O governador de São Paulo, João Doria, cobrou nesta quarta-feira (28) que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha solidariedade e senso de urgência na análise do pedido feito pelo Instituto Butantan para a realização de testes clínicos com a potencial vacina contra Covid-19 desenvolvida pelo instituto, a ButanVac.
“Espero que Anvisa tenha senso de urgência para aprovar a nova vacina”, defendeu Doria, em entrevista coletiva na sede do Instituto Butantan um dia depois de a diretoria da agência, ligada ao governo federal, suspender o prazo de análise do pedido de testes da ButanVac alegando a falta de documentos que deveriam ter sido entregues pelo instituto. Com isso, a previsão inicial de que a vacina pudesse ser aplicada já a partir de julho foi adiada para setembro.
O governador paulista pediu que a Anvisa haja com “menos burocracia e mais solidariedade”, afirmando que a produção da vacina pode chegar a até 100 milhões de doses até o fim do ano, a depender do aval para os testes. A urgência para o início dos testes clínicos do imunizantes se dá diante da necessidade do povo brasileiro por vacinas contra a Covid-19. O país se aproxima das 400 mil vidas perdidas para a doença. Enquanto isso, o governo federal, demonstra sua completa falta de compromisso com o Plano de Imunização, proibindo a importação das doses da vacina russa Sputnik V e barrando o início dos testes da ButanVac.
Doria também anunciou na coletiva que o Butantan começou a produzir o primeiro milhão de doses da ButanVac nesta quarta-feira, e que o início do uso do imunizante dependerá dos resultados dos testes e, posteriormente, da autorização do órgão regulador para aplicação da vacina na população.
“A novidade de hoje é uma notícia significativa para a ciência brasileira e, por que não, mundial: São Paulo começa hoje a produzir a vacina ButanVac”, disse o governador.
O objetivo do Butantan é que as primeiras 18 milhões de doses da vacina, que não depende de insumos internacionais, fiquem prontas na primeira quinzena de junho.
“O Butantan, nesta primeira etapa, vai produzir 18 milhões da dose da vacina pronta para o uso já na primeira quinzena de junho, quando o processo de aprovação da Anvisa for concluído. Evidentemente vamos aguardar a aprovação da Anvisa, mas poderemos aplicar imediatamente a vacina ButanVac em todo o Brasil”, disse Doria.
A ButanVac será fabricada com insumos produzidos totalmente no Brasil e usa a mesma tecnologia do imunizante da gripe, a partir de ovos de galinha.
O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, explicou que a maioria das exigências da Anvisa são relativas ao processo produtivo do imunizante e não ao estudo clínico. Ele criticou a lentidão da diretoria da Anvisa para realizar os questionamentos. “O que queremos da Anvisa é urgência nas suas exigências. O processo original foi submetido em 26 de março. Muitas das questões que vieram são relativas a processo produtivo e não ao estudo clínico, portanto já poderiam ter sido solicitadas”, afirmou Covas.
“Queremos agilidade. Que ela faça as perguntas que tem que fazer no menor prazo possível. Para isso eles são contratados”, continuou.
O Butantan tem prazo de até 120 dias para apresentar as informações solicitadas pela agência. Até lá, o prazo de análise da Anvisa fica interrompido.
Dimas Covas pediu ainda que a Anvisa “ajude o povo brasileiro”.
“A Anvisa tem elementos nas suas mãos para fazer essa análise o mais rapidamente possível e autorizar o início dos estudos clínicos, que é o que queremos. […] Anvisa, nos ajude. Ajude o povo brasileiro a ter mais uma vacina no mais curto tempo possível”, disse.
Entrega da CoronaVac é antecipada
O Butantan também antecipou para a próxima sexta-feira (30), a entrega do lote de 600 mil doses da CoronaVac, prevista inicialmente para 3 de maio.
O presidente do Instituto afirmou ter pedido ao laboratório chinês Sinovac, responsável pelo envio dos insumos ao Brasil, que aumentasse o volume do próximo carregamento de três para seis mil litros, suficientes para a produção de mais 10 milhões de vacinas. Ele também alertou que a segunda dose da vacina deve ser aplicada mesmo depois do prazo inicial de 28 dias caso ocorra atraso.
Resposta a Guedes
Na coletiva, Doria ainda comentou a fala do ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, que criticou a China e a vacina CoronaVac. Segundo Doria, o governo federal ajudaria mais se não falasse mal da China.
“Se o governo federal, e principalmente os ministros, ajudarem não falando mal da China, do governo da China e da vacina da China, já ajuda muito e é uma grande contribuição. Já não bastam as trapalhadas, a incompetência, a falta de planejamento, ainda temos que ouvir o ministro da Fazenda falando mal da vacina que ele tomou. Uma hora depois ele afirma: ‘eu tomei a CoronaVac’. Duas doses da vacina. Uma hora antes ele falou mal da vacina, desqualificou a vacina e ainda criticou a China. Disse que o vírus foi produzido na China. Ora, ministro. Fique na sua competência, se é que possuí, na área econômica. Não venha dar palpite na área da Ciência. Não é o seu campo. Não é sua área de conhecimento”, afirmou.
Atualmente, a vacina CoronaVac, é a responsável por cerca de 80% das pessoas vacinadas no Brasil — o próprio Guedes tomou a vacina. O restante das vacinas aplicadas no Brasil são imunizantes desenvolvidos pela parceria entre o laboratório Astrazeneca e a Universidade de Oxford.