Artista que faleceu aos 76 anos foi autor de icônicas capas de discos, murais e cartazes brasileiros
Elifas Andreato, um dos maiores artistas gráficos do país, morreu nesta terça-feira (29) aos 76 anos em São Paulo. A informação foi confirmada pela filha do artista, Laura Andreato. Natural do Paraná, o artista residia na capital paulista e morreu após complicações decorrentes de um infarto que havia sofrido há alguns dias.
Elifas Andreato nasceu em Rolândia (PR). Viveu com a família em cortiço e fazia pequenas esculturas com material que encontrava no lixo. Na adolescência, foi operário em uma fábrica de fósforo em São Paulo. Começou a fazer caricaturas e a pintar murais. Foi estagiário em agência de publicidade até chegar à Editora Abril, onde ganhou destaque por ter feito, em 1970, a coleção de fascículos História da Música Popular Brasileira. Foi aí que a cara das capas de discos começou a mudar.
Ao longo de mais de 50 anos de carreira, fez 362 capas de discos de artistas como Chico Buarque, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Toquinho e Vinicius de Moraes. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão Ópera do Malandro, de Chico Buarque, A Rosa do Povo, de Martinho da Vila, Arca de Noé, clássico que embalou gerações de crianças brasileiras, e Nervos de Aço, de Paulinho da Viola.
CAPAS:
Entre as capas de livros que fez, destaque para “A Legião Estrangeira”, de Clarice Lispector. Atuou também em publicações como a revista Argumento.
Para o teatro, fez cartazes memoráveis, como os de Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, de A Morte do Caixeiro Viajante, dirigido por Flávio Rangel em 1984, elogiado até pelo autor da peça, o americano Arthur Miller, e de Mortos Sem Sepultura, adaptação de texto de Jean Paul Sartre em 1977. Seu trabalho mais recente, aliás, foi para o teatro. É dele o cenário do musical Morte e Vida Severina, com direção de seu irmão, que estreia no Tuca em 16 de abril.
Em 2018, o artista lançou um livro com produção mais significativa. Traços e Cores reúne cerca de mil entre as suas mais de 5 mil criações, entre essas capas emblemáticas de discos, cartazes de teatro, capas de livros e cenários de peças e shows.
CARTAZES
ANO INTERNACIONAL DA MULHER – 1979 AQUARELA BRASILEIRA – 1982 VIVA ELIS – 1983 1970 1970 1970 O BRASIL ENCANTADO DE MONTEIRO LOBATO – 2007
Uma das obras incluídas é o grande painel que ele fez a convite da Comissão da Verdade. Instalado originalmente no corredor de acesso à Câmara dos Deputados, ele ganhou o título A Verdade Ainda que Tardia e retratava as torturas da ditadura. Em 2015, o painel foi arquivado no acervo da Câmara, sob a alegação de que não havia espaço na exposição permanente.
Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo na época, por conta do lançamento do livro, Andreato disse que aquele “inventário” era definitivo e fechava um ciclo. E contou que dali em diante trabalharia apenas com livros e a composição de músicas para discos voltados para crianças.
“Com 72 anos, a perspectiva de tempo futuro é curta, então você tem que definir um foco para os anos que faltam”, ele disse. E completou: “Acho que a educação infantil é o único caminho para sair desse imbróglio em que estamos”.
Parte das obras de Andreato podem ser vistas no seu portal:
http://www.emporioelifasandreato.com.br/