O Ministério Público Federal do Pará pediu informações, nesta segunda-feira, à secretaria executiva do Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) acerca dos supostos crimes contra crianças denunciados pela ex-ministra da pasta e senadora eleita, Damares Alves (Republicanos-DF).
O órgão também solicitou por meio do ofício quais as providências foram tomadas pela pasta ao descobrir os casos e se uma denúncia foi feita ao MPF na época.
Em um culto no último sábado, na igreja evangélica Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia (GO), Damares afirmou, sem apresentar provas, que crianças na Ilha de Marajó (PA) são traficadas e têm seus dentes “arrancados pra elas não morderem na hora do sexo oral”, além de só comerem “comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal”.
A declaração da ex-ministra foi compartilhada nas redes sociais pelo filho de Bolsonaro, Flávio e pelo deputado federal Mario Frias (PL-SP). Na gravação, Damares diz ter descoberto o caso durante sua passagem no Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos.
“Sobre a Ilha de Marajó, todo mundo pergunta: por que Bolsonaro está fazendo o maior programa de desenvolvimento regional na Ilha do Marajó? Porque ele tem uma compreensão espiritual que vocês não têm nem ideia. Fomos para Ilha do Marajó, e lá nós descobrimos que nossas crianças estavam sendo traficadas por lá. Marajó faz fronteira com o mundo, Suriname, Guiana. Vou contar uma coisa pra vocês que agora posso falar: nós temos imagens de crianças brasileiras com 4 anos, 3 anos que quando cruzam as fronteiras são sequestradas”, disse Damares a uma plateia repleta de crianças.
Ainda segundo ela, Bolsonaro teria sido “alvo de ataques” por combater abuso sexual contra as crianças:
“Os seus dentinhos são arrancados pra elas não morderem na hora do sexo oral. Essa nação que a gente ainda tem irmãos. Nós descobrimos que essas crianças, elas comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal. Bolsonaro disse: ‘Nós vamos atrás de todas elas e o inferno se levantou contra esse homem. A guerra contra Bolsonaro que a imprensa levantou, que o Supremo levantou, que o Congresso levantou, acreditem, não é uma guerra política. É uma guerra espiritual”, completou a ex-ministra, sem apresentar indícios para as declarações.
Advogados vão ao STF para que Damares comprove ilações
O grupo de advogados e juristas Prerrogativas entrou com representações no Ministério Público Federal (MPF) e no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo que as declarações de Damares sejam investigadas.
Eles solicitam que, caso as declarações da ex-ministra sejam verdadeiras, Damares e Bolsonaro prestem esclarecimento sobre quais medidas tomaram para a “apuração de tamanhas atrocidades”. É requisitado também que eles sejam investigados por prevaricação, uma vez que não teriam tomado qualquer providência ao tomarem conhecimento do que ocorria no local.
O grupo não descarta que as declarações de Damares sejam “mentirosas” e que teriam o objetivo de “alimentar discursos de ódio e tumultuar o processo eleitoral”. Desta forma, eles cobram também que a ex-ministra seja intimada a apresentar “provas do que alegou”.
“Se as declarações de Damares não forem verdadeiras, é também muito grave, pois a ex-ministra estaria banalizando um problema muito sério [o estupro de crianças] que é responsabilidade de todo e qualquer brasileiro combater esse tipo de violência”, afirma Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas.
O grupo pede ainda que sejam tomadas medidas urgentes para evitar a propagação de mentiras. E adverte que o vídeo de Damares tem sido divulgado como material de campanha eleitoral nas redes de Flávio Bolsonaro, que tenta ligar as falas da ex-ministra a “resquícios de PT pelo Brasil”.