O jornalista venezuelano Vladimir Villegas, ex-embaixador do governo de Hugo Chávez no Brasil durante os anos 2002 e 2003, assinalou na terça-feira, 22, que “no domingo ficou gravemente ferida a via eleitoral”, isso após os resultados da jornada em que Nicolás Maduro foi reeleito como Presidente da República.
“As eleições presidenciais do jeito que ocorreram longe de ajudar a resolver o conflito político, o complicaram. Além da alta abstenção [de 54%], que revela o grande descontentamento e desconfiança no Poder Eleitoral e nas instituições em geral, surgiram sérias denúncias sobre violações aos acordos firmados entre os candidatos participantes”, observou.
Durante seu programa Vladimir à 1, transmitido pela rede de TV Globovisión, frisou que as violações ao acordo acertado pelos candidatos ocasionaram que Henri Falcón, o segundo colocado no pleito, Javier Bertucci, o terceiro, e o reitor do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) Luis Emilio Rondon, desconhecessem o processo.
“O governo violou o acordo de não colocar ‘pontos vermelhos’ nos quais se escaneava o chamado Carnê da Pátria como mecanismo de pressão sobre as pessoas que recebem benefícios sociais”, denunciou. O Carnê é um documento fornecido pelo governo para ter acesso a cestas básicas e outros benefícios que, apresentado nesses quiosques da campanha de Maduro, chamados ‘pontos vermelhos’, servia para cadastrar os votantes e, dizem, para receber gratificações. Muitos deles foram armados até dentro das seções eleitorais.
Villegas considerou que o Poder Eleitoral “deu declarações sem nenhum efeito” e “fez vista gorda para as denúncias”, deixando correr as irregularidades.
“Necessitamos de um Conselho Nacional Eleitoral de verdade, imparcial e ativo que não deixe passar os abusos e delitos eleitorais, venham de onde vierem”, indicou.
Por outra parte, argumentou que se deve buscar saídas à situação colocada, “para que possamos ter eleições justas, limpas e críveis” porque “do contrário, não haverá governabilidade e nos instalaremos numa situação de maior instabilidade política e também (o mais grave) econômica”.
“Bloquear a via eleitoral é dar-lhe de comer à violência, por isso tem que haver uma negociação política, mas com mediadores que sejam escolhidos pelas partes, que respeitem as partes e se façam respeitar”, acrescentou.
O jornalista que, por indicação de Hugo Chávez, presidiu o canal estatal Venezuelano de Televisión, disse que “não é tempo de sapateiros porque o problema não está na sola senão na cabeça. Um árbitro que saia das fileiras de uma das partes, não ajuda, estorva”.
“O presidente Maduro deve entender que segundo as cifras do CNE ele apenas conta com uma quarta parte do eleitorado, portanto, atribuir-se uma vitória com 68% dos votos é um triste auto-engano. Veja a realidade Presidente, e entenda que chegou a hora de negociar a sério, sem jogo duplo”, advertiu.
Por último, enviou uma mensagem à liderança da oposição: “Cuidado com cair na tentação da violência, já sabemos que só leva ao caminho da dor e da frustração. É momento de responsabilidade na tomada de decisões. Serenidade e firmeza não são contraditórias”, concluiu.