Cristiano Carvalho disse à Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado que foi Luiz Paulo Dominghetti quem o procurou atrás de vacinas
O vendedor da Davati, Cristiano Carvalho deu, à CPI da Covid-19, nesta quinta-feira (15), versão completamente diferente à negociação com o governo federal por doses da vacina AstraZeneca.
Carvalho disse que foi Luiz Paulo Dominghetti quem o procurou atrás de vacinas. Segundo o depoente, o policial militar de Minas Gerais dizia ter demanda do Ministério da Saúde por vacinas e estava atrás de fornecedor.
A declaração vai de encontro ao que disse Dominghetti à CPI, em depoimento em 6 de julho. O cabo da PM mineira afirmou que Carvalho havia delegado a ele a missão de oferecer ao Ministério da Saúde as vacinas da AstraZeneca que a Davati dizia ter.
A informação de que havia a demanda do governo federal por imunizantes, disse ele, foi reforçada por conversas que teve com outras pessoas que falavam em nome do governo federal. Entre elas, o ex-diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias.
TRATATIVAS PROFISSIONAIS
“Comigo, ele [Roberto Dias] sempre tratou profissionalmente. Ele se apresentou, falou que falava em nome do governo federal e queria saber como era feita essa aquisição, como era pago. Tive poucas conversas com ele.”
Cristiano Carvalho acrescentou que, a ele, Roberto Dias jamais falou de propina. Dominghetti fez essa denúncia em relação ao mesmo ex-servidor do ministério. De acordo com o policial militar, em denúncia publicada pelo jornal Folha de S.Paulo e repetida na CPI da Covid-19, Dias pediu US$ 1 para cada dose de vacina comprada pela União.
Carvalho declarou também que não é CEO (diretor executivo) da Davati Medical Supply no Brasil e sequer tem vínculo empregatício com a empresa norte-americana. Mas admitiu ter exercido a função de aproximar a companhia de autoridades brasileiras que tinham interesse de comprar vacinas.
REUNIÃO NO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Cristiano Carvalho afirmou que Dominghetti e o reverendo Amilton Gomes de Paula, da ONG Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários) foram os responsáveis por levá-lo a reunião no Ministério da Saúde, em 12 de março deste ano.
Ele citou que, além do Ministério da Saúde, a Davati negociou imunizantes com o governo de Minas Gerais. De acordo com o representante da Davati, Luiz Paulo Dominghetti o procurou pela primeira vez no início de 2021. “Ele me mandou e-mail em 10 de fevereiro se apresentando: ‘Oi, sou Dominghetti’. Até então, eu o desconhecia.”
“Ele [Dominghetti] se empenhou muito na venda das vacinas. Fez um trabalho muito grande com a Senah”, observou Carvalho, ao comentar que sequer sabia que o autor da denúncia de um pedido de propina por parte do Ministério da Saúde exercia também a atividade de policial militar.
Segundo Carvalho, ele, Dominghetti e o reverendo foram à ONG, Instituto Força Brasil, do coronel Helcio Bruno, pouco antes da reunião com o governo federal.
“Fui receoso, inclusive, nunca quis ter um envolvimento com o governo federal. Mas os traços de veracidade que chegavam até mim por eles me davam a entender que realmente havia essa demanda do governo federal.”
Helcio Bruno seria colega de turma do ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, que estava na reunião do dia 12 de março.
M. V.