O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, participaram, na quinta-feira (1), do 1º Debate dos Presidenciáveis do Centro Democrático, organizado pelo Estadão e pelo Centro de Liderança Política (CLP).
O debate foi intermediado por Luiz Felipe D’Ávila, do CLP, e teve perguntas feitas pelos jornalistas do Estadão, além outras feitas entre os participantes.
Os três presidenciáveis concordaram que a política deve ser feita com diálogo e respeito à Constituição Federal, diferentemente do que pratica Jair Bolsonaro.
Eduardo Leite comentou que a crise do governo Bolsonaro e as denúncias que estão sendo feitas pela CPI da Pandemia podem levar Jair Bolsonaro ao impeachment.
“A gente não pode banalizar impeachment, mas a gente também não pode deixar que banalize a Presidência da República”. A CPI, “investigando fatos e informações muito graves em relação à pandemia, merece ter toda a atenção para, se for o caso e inevitável, dar curso a um processo de impeachment”.
Leite também condenou o governo Bolsonaro “pela mais do que omissão da liderança maior da nação, uma liderança no sentido contrário. Se fosse apenas omissão já seria ruim, mas [Bolsonaro] enfrentou, foi contra, as medidas necessárias para salvar vidas”.
Luiz Henrique Mandetta, que é médico, disse que a maior arma para combater um vírus sempre foi a vacina. “81 emails da Pfizer oferecendo vacina e falavam [o governo Bolsonaro] que US$ 10 era muito caro. Agora na CPI, aparece que a Covaxin, que não tinha nem fase 2, quiçá 3, foi comprada a US$ 15”.
“Isso é crime. Nos privar da vacina, atrasar as vacinas e partirem para negociata com as vacinas me parece que é o crime principal deste governo”, afirmou.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Tema recorrente no debate foi a retomada do desenvolvimento econômico do Brasil para além da crise causada pela pandemia.
Ciro Gomes, que também foi ministro da Fazenda, disse que precisam ser tomadas algumas providências de curto prazo. Entre elas, citou “ir em socorro das famílias endividadas” e “ir em socorro das seis milhões de micro e pequenas empresas na ante sala de quebrar”. “Esse é o principal motor da atividade econômica privada: o consumo das famílias e o investimento empresarial privado”.
O ex-ministro acredita que a política neoliberal, baseada na abertura do mercado e diminuição do investimento, praticada nos últimos trinta anos já mostrou que é incapaz de trazer desenvolvimento.
“Se a gente seguir repetindo esses truísmos, de fazer do Brasil o bom moço internacional que aí vamos ser socorridos pelo dinheiro estrangeiro… Nunca houve isso na história da humanidade”, disse Ciro Gomes.
“Jamais se sustentou desenvolvimento com dinheiro dos outros. A tarefa é nossa e há como se fazer”, firmou.
“O desenvolvimento brasileiro pede a restauração da capacidade de investimento da sociedade brasileira. Hoje, nós temos a menor taxa de formação bruta do investimento da história brasileira, está atolado em 15%”, acrescentou.
“Hoje, o grande câncer nas contas públicas é juros e a taxa de juros brasileira é a maior há 26 anos. Nós precisamos criar uma condição de conta pública que essa taxa de juros deixe a economia brasileira competitiva com o mundo.”.
O governador Eduardo Leite disse que “a vacinação é um dos primeiros passos para que a gente possa ter uma retomada da economia”.
Em seguida, comentou que o pilar para o desenvolvimento deve ser o “compromisso claro com o equilíbrio fiscal”, pois, segundo ele, o déficit nas contas públicas “afugenta os investimentos pela elevação da taxa de juros necessários para rolar a dívida e desestimula o crescimento no Brasil”. Leite também defendeu uma reforma tributária para resgatar a produtividade.
“Nos últimos anos, o Brasil não cresceu nada. Houve uma recessão profunda em 2015 e 2016, andamos de lado em 2017, 2018 e 2019 e caímos novamente com a crise da pandemia”.
“A gente precisa aumentar a taxa de crescimento a longo prazo. A gente precisa de investimento privado”.
Mandetta disse que o equilíbrio fiscal e uma reforma tributária “que seja menos complexa, sem aumentar a carga tributária”, e “que não onere o investimento na ponta que gera emprego” devem ser implementados e podem ser industrializantes.
O deputado federal defendeu “colocar o crédito e o estímulo nos setores mais afetados” pela pandemia e manter políticas de auxílio para a população.
“Vamos ter que fazer transferência de renda por um bom tempo porque as pessoas estão passando fome, com insegurança alimentar.
CRISE ENERGÉTICA
A jornalista Adriana Ferraz perguntou para Luiz Henrique Mandetta, com comentário de Ciro Gomes, sobre a crise energética que se está montando, sem que o governo Bolsonaro faça nada a respeito, e o impacto na vida da população.
Para Mandetta, a crise energética “vai impactar o estômago, o bolso. A gente precisa de diversificação de matriz energética. Energia é uma das válvulas de saída para aquecer a economia com matrizes mais baratas”, como a solar, eólica e de biomassa.
O aumento do preço da energia “vai ser mais um golpe numa população que já vem machucada, com perda de renda, com indústria necessitando de energia”, continuou.
Ciro Gomes concordou que “o Brasil tem que diversificar o projeto energético a partir de energias limpas” e acrescentou que o desmatamento da Amazônia também tem efeito nas secas ao redor do Brasil.
“Estamos vivendo recordes sobre recordes de desmatamento na Amazônia. A chuva do sul e do sudeste vem de rios aéreos que se formam pela evaporação da Amazônia”. Ciro disse que o compromisso com a preservação da Amazônia também pode ajudar a resolver o problema.
SAÚDE
Em pergunta feita por Túlio Kruse, os presidenciáveis discutiram as ações de defesa e fortalecimento da saúde pública do país.
Para Ciro, “o SUS [Sistema Único de Saúde] tem que ser defendido por quem tem solidariedade pelas pessoas mais pobres. Ai de nós, brasileiros, se não fossem os profissionais de saúde e a generosidade do SUS… Entretanto, é um sistema muito bem intencionado que já tem trinta anos. Ele precisa de aperfeiçoamentos”.
“O primeiro é a questão da gestão do SUS. Não podemos falar de aumento de recursos sem estabelecer uma lógica”. O ex-governador cearense afirmou que pretende, como presidente, informatizar o sistema para “otimizar o dinheiro que já se aplica hoje”.
Ciro Gomes acredita que o Brasil precisa formar mais médicos de atenção básica, para que não precise “importar médico de Cuba”, e desenvolver o complexo industrial da saúde, uma vez que dependemos de insumos e produtos estrangeiros para manter as atividades.
Eduardo Leite disse que o equilíbrio fiscal também é pré-requisito para o bom funcionamento da saúde pública. “O SUS pressupõe a baixa, com o atendimento nas unidades de saúde, a média complexidade, e aí temos que implementar mais fortemente a telemedicina, e a alta complexidade, que precisamos garantir o financiamento”.
Mandetta, que foi ministro da Saúde até ser demitido por Bolsonaro por defender a ciência e medidas de distanciamento social, disse que “o SUS faz parte do pacto federativo” e “a primeira maldade que fizeram na condução dessa pandemia, que é responsável por esse resultado desastroso, foi a quebra do pacto federativo”.
“O governo federal saiu do controle da pandemia, não queria que se falasse no assunto” e “quis se ausentar para apontar o dedo sistematicamente para governadores e prefeitos, transferindo a responsabilidade de medidas duras que tinham que ser feitas para preservar vidas”.
Mandetta disse que Jair Bolsonaro permitiu o desmanche de equipes técnicas, com o qual foram tirados funcionários de carreira para “pôr peças que não tinham experiência. Faltou plano de comunicação, faltou credibilidade, faltou transparência nos atos”.
Eduardo Leite ressaltou que no “momento de crise é quando mais se precisa de liderança. Governante não pode se esconder e, menos ainda, semear a discórdia. O presidente precisa ser o presidente de todos, conversar com aqueles que divergem dele também”.
Assista o debate na íntegra: