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A Advocacia-Geral da União (AGU) ignorou todos os indícios e disse que Jair Bolsonaro não interferiu na investigação da Polícia Federal sobre os crimes do seu ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, em pedido para tirar o caso de Alexandre de Moraes.
Em ligação, Milton Ribeiro falou que foi alertado por Jair Bolsonaro e que a Polícia Federal iria fazer uma operação de busca e apreensão em seu apartamento.
O delegado responsável pela investigação, Bruno Calandrini, relatou que perdeu toda a autonomia porque seus superiores na Polícia Federal se recusaram a cumprir uma decisão judicial que transferia Milton Ribeiro, quando ele estava preso preventivamente, para Brasília.
Mesmo assim, a AGU classificou como “inexistente” a interferência de Bolsonaro na investigação.
A intenção do órgão, que se tornou a defesa pessoal de Jair Bolsonaro, é retirar o caso das mãos do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga a interferência de Bolsonaro na PF desde a saída do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, do governo.
O pedido de investigação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi incluído no inquérito relatado por Alexandre de Moraes.
A Advocacia-Geral da União quer que a investigação fique com a ministra Cármen Lúcia, relatora de outros pedidos feitos por parlamentares e pela Justiça Federal.
Com isso, conseguiria a anulação da decisão de Alexandre de Moraes que exige uma manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o caso.
A Polícia Federal prendeu o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, no dia 22 de junho, no âmbito da operação Acesso Pago, que investiga o “gabinete paralelo”, ou seja, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, ligados a Bolsonaro, que liberavam recursos públicos mediante pagamento de propina.
Milton Ribeiro foi flagrado, em uma gravação, dizendo que, por um “pedido especial” de Jair Bolsonaro, priorizava recursos do Ministério da Educação para as cidades que eram apontadas pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Os dois pastores exigiam propina para os prefeitos que quisessem receber a verba pública.
Milton Ribeiro é investigado pelos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência.
Em uma ligação com sua filha, Milton Ribeiro relatou que Jair Bolsonaro estava com um “pressentimento” de que a PF realizaria operações de busca e apreensão em seu apartamento.
APARELHAR
Bolsonaro é reincidente em matéria de interferir e aparelhar órgãos do Estado em benefício próprio.
Ele pôs um procurador-geral dócil aos seus interesses na Procuradoria-Geral da República. Colocou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) debaixo do Ministério da Economia para ter mais controle sobre o órgão, tirando-o do Ministério da Justiça.
Em abril de 2020, o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, deixou o cargo denunciando que Bolsonaro tentava aparelhar a PF para se blindar e a seus familiares e aliados investigados por crimes.
Segundo Moro, Bolsonaro tentou intervir politicamente na PF ao demitir o diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo, que o ex-ministro recusou, argumentando que não havia motivo plausível para fazê-lo.
Em pronunciamento, Bolsonaro disse que queria um chefe da PF com o qual pudesse “interagir” e que lhe entregasse relatórios diários das investigações.
As acusações foram confirmadas pela gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril, divulgada por decisão do STF. “Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final!”, disse Bolsonaro a seus ministros.
Depois da reunião, o diretor-geral da Polícia Federal, o superintendente no Rio e o ministro da Justiça foram substituídos.
Segundo Moro, “a verdade foi dita, exposta em vídeo, mensagens, depoimentos e comprovada com fatos posteriores, como a demissão do Diretor-Geral da PF e a troca na superintendência do RJ. Quanto a outros temas exibidos no vídeo, cada um pode fazer a sua avaliação”.