O último debate do segundo turno das eleições de 2022 entre candidatos ao governo de São Paulo aconteceu na última quinta-feira (27) e foi realizado pela TV Globo. Participaram do debate o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).
Durante o debate, o ex-ministro da Infraestrutura defendeu enfaticamente seu padrinho político Jair Bolsonaro (PL) e ignorou as perguntas de Haddad sobre as propostas em relação à frequência escolar e à vacinação de crianças.
Tarcísio também voltou a defender a privatização da Sabesp, fugiu das explicações das evidências do caso de Paraisópolis, não explicou sobre a falta de oxigênio em Manaus para o tratamento da Covid-19, além de não demonstrar o domínio ou o conhecimento do estado paulista. “Tarcisio não conhece nosso Estado e vai se apropriando do que dá”, disse Haddad.
Segundo a mais recente pesquisa do Ipec, divulgada na última terça (25), os candidatos estão empatados tecnicamente. Tarcísio aparece com 46% dos votos válidos contra 43% do petista. Brancos e nulos somam 7%. Não sabem ou não responderam são 4%, segundo a pesquisa, que tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
DEBATE
Haddad falou durante o debate, sobre temas nacionais, como o salário mínimo, dizendo que vai aumentar no estado, e sobre as melhorias na saúde paulista e no Sistema Único de Saúde (SUS).
Ainda no tema da saúde e também em relação a Covid-19, a vacinação foi um tema abordado pelos candidatos. Com posições diferentes, o petista defendeu a obrigatoriedade da aplicação em crianças.
Já Tarcísio disse que deveria ser uma escolha. “Eu vacinei meus filhos, você vacinou, mas não precisa obrigar. Os pais sabem o que é saúde”, afirmou. Tarcisio é contra a obrigatoriedade da vacina.
SALÁRIO MINÍMO
O salário mínimo, que é de competência nacional, também foi abordado pelos candidatos. Haddad criticou a falta de aumento real nos últimos anos. “[O salário mínimo] tem que acompanhar a inflação. É mentira que Bolsonaro deu aumento real”, disse.
Sobre o reajuste do salário mínimo paulista, Haddad afirmou que propôs aumentar para R$ 1.580. Tarcísio disse que também vai dar reajuste acima da inflação, cerca de R$ 1.550, mas que economia não se resolve “na canetada” e que quer promover o emprego. O candidato petista, porém, sabedor da falta de reajuste do salário mínimo nacional durante o governo Bolsonaro, voltou ao tema diversas vezes.
Nos quatro anos do governo Bolsonaro não houve aumento real do salário mínimo, ou seja, sem reajuste acima da inflação. O salário mínimo atual é de R$ 1.212.
Em relação ao Auxílio Brasil, Haddad afirmou que o governo Bolsonaro está “espoliando, a palavra só pode ser essa, o beneficiário do Auxílio Brasil”. “Esse [empréstimo] consignado que estão fazendo… Fizemos consignado para quem recebia contracheque no banco, foram as taxas mais baixas de juro já praticadas. Vocês estão fazendo no período eleitoral, estão fazendo consignado para arrancar o couro do beneficiário do Auxilio Brasil. O juro do consignado do Auxílio Brasil está chegando na casa do cheque especial. A quem estão pensando favorecer? O trabalhador que não consegue terminar o mês ou o banco que endivida as famílias. Concorda com a taxa de juros cobrada?”, questionou Haddad.
PRIVATIZAÇÃO DA SABESP
Um dos principais pontos do debate foi a ameaça de privatização da estatal paulista de saneamento, a Sabesp, por Tarcisio. Haddad denuncia que a venda da estatal, sociedade anônima de capital misto que gere os serviços de água e esgoto no estado de São Paulo, pode deixar milhões de pessoas sem acesso a água e esgoto, além de encarecer a conta de água da população paulista.
A Sabesp atende atualmente 375 municípios paulistas onde vivem 28,4 milhões de pessoas, sendo uma empresa de economia mista de controle estatal, mas com ações negociadas na bolsa. Lucrou R$ 1,4 bilhão somente no primeiro semestre deste ano. Em 2021, o lucro chegou a R$ 2,3 bilhões.
Haddad relembra que se tornou uma tendência reestatizar empresas de água e saneamento pelo mundo. As empresas que fornecem serviços integrados de água, que unem fornecimento de água potável e tratamento de esgoto, foram os principais alvos de processos de reestatização nos últimos anos em todo o mundo. O dado é de levantamento da iniciativa internacional Public Futures que monitora processos de desprivatização de serviços públicos ao redor do mundo.
Haddad criticou fortemente a proposta, afirmando que seria um “erro monumental”. “Sou terminantemente contra a venda da Sabesp, do controle acionário da Sabesp, como prega o Tarcísio de Freitas. Será um erro monumental que vai penalizar a população de baixa renda”, disse.
OXIGÊNIO EM MANAUS
Durante o debate, Haddad também destacou o erro logístico cometido em janeiro de 2021 por Tarcísio de Freitas, então ministro da Infraestrutura, onde atrasou em até 66 horas a chegada de 160 mil m³ de oxigênio a Manaus (AM).
O assunto surgiu depois de Tarcísio reclamar de ser alvo de supostas mentiras por parte do petista. O ex-ministro bolsonarista disse que a campanha de Haddad teria mentido a respeito da extensão da estrada de terra utilizada para transportar os cilindros.
O candidato petista lembrou, durante o embate, que a Força Aérea Brasileira (FAB) não disponibilizou aeronaves para transportar o oxigênio de Porto Velho (RO) até Manaus (AM). O ex-ministro bolsonarista tentou argumentar dizendo que aviões não poderiam transportar a quantidade necessária de tubos de oxigênio. Porém, à época, o próprio governo federal optou que a empresa White Martins levasse oxigênio hospitalar de avião ao estado, e não a FAB.
A decisão equivocada de Tarcísio, citada por Haddad, se deve ao fato de que o meio mais rápido de transporte de oxigênio para a capital amazonense teria sido a hidrovia do rio Madeira, mas o governo federal optou pela rodovia BR-319, que estava intrafegável naquela época do ano.
“Não tem 900 quilômetros, tem 450 quilômetros”, disse. Haddad indagou Tarcísio o motivo, mesmo diante da urgência, de não ter optado por outros meios de transporte como avião. Tarcísio afirmou que mesmo levando 4 dias pela estrada sem pavimentação, ainda seria a melhor opção quanto ao prazo, já que pelos rios o tempo seria maior, e disse que “foi uma decisão correta levar o oxigênio via estrada”. Na época, porém, a própria FAB divulgou que fez o trajeto com seus aviões e chegou a transportar mais de 24 toneladas de cilindros de oxigênio para a capital amazonense.
Nesta semana, na televisão, a campanha de Haddad atacou Bolsonaro pela gestão na pandemia, exibiu trechos do presidente ironizando vítimas da covid com dificuldade para respirar e afirmou que Tarcísio foi “um dos responsáveis pela falta de oxigênio em Manaus”. “Falta sensibilidade. Quem não deu conta da pandemia, não dará conta de Estado que ele nem conhece”.
EVIDÊNCIAS EM PARAISÓPOLIS
Fernando Haddad questionou os áudios veiculados recentemente de que a equipe de Tarcisio teria mandado um cinegrafista da Jovem Pan apagasse um registro em vídeo feito do suposto tiroteio que matou um homem em Paraisópolis.
O candidato bolsonarista tentou justificar a atitude, alegando que o agente da ABIN mandou o cinegrafista apagar o vídeo para “proteger” os integrantes da equipe.
“Você acha que aquele companheiro seu, ligado à inteligência, agiu corretamente ao determinar, constranger um profissional da imprensa a apagar imagens de um evento onde aconteceu um homicídio?”, perguntou o petista, fazendo referência à atuação de um agente da Agência Brasileira de Inteligência no episódio. “Esse meu colega pediu o seguinte: ‘apaga isso, apaga aquilo’, por preocupação com as pessoas”, disse o bolsonarista.
Haddad, então, fez duras críticas: “Não se destroem provas, não se destroem evidências, se confia na autoridade policial”. O petista também apontou que esse tipo de gesto levanta suspeição e vai na contramão da transparência esperada de investigações oficiais.
Irritado, Tarcísio retrucou dizendo que o adversário fazia um “papelão” e “sensacionalismo barato” ao levantar o assunto. O candidato apoiado por Bolsonaro disse que não havia nada a ser escondido.
O episódio levou à morte de Felipe Lima, de 27 anos, assassinado por um policial militar na rua Manoel Antônio Pinto, que fica a cerca de 100 metros do Polo Universitário de Paraisópolis. A vítima tinha passagem por roubo à residência e assalto à mão armada. O Boletim de Ocorrência lavrado pela Polícia Civil, na 88ª Delegacia de Polícia mostra ainda que policiais adulteraram a cena do crime antes da chegada da perícia.
Na última quinta, o Intercept Brasil revelou que o segurança é Fabrício Cardoso de Paiva, um agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que trabalha para a campanha de Freitas. Tarcísio de Freitas divulgou uma nota em que confirma a identidade do agente e afirma que Paiva está licenciado do cargo na Abin, sem remuneração do órgão, e que não exerce nenhuma função em nome da agência.
O episódio foi inicialmente rotulado como “atentado” por bolsonaristas, principalmente pela Jovem Pan, emissora de TV ligada à extrema-direita brasileira, que passou o dia noticiando o episódio como um ataque direto à comitiva do candidato. Nos últimos 10 dias, contudo, evidências têm apontado uma possível participação da equipe de segurança do candidato bolsonarista na morte em Paraisópolis.
ALINHAMENTO
Nas considerações finais, Tarcísio destacou as diferenças entre ele e o petista. “Tenho uma linha muito diferente, a linha do verde e amarelo, a linha da esperança, do estado gigante. Passei por um governo que enfrentou várias crises e soube entregar um país melhor. Vamos fazer São Paulo voltar a ser a locomotiva do Brasil. Vote em Bolsonaro. O alinhamento dos dois governos é fundamental”, disse.
Já Haddad falou que a eleição brasileira tem a atenção de todo o mundo. “Deixei um legado por onde passei para São Paulo. Compare o que eu fiz por São Paulo e o que o meu adversário fez. São Paulo é muito importante para o Brasil. Quando houver harmonia entre governo federal e estadual vamos acelerar o ritmo da mudança”, afirmou.