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Vacina já pode ser produzida por empresa nacional. País está atrasado na imunização. Senado aprovou Medida Provisória para acelerar o processo. Não se justifica burocracia em tempos de emergência sanitária. O Brasil precisa ampliar, urgentemente, a cesta de vacinas para imunizar rapidamente toda população
O negacionista Jair Bolsonaro não desiste de colocar empecilhos à urgente vacinação da população brasileira. Nesta sexta-feira (5), ele respaldou o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que ficou inconformado com as críticas de parlamentares de que o órgão não está levando em conta a urgência que o momento exige.
Torres força Bolsonaro a vetar o dispositivo da MP do Senado que concede à Anvisa o prazo de cinco dias para concluir a liberação da vacina, o que agilizaria a liberação da Sputnik V, cuja produção está sob a responsabilidade do laboratório brasileiro União Química em parceria com a Rússia.
O chefe da Anvisa, que participou de aglomerações sem máscara junto com Bolsonaro, foi convidado pelo presidente para participar da transmissão após o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), em entrevista ao Estadão, criticar a falta de agilidade da Anvisa para liberar imunizantes contra a Covid-19. Barros expressou na entrevista a sensação generalizada de que o governo está atrapalhando mais do que ajudando na questão das vacinas.
A “live” presidencial tem sido uma plataforma utilizada pelo Planalto para socorrer ministros e dirigentes de órgãos do governo desgastados na opinião pública.
Ao mesmo tempo que o presidente da Anvisa participava da transmissão ao vivo ao lado de Bolsonaro, no Senado, parlamentares alteravam uma Medida Provisória enviada pelo governo para acelerar a compra da vacina russa Sputnik V. O texto, que vai à sanção presidencial, prevê um prazo menor, de dez para cinco dias, para a aprovação do órgão. Além disso, decide ampliar as agências externas que servem de parâmetro para que a Anvisa conceda autorização excepcional no Brasil. Foram incluídas as agências sanitárias da Rússia, da Argentina e da Coreia do Sul.
O imunizante russo já foi aprovado no seu país de origem, na Argentina e no México. A empresa União Química, que já entrou com um pedido de autorização para uso emergencial da vacina, já pode entregar imediatamente 10 milhões de doses do imunizante para o Programa Nacional de Imunização. Segundo o seu presidente, Fernando Marques, a empresa tem capacidade de entregar 8 milhões de doses do produto para o governo federal, caso a vacina seja aprovada para o uso emergencial. O Brasil está num ritmo muito baixo de imunização (cerca de 2% da população foi vacinada) e toda a sociedade pressiona para que o governo acelere o fornecimento das vacinas.
Sem mostrar nenhuma sensibilidade pelo fato do Brasil já ter atingido a marca de 230 mi mortos pela Covid-19, com uma mortalidade diária superior a mil óbitos, o chefe da Anvisa reclamou que todos estão muito apressados. “Há fatores limitantes”, frisou ele. “A Anvisa é hoje a agência mais rápida do mundo. Não vejo que há que se falar em ainda mais celeridade a ser dada”, disse Barra Torres. “Podemos reduzir uma série de procedimentos regulatórios, torná-los mais enxutos, mais ágeis, mas nunca abrindo mão da segurança”, afirmou.
Todas essas explicações se justificariam caso a Anvisa não estivesse sob pressão de Bolsonaro e dos demais negacionistas do governo que trabalham contra as vacinas. Quem não se lembra da figura patética de Bolsonaro comemorando a morte de uma pessoa que participava dos testes da CoronaVac.
“Mais uma vez Bolsonaro saiu vencedor”, disse Bolsonaro, tendo que apagar a postagem às pressas logo depois que se comprovou que a morte, por suicídio, não tinha relação com a vacina. Naquela oportunidade, a Anvisa agiu de forma açodada e deixou claro que havia aparelhamento do órgão.
SOBERANIA
Os argumentos do médico Gonçalo Vecina, criador da Anvisa, de que o país não pode ter sua soberania desrespeitada, no caso de usar agências estrangerias como referência para a aprovação das vacinas no Brasil, são válidas, é verdade, mas apenas em situação de normalidade, que não é o caso.
Segundo Vecina, é indispensável a obediência aos prazos para que os estudos realizados pelo corpo técnico da Anvisa sejam reconhecidos. É verdade, no entanto, incluir a vacina russa, como a de alguns outros países que são referência na produção de imunizantes, não parece representar qualquer afronta à nossa soberania. A Rússia e o laboratório responsável pela Sputnik está no rol desse reconhecimento internacional.
O fato é que estamos sob uma catástrofe do ponto de vista sanitário, diante da qual temos dois grandes problemas.
Primeiro, a pandemia que está ceifando vidas sem respeitar limites. Segundo, a presença no governo brasileiro de negacionistas que chamam a maior crise sanitária da história de gripezinha.
Os obstáculos interpostos por um governo a uma empresa genuinamente nacional mobilizada e capacitada do ponto de vista técnico para produzir uma vacina reconhecida mundialmente são, no atual quadro de calamidade e de anormalidade, absolutamente inaceitáveis.
Pelo que se viu ao longo da pandemia, tal resistência tem, exclusivamente, uma motivação ideológica, pois a vacina – de origem russa, na mente obtusa e ignorante dos bolsonaristas, deve ter o vírus do comunismo.
Em mais uma prova de que a disposição é de continuar retardando a vacinação, Bolsonaro acenou com a possibilidade de vetar a MP aprovada pelo Senado. “Como a Anvisa pretende interpretar essas questões, se, por exemplo, algum prazo diminuir drasticamente? Porque vai passar por uma possível sanção minha. Eu posso vetar também e, se eu vetar, o Parlamento derrubar o veto. O que eu vou fazer é rapidez para decidir a questão de sanção ou veto”, disse o presidente negacionista.
S.C.