Alexandre de Moraes autorizou a PF a fazer buscas em endereços de oito empresários; para candidata, empresariado não pode ficar, sob nenhum aspecto, sob suspeita por conta de uma pequeníssima minoria
A presidenciável da coligação MDB, PSDB, Cidadania e Podemos, senadora Simone Tebet (MS), afirmou ser “lamentável que um pequeno grupo de empresários faça ode de discursos golpistas em pleno século 21”.
A candidata, que segundo a última pesquisa Datafolha está com 2% de intenções de voto, referiu-se aos empresários bolsonaristas que apregoaram, em mensagens de WhatsApp, a hipótese de Bolsonaro dar um golpe caso o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, seja eleito presidente da República.
Ela vai ser sabatinada, na próxima sexta-feira (26), na bancada do JN (Jornal Nacional), pelos jornalistas Wiliam Bonner e Renata Vasconcelos, encerrando a série de entrevistas com os presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou, na terça-feira (23), a Polícia Federal a realizar buscas em endereços de oito empresários. Ele determinou medidas cautelares como bloqueio de contas dos agora investigados por suspeita de atentar contra o Estado Democrático de Direito.
“SEPARAR O JOIO DO TRIGO”
“É lamentável vindo de quem quer que seja, que dirá de empresários que têm consciência, sabem da responsabilidade com o País. É importante que se faça justiça, que se apure os fatos, até para separar literalmente o joio do trigo”, disse a candidata, ao chegar ao evento de lançamento da candidatura a deputado federal do atual senador José Serra (PSDB-SP), em hotel na região central de São Paulo.
Esses empresários não têm consciência democrática. Não foram prejudicados pelos sucessivos governos liderados pelo PT. Todavia, intoxicados ideologicamente preferem manter a “guerra política” empreendida e liderada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), do que se curvar os ditames do Estado Democrático de Direito, que é o império da soberania popular.
“O empresariado brasileiro não pode ficar, sob nenhum aspecto, sob suspeita por conta de uma pequeníssima minoria que não sabe da responsabilidade que tem com um país que passa fome”, criticou a presidenciável.
“VIÉS AUTOCRATA”
A candidata afirmou não ter dúvida de que o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, tem “um viés autocrata e que, se pudesse, mobilizaria as ruas”. No entanto, segundo ela, as instituições brasileiras estão ainda mais sólidas.
Tebet tem toda a razão. Bolsonaro, se pudesse, teria fechado o Congresso e o Supremo. Não o fez porque perdeu força política e foi o tempo todo denunciado sobre essa intenção, que ele e os seguidores dele nunca deixaram de expressar, inclusive com violência política.
“Não há nenhum elemento que possa levar qualquer dúvida de qualquer ruptura institucional. O Congresso Nacional um dia foi fechado de dentro para fora. Agora, jamais alguém vai fechar de fora para dentro”, afirmou.
RESPONSABILIDADE DO JUDICIÁRIO
Tebet disse também que acredita que a responsabilização do caso será apurada pelo Poder Judiciário.
“Porque temos um Poder Judiciário forte e independente, imparcial e corajoso, que as coisas estão acontecendo dentro da normalidade”, disse.
“E é dentro da normalidade, nos autos do processo, da justiça imparcial, que nós teremos o resultado sobre a possível responsabilidade criminosa de alguns que tentam ou que estariam tentando alguma tentativa de golpe no sistema [político] brasileiro”, concluiu a candidata.
ENTENDA O CASO
Grupo de empresários virou alvo de mandados de busca e apreensão determinados por Moraes, na terça-feira (23), por causa de mensagens compartilhadas por WhatsApp.
Nos textos enviados pelo aplicativo, os empresários, apoiadores do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, defendem golpe de Estado no Brasil caso Lula vença as eleições de outubro para a Presidência da República. As mensagens foram reveladas pelo site Metrópoles.
São milionários com saudades da ditadura militar (1964-1985). Saiba quem são os alvos da operação:
LUCIANO HANG (HAVAN)
Dono da rede de lojas de departamento Havan, o catarinense Luciano Havan, de 59 anos, nascido em Brusque, no Vale do Itajaí, é considerado uma das pessoas mais ricas do País. Ele foi listado em 2022 como o 10º brasileiro mais rico no ranking de bilionários da Forbes. A fortuna dele divulgada pela publicação foi de US$ 4,8 bilhões, o que o coloca na 586ª posição na lista de mais ricos do mundo.
Hang é um dos mais ferrenhos defensores de Bolsonaro e chegou a ser alvo de investigações da CPI da Covid, no Senado, por envolvimento em esquemas de disseminação de informações falsas, principalmente sobre tratamentos ineficazes contra a Covid.
AFRÂNIO BARREIRA FILHO (COCO BAMBU)
Engenheiro de formação, o cearense Afrânio Barreira Filho é dono de uma das maiores redes de restaurantes do País, o Grupo Coco Bambu. Especializado em frutos do mar, o empreendimento começou após Barreira Filho reformar mansão antiga que era de seu avô e transformá-la em área comercial com salas e lojas alugadas, que incluía pequena pastelaria criada por ele e a esposa.
MARCO AURELIO RAYMUNDO (MORMAII)
Nascido em Guaíba (RS), Marco Aurélio Raymundo é médico formado pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Morongo, como o empresário é conhecido, fundou a Mormaii, empresa de vestuário e artigos de surfe, nos anos 1970, em Garopaba (SC), para onde se mudou com a então esposa.
JOSÉ ISAAC PERES (REDE MULTIPLAN)
Sócio-fundador da rede Multiplan de shopping centers, o empresário José Isaac Peres é de Ipanema, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, e criou sua primeira empresa, a incorporadora Veplan, aos 22 anos. Na época, ele era estudante da antiga Faculdade Nacional de Economia, atual Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
MEYER JOSEPH NIGRI (TECNISA)
Engenheiro civil e fundador da Tecnisa, empresa do setor imobiliário, fundada em 1977 em São Paulo. Nigri é hoje vice-presidente do Conselho de Administração da companhia, que é presidida atualmente pelo filho, Joseph Meyer Nigri. A Tecnisa abriu capital na bolsa em fevereiro de 2007 e, em seu site, informa ter lançado mais de 7,3 milhões de metros quadrados de empreendimentos, com 270 lançamento e mais de 46,5 mil unidades, sendo 40 mil apartamentos.
IVAN WROBEL (W3 ENGENHARIA)
Dono da W3 Engenharia, fundada em 1977. A construtora tem foco principalmente em empreendimentos na zona sul do Rio de Janeiro. Na página na internet, a empresa diz ter atuado em mais de 100 empreendimentos, entre shopping centers e edifícios comerciais e residenciais.
Em comunicado divulgado após vir a público as mensagens golpistas de Wrobel no grupo de WhatsApp, o advogado dele afirmou que o empresário, descendente de família polonesa judia, foi convidado a se retirar do IME (Instituto Militar de Engenharia) em 1968, após se manifestar contra o AI-5.
LUIZ ANDRÉ TISSOT (GRUPO SIERRA)
Fundador Grupo Sierra, rede de móveis de luxo, Luiz André Tissot vem de uma família com tradição na manufatura de artigos de madeira na Serra Gaúcha. Em Gramado, onde o empreendimento possui um showroom, o negócio cresceu junto com o turismo na cidade.
Aberta em 1990 como importadora de móveis de alto luxo com assinatura de designers italianos, o que começou como Sierra Móveis hoje fabrica itens como cadeiras, sofás e poltronas. Há mais de 70 unidades no país e também pontos de vendas em países como Chile, Argentina e Panamá.
JOSÉ KOURY (BARRA WORLD SHOPPING)
Dono do Barra World Shopping, empreendimento comercial e de lazer localizado no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O empreendimento se intitula “o primeiro shopping temático do mundo, que reproduz a arquitetura e os principais monumentos de vários países”, como a torre Eiffel e o Big Ben, e possui mais de 400 lojas.
M. V.