O senador e ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), defendeu a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ações do governo Bolsonaro durante a pandemia do coronavírus. “É preciso parar esse cara”, disse em entrevista ao Estadão.
O pedido de abertura da CPI já foi entregue com as assinaturas necessárias ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que agora deve escolher pela sua instalação ou não.
Para Tasso, “esse vai ser o grande teste do Rodrigo, se ele realmente é independente como está dizendo – e eu espero que seja – ou se, para ganhar, se comprometeu até à alma com o Bolsonaro”.
Até agora, Pacheco “colocou meio na gaveta, fez aquela audiência com Pazuello, que foi um desastre, para empurrar com a barriga”.
“Estamos com a possibilidade enorme de ter um caos no Brasil inteiro. Eu acredito que o presidente do Senado é um homem que tem consciência disso”, continuou.
“A comissão de acompanhamento funciona bem, mas não tem consequência nenhuma. CPI é que mostra que tem consequência. O objetivo da CPI não é criar crise, é mostrar que o presidente da República não pode fazer e dizer o que quer, que tem consequências e que vai ser responsabilizado”, argumentou.
“O intuito da instalação da CPI não é nem para punir, mas é para pelo menos parar essa insanidade. Por ser presidente da República, não pode conclamar a população inteira a correr risco de morte sem nenhum tipo de punição”, afirmou.
“Primeiro, há crime contra a saúde pública, isso é claro. Segundo, há crime contra a federação, porque está conclamando a população a fazer o contrário do decreto de um governador do Estado e ainda ameaçando governadores que fizerem isso”
“O pedido de CPI está na mesa do presidente do Senado com as assinaturas. O que eles podem fazer é pedir que senadores retirem assinaturas. Se não, vai ser mais cedo ou mais tarde obrigado a implantar”, argumentou.
O senador afirmou que a CPI pode oferecer denúncias ao Ministério Público. “Primeiro, há crime contra a saúde pública, isso é claro. Segundo, há crime contra a federação, porque está conclamando a população a fazer o contrário do decreto de um governador do Estado e ainda ameaçando governadores que fizerem isso”.
Tasso Jereissati disse também que as sessões virtuais não podem ser um empecilho para a instalação da CPI. “Vai ter argumentação de que é difícil fazer virtualmente. A instalação tem de ser já, mesmo remotamente. Não podemos ficar quietos. Não estamos funcionando remotamente para outras coisas de muita responsabilidade? Não tá a PEC Emergencial aí agora? Não tá a PEC da imunidade na Câmara?”.
BOLSONARO BOICOTOU PREVENÇÃO À COVID-19
Na última sexta-feira (26), Jair Bolsonaro foi ao Ceará para visitar obras. Durante a viagem, não usou máscara, promoveu aglomerações e incitou a população a ignorar as determinações do governo do Estado de fortalecer o isolamento social.
“Dois dias antes, o governador e o secretário da saúde anunciaram toque de recolher e outras medidas. Tudo isso porque estamos pertinho do colapso e com tendência de crescimento da pandemia muito grande. Chega o presidente aqui e vai a um município, junta gente, aglomera gente sem máscara, depois vai para outro e conclama a população a sair de casa”, criticou Tasso Jereissati.
“Além de conclamar, joga uma ameaça: aquele governador que fechar agora tem que pagar o auxílio emergencial. É um esforço enorme para conscientizar a população e o cara vem e conclama o contrário”, continuou.
O governador do Estado, Camilo Santana (PT), disse que é “lamentável que o senhor presidente da República, além de desrespeitar normas sanitárias o tempo inteiro, leve seu tempo a espalhar informações distorcidas e promover discórdia com governadores, quando deveria tentar unir o país para superarmos juntos a gravíssima crise que vivemos”.