Aliado de Bolsonaro, Caboclo tentava afastar Tite da Seleção após críticas à realização da Copa América no Brasil em meio à pandemia e às 470 mil vidas perdidas para o coronavírus
O Comitê de Ética da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aprovou o afastamento por 30 dias de Rogério Caboclo da presidência da entidade. A decisão foi tomada na noite deste domingo (6) após denúncia de assédio sexual e moral contra uma funcionária.
O vice-presidente mais velho, Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, assumirá a presidência da CBF durante o período de afastamento e uma reunião na entidade no Rio de Janeiro na segunda-feira (7), com diretores e vice-presidentes, deve definir detalhes dos próximos passos.
As acusações contra Caboclo foram reveladas pelo site Globo Esporte. A funcionária denuncia que o dirigente a chamou de “cadela” e tentou forçá-la a comer um biscoito de cachorro. Em outra oportunidade, perguntou se ela se masturbava. Durante reunião com outros dirigentes da CBF, o presidente teria inventado relacionamentos da funcionária com pessoas ligadas à entidade. A vítima afirma que, durante todas essas condutas, Caboclo estava embriagado. Ela disse ainda que ele a orientava a esconder garrafas de bebida na entidade, para que pudesse consumir durante o expediente.
Essas denúncias já haviam sido narradas pela funcionária a superiores hierárquicos anteriormente, mas nenhuma providência foi tomada. Ao narrar o assédio, a funcionária pediu afastamento do cargo por motivo de saúde. “Tenho passado por um momento muito difícil nos últimos dias. Inclusive com tratamento médico. De fato, apresentei uma denúncia ao Comitê de Ética do Futebol Brasileiro e à Diretoria de Governança e Conformidade, para que medidas administrativas sejam tomadas”, afirmou a funcionária ao site. Caboclo nega as acusações.
Copa América
O afastamento do presidente da CBF acontece num momento em que jogadores e comissão técnica da Seleção se manifestam contrários à realização de uma edição da Copa América em meio à pandemia de coronavírus que já matou mais de 470 mil brasileiros. Cabloco se aliou a Bolsonaro para trazer o torneio para o Brasil após a recusa da Argentina e Colômbia em virtude da crise sanitária.
Em entrevista coletiva na noite da quinta-feira (3), Tite confirmou as conversas internas na Seleção, mas evitou falar sobre o desejo dos atletas. “Temos uma opinião muito clara e fomos lealmente, numa sequência cronológica, eu e Juninho, externando ao presidente qual a nossa opinião. Depois, pedimos aos atletas para focarem apenas no jogo contra o Equador. Na sequência, solicitaram uma conversa direta ao presidente. Foi uma conversa muito clara, direta. A partir daí, a posição dos atletas também ficou clara. Temos uma posição, mas não vamos externar isso agora. Temos uma prioridade agora de jogar bem e ganhar o jogo contra o Equador. Entendemos que depois dessa Data Fifa as situações vão ficar claras. Depois desses dois jogos, vou externar a minha posição”, garantiu o treinador.
Na sexta-feira (4), o capitão da Seleção, o volante Casemiro, foi o primeiro jogador da equipe a se manifestar publicamente sobre a crise. Após a vitória por 2 a 0 sobre o Equador, Casemiro afirmou que os jogadores querem falar sobre o assunto, mas “no momento oportuno”, prometendo uma posição pública após a partida de terça-feira, contra o Paraguai, também pelas Eliminatórias.
“Nosso posicionamento todo mundo sabe, mais claro impossível, Tite deixou claro nosso posicionamento e o que nós pensamos da Copa América. Existe respeito e uma hierarquia que temos que respeitar, e claro que queremos dar nossa posição”, disse ele ao deixar o campo.
Caboclo prometeu a Bolsonaro a substituição de Tite
As críticas de Tite à realização da Copa América o transformaram em alvo dos bolsonaristas e, na tentativa de agradar Bolsonaro, Caboclo garantiu que, no que dependesse dele, a Seleção teria um novo técnico na competição: o bolsonarista Renato Gaúcho.
Desde que externou sua posição, Tite passou a ser atacado por defensores de Bolsonaro nas redes sociais, chegando a ser chamado, inclusive, de “comunista” por não negar a existência da pandemia.
Segundo o jornalista Eduardo Rizek, “o governo ouviu uma resposta tranquilizadora de Caboclo no sábado: Tite será demitido, e um novo técnico, Renato Gaúcho, fará uma convocação com os principais jogadores para a Copa América. Usará como argumento, inclusive, o fato de estar chegando e precisar do torneio para montar um time, a um ano e meio da Copa do Mundo”.