O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse em uma entrevista que Jair Bolsonaro sabia da operação da PF que investigou as rachadinhas de Flávio Bolsonaro antes que ela tivesse sido realizada.
Weintraub contou que, em novembro de 2018, Jair Bolsonaro realizou uma reunião com aliados e alguns de seus futuros ministros para dizer que “apareceu uma acusação” contra Flávio.
Apenas em dezembro daquele ano, ou seja, no mês seguinte, é que viria à tona o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que mostrava que Flávio Bolsonaro se apropriava do salário de seus assessores, o que configura o crime de peculato.
No podcast Inteligência Ltda. Abraham Weintraub disse:
“Estava no governo de transição, estamos falando em novembro, fui chamado para uma sala com pouca gente. Estavam eu, o Onyx [Lorenzoni], o Santos Cruz. Santos Cruz, que brigou com o presidente, pode confirmar isso que estou falando para ti. O Jorge [Oliveira], o [Gustavo] Bebiano, tinha mais gente. Tinham alguns futuros ministros”.
“[Jair Bolsonaro] falou: ‘chamei pelo seguinte: apareceu uma acusação. Está pegando esse cara aqui – e apontou para o Flávio. O governo não tem nada a ver com ele. Se ele cometeu alguma coisa errada, ele que vai pagar por isso. Eu pensei: ‘putz, eu vim para o lugar certo. Era isso que eu queria escutar’”.
A declaração de Weintraub corrobora com o depoimento do empresário Paulo Marinho, que participou da campanha de Bolsonaro em 2018, sobre o mesmo caso. Marinho contou ao Ministério Público Federal (MPF), em um depoimento, que a operação tinha vazado e Bolsonaro tinha sido alertado.
Santos Cruz, ex-secretário-geral de Bolsonaro, confirmou o depoimento de Weintraub, mas não se lembra exatamente a data da reunião.
“Foi uma reunião no período de transição ou já bem no início do governo. Senão me engano foi na Granja do Torto”, disse. Cruz, entretanto, acredita que a reunião aconteceu no momento em que a notícia veio a público e que não se trata de um vazamento.
O governo de Bolsonaro atuou para impedir as investigações contra Flávio. O Coaf, que identificou as transações criminosas entre os assessores do filho de Bolsonaro, foi tirado do Ministério da Justiça, que tinha Sérgio Moro como ministro, e transferido para o Banco Central.
Enquanto deputado estadual do Rio de Janeiro, Flávio indicava para sua assessoria familiares e amigos, que deveriam passar um percentual de seu salário de volta para o parlamentar. Quem centralizava o esquema era Fabrício Queiroz, amigo de longa data de Jair Bolsonaro.
Jair Bolsonaro organizou o esquema criminoso no seu gabinete na Câmara dos Deputados e no dos filhos. Um áudio da ex-cunhada de Jair Bolsonaro, Andréa Siqueira Valle, mostra ela contando que seu irmão, André, foi demitido porque não queria devolver 90% do seu salário na Câmara para Jair Bolsonaro.
“André dava muito problema porque nunca devolvia a quantia certa de dinheiro”, disse.
WEINTRAUB
Weintraub fugiu do Brasil em junho de 2020 após ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura ataques a membros do STF e pelo crime de racismo contra cidadãos chineses.
Antes, parlamentares da oposição protocolaram no STF um pedido de apreensão do seu passaporte para evitar que ele saísse do Brasil, o que apressou sua saída.
Em de 22 de abril de 2020, Weintraub defendeu a prisão dos ministros da Corte em uma reunião ministerial. Depois ele reafirmou o que disse na reunião em encontro com manifestantes favoráveis ao governo.
Mesmo com as fronteiras dos Estados Unidos (EUA) fechadas para brasileiros, ele usou um passaporte diplomático para entrar no país como ministro. Só depois, quando já estava em solo norte-americano, sua exoneração saiu no Diário Oficial da União no sábado (20).
Bolsonaro o indicou em 17 de junho, via ministério da Economia, para ocupar um cargo no Banco Mundial, portanto, poucos dias antes de fugir.
Ele agora quer ser candidato ao governo de São Paulo e critica Bolsonaro por se aliar ao Centrão, que antes criticava. “Fomos substituídos por essa turma do Centrão”, queixou-se Weintraub numa live. O ex-ministro voltou no último fim de semana ao Brasil para discutir sua candidatura.
Bolsonaro, por seu lado, está incomodado com Weintraub pelas críticas e por querer se lançar candidato ao governo paulista. Bolsonaro apoia a candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.