Para manter os preços atrelados ao dólar, foram indicados o ex-secretário do Ministério de Minas e Energia José Mauro Coelho para a presidência da Petrobrás e Marcio Andrade Weber para presidir o Conselho de Administração
O governo Bolsonaro anunciou na quarta-feira (6) a indicação de José Mauro Ferreira Coelho, presidente do Conselho de Administração da Pré-Sal Petróleo (PPSA), para presidir a Petrobrás. O novo nome indicado por Bolsonaro não significa mudança na desastrosa política na estatal que descambou no descontrole e dos preços dos combustíveis no Brasil.
De acordo com Ferreira Coelho, “temos que ter os preços no mercado doméstico relacionados aos preços de paridade de importação. Se assim não fosse, não teríamos nenhum agente econômico com aptidão, ou com vontade de trazer derivados para o país. E teríamos risco de desabastecimento”. A declaração de Coelho, então secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia (MME), ocorreu em outubro do ano passado, em entrevista à TV Brasil, pouco antes de pedir demissão do cargo, “para assumir novos desafios na iniciativa privada”, segundo o ministério na ocasião.
Segundo o Poder 360, Ferreira Coelho estava para ser contratado pela Copagaz, que abocanhou a Liquigás na privatização por Bolsonaro da então distribuidora de botijões de gás da Petrobrás. Na mídia, circulou o rumor de que José Mauro Coelho já estaria prestando serviços para a empresa privada.
Com a disparada nos preços dos derivados de petróleo, atrelados ao dólar, a carestia e sob ameaça de nova greve dos caminhoneiros, que cobravam a promessa de redução no preço do diesel, Bolsonaro resolveu encenar indignação contra o aumento dos preços. Culpou os governadores, o ICMS, a Petrobrás, e mudou o presidente da estatal. Tirou Castello Branco, tirou Silva e Luna, mas não mexeu na política de preços que atrela os derivados do petróleo ao barril no mercado internacional e ao dólar, penalizando os consumidores brasileiros.
MARIO ANDRADE WEBER
O nome de Márcio Andrade Weber, atual membro do conselho da Petrobrás, também foi indicado pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para presidir o Conselho de Administração da estatal.
No currículo do ex-funcionário de carreira da Petrobrás, consta que Weber presta assessoria ao grupo Petroserv Marine Inc*, que opera quatro plataformas de perfuração para águas profundas e que têm, entre os clientes, a Shell e a ENI. Antes disso, Weber foi diretor da Petroserv, uma empresa que atuou na área de exploração e produção prestando serviços como navegação de apoio e sondas de perfuração para águas profundas.
Com a indicação desses nomes, o chamado “mercado” prevê que não haverá mudança na política de preços da Petrobrás. Segundo o analista de petróleo e gás da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a definição do governo dos nomes indicados deve reduzir as dúvidas que afetavam o desempenho das ações da companhia nos últimos dias. O que significa que os donos do petróleo, o povo brasileiro continuará pagando preços absurdos pelos derivados enquanto os acionistas, na maioria estrangeiros, continuarão recebendo bilhões em dividendos.
As indicações de Coelho e Weber ocorrem após o fracasso do governo de tentar emplacar os nomes do lobista de multinacionais do setor de petróleo e gás, Adriano Pires, para presidir a Petrobrás, e do atual presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, para a chefia do conselho da estatal. Ambos desistiram de seus cargos na estatal, após pressão da sociedade pelas denúncias envolvendo os dois.
O lobista Adriano Pires desistiu de assumir o cargo após denúncias de “conflito de interesses” ao favorecer o cartel do petróleo através de empresa que preside CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), como a multinacional Chevron, e não abrir sua lista de clientes, conforme exigência do Ministério Público do Tribunal de Contas da União.
Além disso, Pires tem ligação com Carlos Suarez, um dos principais beneficiados na medida provisória sobre a privatização da Eletrobrás. Pires teria trabalhado ativamente, e com êxito, para defender os interesses de Suarez no texto da MP sobre a estatal do setor elétrico.
*ERRATA. Atualizamos a matéria, corrigindo o nome da empresa para Petroserv Marine Inc (PMI) no lugar de Projetct Mangement Insitiute. Na matéria original, a PMI citada “não tem relação com Márcio Andrade Weber e não opera plataformas de perfuração para águas profundas. O Grupo PMI citado na matéria é referente ao grupo Petroserv Marine Inc“, informou a assessoria de comunicação da Project Management Institute