A paralisação dos caminhoneiros, marcada para o dia 1º de fevereiro, com a categoria dividida e enfrentando oposição de grupos patronais e do setor produtivo, não teve a adesão esperada por sindicatos e confederações, ocorrendo de forma pontual em algumas estradas do país.
O descontentamento com o preço do diesel, a omissão do Governo Federal em relação à tabela do frete mínimo, o alto custo dos pedágios, entre outras reivindicações, é geral na categoria, mas a atuação de grupos bolsonaristas que tentaram pegar carona no movimento para atacar o governador de São Paulo, João Dória, e até o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, a forte repressão policial e orientações de entidades para que se evitassem protestos por conta do coronavírus foram fatores desmobilizadores da paralisação.
Ainda na véspera do dia da greve, o ministro da Infraestrutura do governo, Tarcísio Gomes Freitas, mostrou o total desprezo do governo para pauta de reivindicações da categoria, afirmando em áudios que os caminhoneiros já têm benesses demais, e que devem “desmamar do governo”.
Na véspera do movimento, o próprio Bolsonaro afirmou que não voltaria atrás no reajuste do diesel. “Sabemos o sacrifício dos caminhoneiros. O que mais pesa no bolso deles é abastecer o tanque de óleo diesel. Temos também uma conta alta. É o biodiesel que vai no diesel adicional. Sai muito mais caro e reflete no preço final do combustível. O preço é alto”, disse.
Ainda assim, paralisações e protestos aconteceram em estradas e cidades como Piracicaba, São Pedro, Salto de Pirapora, Castelo-Branco e Votarantim, em São Paulo; Cana Verde, em Minas Gerais; Itatim e Vitória da Conquista, na Bahia; Colinas, no Tocantins; e em Barra Mansa, Volta Redonda e Soropédica, no Rio de Janeiro, além de estradas do Rio Grande do Sul e Paraná.
Segundo a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), “os caminhoneiros foram orientados a ficarem em casa, e, isso, claro, não deu a visibilidade ao movimento de estrada, dando a impressão de ‘normalidade’, porque boa parte ficou em casa”.
As entidades que organizaram o movimento também relatam a forte repressão policial à greve “com grande presença do aparato militar nos principais pontos de concentração mapeados pelo Governo”.
Em João Pessoa, o Sindicato dos Motoristas e Ajudantes de Entregas do Estado da Paraíba (SINDMAE-PB) denunciou que agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apareceram de madrugada no Posto Pichilau na Gauchinha, em João Pessoa, munidos de fuzil e metralhadoras.
A Confederação também denuncia que empresas concessionárias se utilizaram de interditos proibitórios – um instrumento jurídico que está presente na legislação civil do país desde 1973, quando o país vivia sob a ditadura militar, para reprimir os caminhoneiros.
Segundo a entidade, “tal instrumento é utilizado em larga escala no âmbito da Justiça do Trabalho por empresas que buscam evitar os mais diferentes tipos de ações sindicais. A prática é considerada antissindical e tem sido objeto de denúncia junto ao Comitê de Liberdade Sindical da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”.
“Só a nossa Confederação recebeu oito interditos proibitórios de empresas concessionárias de São Paulo, Rio de janeiro, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal, que proibiram a paralisação nas estradas, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia”, afirma a CNTTL.
Para a entidade, “mesmo diante de violência policial e práticas antissindicais, os caminhoneiros mostraram a sua disposição e continuarão a luta para que o presidente Bolsonaro responda à carta [com as reivindicações] da categoria”.