Brasileiros usam poupança para consumo e quitação de dívidas básicas
Os brasileiros que ainda conseguem poupar algum dinheiro passaram a resgatar em massa suas economias para pagar contas e sobreviver em um cenário de inflação nas alturas, juros altos e rendas arrochadas. De acordo com dados do Banco Central (BC), a retirada de recursos da caderneta de poupança bateu novo recorde histórico em agosto. Os saques somaram R$ 22,015 bilhões no mês passado – a maior soma de recursos já registrada pela série histórica do BC, iniciada em 1995.
Este movimento não é de hoje: o recorde anterior de saques foi batido em janeiro deste ano, quando R$ 19,665 bilhões foram retirados das cadernetas de poupança. Em julho, os saques líquidos somaram R$ 12,662 – um recorde para o mês. No acumulado do ano até agosto, a poupança tem saldo negativo de R$ 85,167 bilhões.
De acordo com os dados do BC, em agosto foram depositados R$ 316,242 bilhões e retirados R$ 338,258 bilhões na poupança. Considerando o rendimento de R$ 6,591 bilhões, o saldo total da caderneta somou R$ 991,812 bilhões no fim do oitavo mês, bem abaixo do resultado do término de julho (R$ 1,007 trilhão).
CARESTIA
“Inflação elevada e a inadimplência alta faz muita gente aproveitar para pegar as suas reservas, boa parte delas na poupança, para quitar dívidas, complementar renda e também utilizar para o consumo”, avalia, Alan Ghani, economista do Insper.
Atualmente, o nível de inadimplência da população já é o maior em oito anos, atingindo 63,27 milhões de brasileiros nos dados de julho disponibilizados por pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Já os dados de endividamento das famílias de agosto, apurados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontam que 79% das famílias brasileiras estão endividadas. A alta de devedores foi de 1 ponto percentual em agosto ante julho, enquanto, em um ano, o avanço foi de 6,1 pontos.