O faturamento da farmacêutica EMS pela venda de ivermectina, um antiparasitário, subiu mais de 3.000% por conta da propaganda feita por Jair Bolsonaro de que o medicamento tem efeito contra a Covid-19, o que não tem nenhum embasamento científico.
O crescimento na venda é comprovado por documentos entregues à CPI da Pandemia.
O faturamento da empresa com outras substâncias que também são propagandeadas pelos negacionistas do governo Bolsonaro subiu oito vezes e chegou a R$ 142 milhões durante 2020.
Em 2019, antes da pandemia, o faturamento da EMS com a venda de ivermectina foi de R$ 2,2 milhões. Em 2020, esse valor subiu para R$ 71,1 milhões.
A empresa também produz hidroxicloroquina, azitromicina e nitazoxanida. No primeiro caso, a fabricação na EMS começou em setembro de 2019, o que impede a visualização do crescimento na venda durante a pandemia.
A EMS vendeu R$ 20,9 milhões em hidroxicloroquina em 2020. A previsão da empresa é acabar 2021 tendo vendido R$ 31 milhões da substância.
Cloroquina e hidroxicloroquina são as substâncias mais citadas por Jair Bolsonaro por supostamente serem milagrosas e atingirem o coronavírus. Ele mostrou a caixa do medicamento inúmeras vezes e tentou até mesmo entregá-la às emas do Palácio do Planalto, que correram.
Entretanto, a própria EMS disse que falta “respaldo científico” para o uso de hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19. A empresa disse que apoiou pesquisas para verificar o efeito da substância em pacientes infectados e que os resultados demonstraram, em todas as circunstâncias, que o medicamento não ajuda no tratamento.
O estudo realizado pela New England Journal of Medicine, patrocinado pela EMS, “concluiu que o uso de hidroxicloroquina, sozinha ou associada com azitromicina, não mostrou efeito favorável na evolução clínica de pacientes adultos hospitalizados com formas leves ou moderadas de Covid-19”, disse a farmacêutica.
Em abril de 2020, Jair Bolsonaro ligou para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para pedir a liberação de exportação dos insumos necessários para que a EMS e a Apsen – citadas nominalmente por Bolsonaro – conseguissem produzir cloroquina no Brasil.
As duas empresas são chefiadas por bolsonaristas. Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Pandemia, com essa interferência Bolsonaro “praticou advocacia administrativa, em outras palavras: lobby”.
O faturamento, em 2020, da EMS com azitromicina foi de R$ 46,2 milhões; com hidroxicloroquina foi de R$ 20,9 milhões; com nitazoxanida foi de R$ 3,67 milhões. Nenhum dos medicamentos tem eficácia comprovada no tratamento de Covid-19.
Os documentos enviados pela EMS à CPI da Pandemia comprovam que a produção de medicamentos do chamado “kit Covid”, como cloroquina, ivermectina, azitromicina e nitazoxanida, cresceu nove vezes com a pandemia.
Enquanto boicotava o distanciamento social decretado nos Estados e municípios e ignorava dezenas de ofertas de milhões de doses de vacina, feitas pela Pfizer e pelo Instituto Butantan, Bolsonaro apostava no chamado “tratamento” precoce com cloroquina e outros medicamentos.
Em janeiro, quando Manaus sofreu com o colapso do sistema de saúde por conta da alta no número de casos de Covid-19, o Ministério da Saúde, na época chefiado pelo general Eduardo Pazuello, enviou médicos para palestrar e fazer propaganda da cloroquina.
Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério, que é conhecida como “Capitã Cloroquina”, chegou a lançar, na época, um aplicativo chamado TrateCov, que recomendava o uso de cloroquina por todos os pacientes com Covid, independente da idade ou da gravidade da infecção.