Bolsonaro se irritou com o vice-presidente Hamilton Mourão, que sinalizou a substituição do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, após as eleições das mesas da Câmara e do Senado.
Ele atacou o vice-presidente e o chamou de “palpiteiro”.
Bolsonaro foi questionado sobre as declarações de Mourão no final da tarde da quinta-feira (28) ao chegar no Palácio da Alvorada. Ele disse que não ia comentar, que as perguntas sobre trocas de ministros deveriam ser feitas a Mourão.
Mas, após fazer uma oração com apoiadores, voltou a atacar a imprensa, dizendo que ela gosta de “semear discórdia”.
“Eu sempre digo, se ministro meu for elogiado pela mídia, ele corre o risco de ser demitido. Sem querer generalizar a nossa mídia. Temos bons jornalistas. Mas os figurões da mídia o tempo todo criticam o nosso Ernesto Araújo. O nosso homem que faz as relações públicas com o mundo todo”.
E se dirigiu a Mourão sem nominá-lo:
“Eu lamento que gente do próprio governo agora passe a dar palpites no tocante à troca de ministros. O governo vai indo bem, apesar dos problemas que nós temos, e estou falando da pandemia que realmente deu uma atrapalhada em quase tudo”.
“O que nós menos precisamos é de palpiteiros no tocante à formação do meu ministério. Deixo bem claro que todos os 23 ministros sou eu que escolho e mais ninguém. Ponto final. Se alguém quiser escolher ministro, se candidate em 2022 e boa sorte em 23”, prosseguiu.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, na quarta-feira (27), o vice-presidente apontou que Ernesto Araújo poderia ser trocado no ministério.
“Não resta dúvida que tem alguns ministros que são destaque inconteste pela sua capacidade gerencial e sua visão estratégica. Não preciso citar nomes. Mas o caso específico que você colocou [Ernesto Araújo], na questão das Relações Exteriores, isso é algo que fica na alçada do presidente, né? Eu acho, julgo, não tenho bola de cristal para isso, nem esse assunto foi discutido comigo, que, num futuro próximo aí, após essa questão das eleições dos novos presidentes das duas Casas do Congresso, poderá ocorrer uma reorganização do governo para que seja acomodada a nova composição política que emergir deste processo”, declarou Mourão.
“Então, talvez, nisso aí, alguns ministros sejam trocados e, entre eles, o próprio do Ministério das Relações Exteriores. Então, prefiro aguardar. Até porque esse assunto não foi discutido comigo em nenhum momento, e tudo o que eu puder falar aqui será pura especulação”, concluiu.
Em novembro de 2019 Bolsonaro já tinha dado uma esnobada em Hamilton Mourão dizendo que preferia o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança como seu vice, e não Mourão.
Disse Bolsonaro para o Orleans num evento: “Príncipe, estou te devendo eternamente”. Bragança respondeu: “O que é isso. Deve nada, presidente!”. “Devo sim. Você deveria ter sido meu vice, e não esse Mourão aí. Eu casei, casei errado. E agora não tem mais como voltar atrás”, insistiu.
E em novembro do ano passado, ele voltou a destratar seu vice, após Mourão ter afirmado que Bolsonaro iria esperar o fim do imbróglio na eleição norte-americana para cumprimentar, em nome do Brasil, o presidente eleito nos Estados Unidos, Joe Biden. “Eu julgo que o presidente está aguardando terminar esse imbróglio aí de discussão se tem voto falso, se não tem voto falso, para dar o posicionamento dele. É óbvio que o presidente na hora certa vai transmitir os cumprimentos do Brasil a quem for eleito”, disse Mourão, em conversa com jornalistas ao chegar no edifício da vice-presidência. Bolsonaro foi o último governante a cumprimentar Joe Biden pela vitória sobre Trump.
Novamente, de forma tosca e estúpida, Bolsonaro desautorizou o seu vice-presidente e disse que “nunca conversou sobre assuntos dos Estados Unidos” com Mourão.
“O que ele (Hamilton Mourão) falou sobre os Estados Unidos é opinião dele. Eu nunca conversei com o Mourão sobre assuntos dos Estados Unidos, como não tenho falado sobre qualquer outro assunto com ele”, frisou Bolsonaro.