Novos depoimentos ficam para agosto. Nesse período em torno de 15 dias, a CPI promete analisar muitos documentos relevantes que poderão ajudar nas investigações. E também definir estratégias de atuação para reta final dos trabalhos da comissão
Os membros da CPI da Covid-19 no Senado vão continuar os trabalhos durante o recesso no Congresso Nacional para analisar documentos recebidos em mais de 1.800 remessas. Para eles, a rigor, não vai haver pausa nos trabalhos do Legislativo.
Em coletiva à imprensa, no início desta semana, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chegou a brincar com os jornalistas: “Vocês não terão folga!”.
“Estamos trabalhando na perspectiva de que o recesso não seja um período em que não se faça nada. Vamos pedir ao presidente do Senado [Rodrigo Pacheco (DEM-MG)] para que as assessorias possam funcionar e que haja acesso a todo esse material que já foi coletado. A ideia é aproveitar o período para atualizar as informações que já chegaram”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE), membro da CPI.
O recesso do Poder Legislativo vai de 18 a 31 de julho. Assim, a votação de requerimentos e tomada de depoimentos de testemunhas e investigados serão retomados em 3 de agosto, uma terça-feira.
AS CONEXÕES DA ASTRAZENECA
Marcelo Blanco e o reverendo Amilton Gomes de Paula, da ONG (organização não-governamental) Senah serão ouvidos no âmbito da intermediação para negociar vacinas da AstraZeneca em nome do governo.
Marcelo Blanco teria sido a pessoa que apresentou o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, Luiz Paulo Dominghetti Pereira, representante da Davati Medical Supply, ao ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Dominghetti acusou Dias de pedir propina de US$ 1 por dose.
Os representantes das gigantes de tecnologia Google e Facebook devem ser convocados, mas ainda não há data definida.
PAUSA PARA RETOMADA
Essa pausa de em torno de 15 dias nos trabalhos da CPI é bem-vinda, principalmente para os senadores, que poderão nesse período organizar as estratégias da reta final dos trabalhos investigativos.
Desse modo, é necessário fazer com que a “parte 2” da investigação “apresente aos brasileiros as respostas às questões cruciais e se preocupe em assegurar que, uma vez configurados crimes, esses sejam bem demonstrados e tipificados”, escreveu a jornalista Vera Magalhães na coluna dela no jornal O Globo de sexta-feira (16).
PRORROGAÇÃO DOS TRABALHOS
Com a prorrogação da CPI, em mais 90 dias, contados a partir de 7 de agosto, quando os primeiros três meses de trabalho da comissão se encerram, os senadores pretendem se concentrar na rede de desinformação comandada pelo governo Bolsonaro.
O objetivo é deixar essa investigação por último para relacionar o atraso de compras de vacina com corrupção ao mesmo tempo em que a população recebia recomendação de usar remédios ineficazes para tratar doentes com Covid-19.
O resultado disso verifica-se em números trágicos para o Brasil. O escore deste sábado (17) está contabilizado em 541.456 mortes por Covid-19.
VIAGENS
A realização de viagem ao Paraguai está em avaliação pelos senadores. O objetivo é a investigação da Precisa Medicamentos, do lobista Francisco Emerson Maximiano, empresa que intermediou a compra da vacina indiana Covaxin. No Paraguai, a Precisa também é acusada de intermediar a venda de vacinas e não cumprir o contrato.
Outra viagem que os senadores avaliam é ao Rio de Janeiro para realizar audiência sigilosa com o ex-governador Wilson Witzel. Requerimento neste sentido foi aprovado. O ex-governador depôs na CPI em 16 de junho e prometeu revelar, reservadamente, a existência de máfia que controla os hospitais federais do Rio de Janeiro.
MAIS TRÊS MESES DE INVESTIGAÇÕES
A CPI foi instalada no Senado, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), em 27 de abril.
A segunda fase dos trabalhos da comissão vai ser retomada em 3 de agosto. Isso porque, as investigações foram prorrogadas em decisão tomada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na última quarta-feira (14), quando leu em plenário o requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), com esse objetivo.
O pedido de Randolfe para prorrogar as atividades da comissão foi assinado por 34 senadores, sete a mais do que determina o regimento do Senado.
Desse modo, até o início de novembro, a CPI promete lançar luz nesses intricados e obscuros movimentos do governo Bolsonaro em torno da horrível gestão pandemia, que fez o Brasil ser o segundo em mortes por Covid-19.
M. V.