Presidente da Anvisa agora condena o negacionismo insano que ainda prevalece nas atitudes do inquilino do Planalto. Mudança é bem vinda. Antes tarde do que nunca. Já são quase 600 mil mortes
O discurso e a prática negacionistas de Jair Bolsonaro na condução da luta contra a pandemia da Covid-19 foram responsáveis pela maior tragédia sanitária da história do Brasil. A campanha contra as medidas sanitárias e a sabotagem às vacinas já mataram quase 600 mil pessoas, levando o país a ocupar a segunda posição no mundo em número absoluto de óbitos, perdendo apenas para os Estados Unidos.
Nem o outrora seguidor das insanidades do capitão cloroquina, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que chegou a participar junto com ele, sem máscara, de aglomerações em frente ao Planalto, segue mais as orientações esdrúxulas de Bolsonaro e de seu gabinete das sombras. Aliás, ao contrário, Torres agora critica o desatinos e a irresponsabilidade do “mito”. Ele disse tudo isso em entrevista ao Estadão, publicada na terça-feira (10).
“Vamos deixar de bobagem e vamos vacinar”, afirmou o dirigente da Anvisa. “Sem shopping de vacina. A vacina boa é a que está no posto de saúde e vai para o seu braço. Todas elas estão aprovadas pela Anvisa em consonância com a OMS”, acrescentou o presidente da Anvisa, numa resposta direta a Bolsonaro que até hoje não se vacinou e vive atacando as vacinas.
Além de sabotar a compra dos imunizantes, Bolsonaro não deixou de criticar um dia sequer a CoronaVac, vacina produzida pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac. “As vacinas não tiveram um desenvolvimento rápido, do zero. São plataformas vacinais que já vinham sendo desenvolvidas de forma acelerada e foram ajustadas ao novo coronavírus. Estamos vivendo a maior pandemia de todos os tempos, não é razoável usar este argumento para denegrir as vacinas”, afirmou Barra Torres.
“Temos de vacinar e contagiar amigos e parentes com informação sobre a vacina, convencer outras pessoas a se vacinarem. Agora, isso não quer dizer que o problema esteja resolvido”, alertou Torres.
“Nenhuma vacina, nem hoje nem nunca, tem uma eficácia de 100%. A infecção pode ocorrer. Não dá ainda para abrir mão da máscara, precisamos manter o distanciamento social, fugir das aglomerações evitáveis, manter os hábitos de higiene. A guerra está melhor, mas ainda não está vencida. Vamos guardar a comemoração. A hora não é agora”, afirmou o presidente da Anvisa, em total desacordo do que acha, diz e faz Bolsonaro.