Lote de 2.000 doses da vacina Sputinik V é destinado pela Autoridade Nacional Palestina para imunizar os trabalhadores de saúde na Faixa de Gaza
“Queremos soar o alarme. Hoje (dia 16) a potência ocupante [Israel] bloqueou a entrada na Faixa de Gaza de 2.000 doses de vacinas para enfrentar o coronavírus. São destinados aos profissionais de saúde que atuam na linha de frente, incluindo pessoal em UTIs atendendo pacientes com o vírus”, afirmou Riyad Mansur, observador permanente do Estado da Palestina na ONU.
Em carta enviada ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, Mansur destaca que a desumanidade “se constitui em mais um desrespeito por parte de Israel a suas obrigações de acordo com a 4ª Convenção de Genebra [que regulamenta para prevenir crimes de guerra de potências ocupantes de território alheio]”.
Em flagrante contraste com o tratamento dado aos cidadãos israelenses, com a taxa de vacinação mais alta do mundo (75% da população já vacinada), Israel tem agido de forma criminosa com relação aos palestinos durante a pandemia.
Apesar de ocupar parte dos territórios palestinos desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, em desobediência frontal a resoluções da ONU aprovadas por praticamente a totalidade dos países com acento na ONU, o governo israelense incorre em mais um crime aberto de lesa-humanidade ao se negar a vacinar os palestinos sob seu regime de ocupação.
A alegação do governo israelense é que o território palestino sob jurisdição da Autoridade Nacional Palestina é “autônomo” desde os Acordos de Oslo de 1993 (firmados por Yasser Arafat e Itzhaq Rabin, morto pouco depois por um fanático judeu em Tel Aviv).
Um firula sem-vergonha que cai por terra – como se já não bastasse a negação de socorro quando as condições para tal estão plenamente presentes, para configurar uma ruptura governamental diante de uma crise humanitária – diante do fato de que os Acordos de Oslo, nos quais o governo israelense quer agora se basear – quando lhe parece conveniente como argumento para voltar as costas à dramática situação palestina -, foram e são cotidianamente transgredidos pela potência israelense.
As tropas israleenses circulam pelas terras palestinas e sob apoio governamental escancarado fazem e desfazem. Montam postos de controle policiais-militares, controem muros e erguem cercas, invadem à noite e demolem casas de palestinos ou em construção, sequestram cidadãos, ativistas e deputados palestinos em prisões de milhares em seu território, usurpa terras palestinas para aí construir assentamentos judaicos.
Aliás, os judeus que habitam estes assentamentos estão sendo vacinados diante do olhar dos aldeões vizinhos deixados à sua própria sorte.
Depois de ampla pressão internacional e de organizações sociais e de direitos humanos dentro de Israel, pela liberação de vacinas, o governo israelense queria enviar 100 doses (isto mesmo, 100 doses aos palestinos), a escandalização foi tal que acabou se comprometendo com 5.000, das quais mandaram 2.000, para uma população de 4,5 mihões. A Autoridade Palestina se valeu do envio de mais 10.000 doses da Sputnik V, que chegaram aos territórios palestinos vindas de Moscou, para remeter as 2.000 doses agora retidas pelas tropas da ocupação.
“SEUS FILHOS TERÃO VERGONHA”
O deputado palestino-israelense Ahmed Tibi declarou que até mesmo uma discussão sobre reter vacinas, quando há pessoas que as necessitam com premência, é “chocante”.
“Seus filhos terão vergonha de vocês”, disse Tibi aos deputados que, no parlamento israelense, o Knesset, apoiam a criminosa medida.