Aziz confirmou que Pazuello será reconvocado e advertiu: “Manda ele sem habeas corpus lá… Ele [Pazuello] não vai brincar mais com a CPI e a população brasileira, ele não tirará mais essa graça. Não foi desrespeito a mim e aos senadores, foi desrespeito à sociedade brasileira”
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), avalia que os depoimentos e documentos obtidos pela Comissão provam que o governo Bolsonaro “nunca apostou na vacina. Apostou na imunização de rebanho e no tratamento precoce”.
“A aposta do governo – e eu que estou afirmando – era do tratamento precoce, era da imunização de rebanho. Nunca foi na imunização através das duas doses para cada brasileiro, o que teria evitado muitas mortes e estaria evitando neste momento”.
Omar Aziz disse que servem como prova os fatos de que o governo Bolsonaro não respondeu os emails da Pfizer, que oferecia 70 milhões de doses de vacina a partir de dezembro de 2020, lançou o aplicativo TrateCov, que orientava o uso de cloroquina em todos os infectados pelo coronavírus, e estudou mudar a bula da cloroquina para incluir o tratamento contra a Covid-19, ignorando a Ciência.
“No meu entendimento, o Brasil nunca apostou na vacina. Apostou na imunização de rebanho, no tratamento precoce e chegou ao ponto de criar um aplicativo, chamado TrateCov, e usou a cidade de Manaus como cobaia”, disse.
Em entrevista ao UOL, Omar contou que o presidente mundial da Pfizer enviou uma carta para Jair Bolsonaro, em agosto de 2020, oferecendo doses de vacinas e preferência na distribuição do imunizante. A carta ficou dois meses sem ser respondida.
“A carta já tinha dois meses e ninguém tomou providência nenhuma, ninguém teve a mínima vontade de ligar de dizer ‘nós temos interesse de comprar vacina’. Aí o ministro Pazuello vai lá, diz que tava negociando, diz que tinha correspondência, que nós até hoje não recebemos”.
“Recebemos as correspondências feitas pela Pfizer, mas não as do Ministério da Saúde, que ele [Pazuello] diz que tem. Estamos esperando isso, já solicitamos”.
A Pfizer entregou para a CPI dez emails que enviou para o governo Bolsonaro, nos quais fez ofertas de milhões de doses de vacina e depois pedia uma resposta.
“Recebemos as correspondências feitas pela Pfizer, mas não as do Ministério da Saúde, que ele [Pazuello] diz que tem. Estamos esperando isso, já solicitamos”.
Em depoimento, no qual deveria falar a verdade, Pazuello disse que, independente de não ter respondido os emails da Pfizer, a negociação corria. Ele não provou até agora.
Omar Aziz confirmou, durante a entrevista, que o ex-ministro Pazuello será reconvocado para depor na CPI e que, caso não esteja protegido por um habeas corpus preventivo e continue mentindo, “sairá algemado”.
“Manda ele sem habeas corpus lá… Ele [Pazuello] não vai brincar mais com a CPI e a população brasileira, ele não tirará mais essa graça. Não foi desrespeito a mim e aos senadores, foi desrespeito à sociedade brasileira”.
O presidente da CPI disse, ainda, que não haverá espaço para mentiras na CPI. “Não espere que eu tenha paciência. Se eu, amanhã, tomar a decisão de prender um depoente mentiroso, tenha certeza que a CPI não acabará. Acabaria [caso tivesse prendido Fabio Wajngarten] porque estava no início. Hoje não, está consolidada”.
Se alguém mentir sob juramento, “não tenha dúvida de que sairá preso de lá”.
No primeiro depoimento, Eduardo Pazuello disse que nunca foi desautorizado por Jair Bolsonaro para não comprar vacinas, sendo que Bolsonaro chegou a publicar nas redes sociais que não iria comprar a “vacina chinesa do João Doria”, e que nunca lançou o aplicativo TrateCov, mesmo que isso tenha sido noticiado na TV Brasil.
“O que nós ouvimos, principalmente do ministro Pazuello, parece que eles isentam o tempo todo o presidente de qualquer responsabilidade, principalmente na compra de vacinas”.
“Para cada fato ele criou uma versão. Ele cria uma versão sobre a vacina, o presidente diz ‘quem manda sou eu, não vou comprar essa vacina chinesa’ e ele chega na CPI e diz que o presidente nunca desautorizou para não comprar vacina”.
“Até as pessoas que são fanáticas e que apoiam o atual presidente sabem que ele [Pazuello] mentiu”, continuou.
AGLOMERAÇÃO SEM MÁSCARA
No domingo (23), o ex-ministro Eduardo Pazuello participou de uma manifestação bolsonarista no Rio de Janeiro. Ao lado de Jair Bolsonaro, Pazuello se aglomerou e ficou sem máscara. À CPI, Pazuello tinha dito que defende que as pessoas não devem se aglomerar e devem usar máscara para se prevenir do coronavírus.
Para Aziz, Bolsonaro e seus seguidores no domingo “eram os motoqueiros do apocalipse. Houve aglomeração e pode causar a morte de pessoas. Qual era o objetivo daqueles motociclistas?”
Pazuello já tinha sido fotografado dentro de um shopping, em Manaus, sem máscara, mas disse que caminhou poucos metros desprotegido porque estava indo comprar uma máscara nova.
Omar Aziz disse que Pazuello subiu no caminhão de som e tirou a máscara “consciente” do que estava fazendo. “Eu não vi ninguém lá em cima vendendo máscara”.
Jair Bolsonaro organizou um “passeio de moto” para espalhar mais o vírus. Para Aziz, “eram os motoqueiros do apocalipse. Houve aglomeração e pode causar a morte de pessoas. Qual era o objetivo daqueles motociclistas?”.