedi a ele, ao término da coletiva, para falar com o secretário de estado do Amazonas. Nós acolheremos todos os bebês que puderem ser transportados aqui pra SP. É o fim do mundo isso. Pra quem é pai e quem é mãe, não tem oxigênio pra bebê? A irresponsabilidade do governo Bolsonaro, me choca isso, como brasileiro”, disse João Doria, governador de São Paulo.
“Imediatamente já fizemos contato com o secretário da Saúde do Estado do Amazonas, o doutor Marcellus. Ele está fazendo um levantamento porque vários estados, de forma humanitária, estão acolhendo esses bebês. E não são apenas bebês, mas são também mulheres grávidas. São essas gestantes que também foram comprometidas pelo Covid e que necessitam de assistência. Então desta forma nós queremos saber quantas ainda precisam da nossa assistência e prontamente estaremos acolhendo aqui em SP”, disse Gorinchteyn.
O governo do Paraná também ofereceu leitos de UTI neonatal para pacientes do Amazonas nesta sexta (15). De acordo com a secretaria estadual do Paraná, há a necessidade de transferência de 61 pacientes recém-nascidos.
Os leitos oferecidos ficam em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. São 15 leitos de UTI neonatal no Hospital do Rocio e outros 10 no Hospital Infantil Waldemar Monastier, em Campo Largo.
TRANSFERÊNCIAS
Ao menos 235 pacientes com Covid-19 serão transferidos da rede pública hospitalar de Manaus para outros estados. Um primeiro grupo que estava internado na rede estadual foi removido na manhã de hoje para continuar o tratamento na capital piauiense, Teresina.
Segundo o Ministério da Saúde, as transferências ocorrerão por via aérea e estão garantidos – de imediato – 149 leitos: 40 em São Luís (MA); 30 em Teresina (PI); 15 em João Pessoa (PB); 10 em Natal (RN); 20 em Goiânia (GO); 04 em Fortaleza (CE); 10 em Recife (PE) e 20 no Distrito Federal.
A pasta informou ainda que os pacientes que serão trasladados atendem a critérios clínicos definidos pela equipe médica. O transporte será feito em parceria com o Ministério da Defesa por duas aeronaves da Força Aérea Brasileira com capacidade de 25 pacientes deitados em macas.
RESPIRADORES
Doria anunciou também que irá enviar quarenta respiradores à cidade de Manaus. Segundo o governador, os respiradores que serão enviados são desenvolvidos pela Universidade de São Paulo (USP). Doria disse ainda que o Estado vai oferecer leitos em hospitais públicos e privados para pacientes do Amazonas que puderem ser transportados até São Paulo.
“Solicitei à USP para encaminharmos imediatamente para o Amazonas quarenta respiradores. Quarenta respiradores produzidos na Universidade de São Paulo, demonstrando a capacidade tecnológica desta grande universidade para o atendimento emergencial àqueles que estão sofrendo com a Covid-19 no Estado do Amazonas.”, disse Doria.
“Orientei também o nosso secretário de Saúde a disponibilizar leitos nos hospitais públicos e a gerenciar leitos em hospitais privados para aqueles que puderem ser transportados até São Paulo para o atendimento prioritário”, completou.
Segundo Marcelo Zuffo, professor da USP e responsável pelos equipamentos de suporte à respiração, os primeiros respiradores devem ser enviados ainda nesta sexta (15) para cinco hospitais da capital amazonense. A previsão é a de que todos eles cheguem à região de Manaus até a próxima terça-feira (19).
“Há praticamente dez dias nós estamos em forte interação com cinco hospitais de Manaus: Santa Júlia, Santa Alberta, Delfina, Hospital Adventista e o Beneficência, e foi constituída uma comunidade para receber esses ventiladores e hoje nós começamos a embarcar os primeiros lotes. Até terça da semana que vem nós teremos 40 ventiladores em pleno uso na região de Manaus”, disse Zuffo. “Conseguimos a solidariedade da Latam para encaminhar, transportar e entregar imediatamente à Secretaria da Saúde do Estado do Amazonas esses 40 respiradores. É uma pequena ajuda, mas é um sentimento solidário do estado de SP aos seus irmãos do estado do Amazonas”, disse Doria.