Somente dezoito dias após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a aplicação da vacina do fabricante Pfizer contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, o governo anunciou a compra de imunizantes para este público.
Segundo Marcelo Queiroga, ministro da Saúde do governo Bolsonaro, as primeiras doses deverão começar a serem aplicadas na segunda quinzena de janeiro, ou seja, mais de um mês após a autorização.
A vacina da Pfizer, a única autorizada pela Anvisa para crianças, já é utilizada em outros países do mundo, dentre eles os EUA, Inglaterra, Alemanha e Israel, desde o início de novembro. Mas o governo Bolsonaro tenta impedir que pais e mães consigam proteger seus filhos do coronavírus, criar obstáculos para fazer com que as crianças não sejam vacinadas.
Logo após a autorização da Anvisa, que ocorreu após uma consulta a diferentes setores científicos, sociedades médicas e de pediatria, o governo começou sua campanha de sabotagem afirmando que não “havia consenso” sobre a imunização de crianças.
Em seguida, Marcelo Queiroga afirmou que a vacinação só ocorreria após uma “consulta pública” por meio da internet para saber a opinião da claque bolsonarista acerca da vacinação. Como se a imunização coletiva, fosse uma questão de opinião e não de saúde pública.
Por fim, o ministro bolsonarista anunciou que a vacinação das crianças só ocorreria após prescrição médica individual, o que impediria a massificação da campanha de imunização. A medida chegou a ser defendida pelo chefe de Queiroga em seu pronunciamento de 31 de dezembro, que foi rechaçado por panelaços pelo país.
O governo pretende realizar ainda nesta semana uma audiência pública para consultar a comunidade médica antes de iniciar a vacinação. Os participantes desta tal audiência só serão conhecidos durante o evento, e não foram esclarecidos os critérios usados pelo governo para a convocação.
O governo também não informou as diretrizes sobre a campanha de vacinação das crianças entre 5 e 11 anos. Não há definição sobre o início das aplicações das doses infantis nem quais crianças devem receber a dose com prioridade.
Governadores e secretários de Saúde dos Estados brasileiros também rejeitaram a exigência de prescrição médica e defenderam a ampla vacinação das crianças para reduzir o contágio e morte pelo coronavírus.
Em 2020 e 2021, a Covid-19 foi a principal causa da morte de crianças no país. De acordo com dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), desde o começo da pandemia até 6 de dezembro de 2021, foram registrados 301 mortes de crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19.
Entretanto, o número de crianças mortas é considerado pelo governo – nas palavras de Queiroga – “um patamar baixo”, que não justifica a vacinação.