Vídeo também mostra que Pazuello mentiu na CPI sobre a oferta do consórcio de vacinas Covax Facility, liderado pela OMS
Um vídeo de uma das reuniões do Planalto obtido e divulgado pela revista Crusoé comprova que Bolsonaro foi o responsável direto pelo atraso do governo brasileiro na adesão ao consórcio de vacinas Covax Facility, liderado pela OMS, no momento em que o país mais necessitava de vacinas.
Durante uma reunião interministerial em setembro do ano passado, faltando três dias do prazo final para que o país formalizasse seu ingresso no consórcio, a subchefe adjunta de política econômica da Casa Civil, Talita Saito, expressou a posição criminosa de Bolsonaro sobre a vacina do consórcio.
“Eu bato sempre nessa tecla porque é importante deixar muito claro que essa decisão ainda não foi tomada. O presidente da República ainda não se posicionou sobre a entrada no Brasil no instrumento”, declarou a assessora do então ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto.
Talita ainda lembrou que, apesar da intenção inicial de vacinar 20% da população com imunizantes adquiridos via consórcio, o Ministério da Saúde desistiu de metade das doses inicialmente solicitadas.
Somente no final de setembro o Brasil formalizou sua adesão ao Covax Facility com a aquisição de doses para somente 10% da população, quando poderia imunizar 50% dos brasileiros com a vacina do consórcio.
Naquela ocasião, a pandemia no Brasil ainda estava no ápice com muitos óbitos e a alguns meses de acontecer uma nova onda ainda mais devastadora, como realmente aconteceu no início de 2021.
No início de janeiro deste ano, a pandemia recrudesceu gravemente no país, especialmente em Manaus, no Amazonas, onde os hospitais lotaram de vítimas da Covid-19 e houve falta de oxigênio. Muitas pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio sem que o governo tomasse providências para resolver a crise.
Enquanto isso, o governo estava envolvido em propagar o inútil “tratamento precoce” à base de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e outras drogas sem utilidade para combater a Covid-19. Hoje, o país amarga a marca trágica de quase 550 mil óbitos pela Covid-19.
Em vez de combater a pandemia com vacinas e medidas de prevenção, Bolsonaro sabotou enquanto pôde as vacinas e as medidas de prevenção tomadas por governadores e prefeitos e chanceladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Só aceitou comprar vacinas quando se viu isolado e pelas ações do Instituto Butantan com sua parceria com a chinesa Sinovac, produtora da CoronaVac.
A CPI da Covid-19, criada para investigar essas irregularidades do governo federal, já tem farto material que comprovam a sabotagem do governo federal ao combate da pandemia.
Para a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o tratamento dado por Bolsonaro no caso da compra das vacinas do Covax Facility foi um “omissão dolosa” e configura crime de responsabilidade.
“Nós estamos falando de omissão dolosa em relação à saúde pública, o que está na lei de crimes de responsabilidade como um dos itens que nos permite abrir lá na Câmara dos Deputados um processo de impeachment”, afirmou Simone Tebet.
“Falta de vacinas no Brasil não é problema de preço, está mais relacionada à incompetência do governo federal. Os vídeos acessados pela revista Crusoé demonstram isso. Eles mostram a responsabilidade do presidente Bolsonaro pela falta de vacinas durante o período mais crítico da pandemia, resultando em milhares de mortes no país. Bolsonaro está brincando com os brasileiros”, disse a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).
O governo usou como desculpa para recusar a adesão à grande oferta de vacina do consórcio da OMS o falso argumento de que se tratava de uma negociação “nebulosa”.
O Ministério da Saúde era dirigido por Eduardo Pazuello na ocasião. Em seu depoimento na CPI, ele mentiu e disse que a dose foi oferecida inicialmente ao Governo Bolsonaro pela Covax por US$ 40. Segundo ele, aderir às vacinas do consórcio era um “negócio nebuloso”.
Mas a embaixadora do Brasil em Genebra, Maria Nazareth Farani Azevêdo, afirmou claramente na reunião do dia 12 de agosto de 2020, com representantes do Itamaraty e da Casa Civil, que o valor inicial era de US$ 20, mas que o consórcio aceitou baratear e o preço final ficou em US$10,55 por dose.
“O preço da dose baixou bastante. De 20 foi para 12, entre 12 e 16, e agora está sendo apresentado para nós a 10 dólares e 55 centavos”, destacou a embaixadora.
Em um dos vídeos, divulgado pela Crusoé, o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, número dois da pasta, Elcio Franco, também coloca empecilhos para a compra da vacina.
Auxiliares do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, já estão analisando o vídeo que implica Bolsonaro diretamente no atraso em aderir ao consórcio Covax.