“É um momento histórico para os povos indígenas do Brasil, que depois de tanta afronta, retrocesso e tendo o único órgão indigenista totalmente sucateado, desmantelado, hoje, retomar a Funai. Uma Funai que é nossa”, disse, em um post no Instagram a nova presidente da Fundação Nacional do Índio, Joenia Wapichana, ao tomar posse na segunda-feira (2).
Wapichana afirmou que pretende comandar o órgão com autonomia, com decisões pautadas por consulta aos povos indígenas. A fala ocorreu durante um ato simbólico em que lideranças indígenas de todo o país retomaram a sede do órgão em Brasília. “Não quero interferência política. Questões indígenas tem que ser voltadas para os povos indígenas”, defendeu.
O ato, que reuniu mais de 300 pessoas, contou com a presença da ministra Sonia Guajajara, que assumiu o recém-criado Ministério dos Povos Indígenas, além do cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças indígenas do país, que esteve entre o grupo responsável por passar a faixa presidencial a Lula no dia da posse.
Advogada e cumprindo os últimos dias do mandato como deputada federal, Joenia é a primeira mulher indígena a ser escolhida para comandar a Funai em 56 anos. Durante a solenidade, ela se emocionou ao lembrar do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, mortos no Vale do Vale do Javari, no Amazonas, em junho do ano passado.
“Esse governo foi responsável, esse que passou, pela morte das pessoas, não só do Bruno e do Dom, mas dos Yanomami que estão morrendo por causa do garimpo, os ataques ali no Pataxó, ali nos Guarani, que eu conheço, do Mato Grosso do Sul. Da mulher que foi assassinada por conta do ódio. Eu venho de um estado – Roraima, para que não conhece, é um estado anti-indígena – que ano passado assassinou uma mulher com uma criança no colo”, relembrou, emocionada”.
Uma fotografia de Bruno e Dom foi pendurada na parede da sala onde ocorreu o evento, organizado pela associação de servidores Indigenistas Associados (INA). Joenia ainda aguarda a nomeação oficial para presidir o órgão.
“Ainda como deputada federal na atual legislatura, única indígena, devo seguir alguns procedimentos para então ser nomeada e assumir, oficialmente, a presidência da Funai”, afirmou ela por uma rede social.
Durante o evento, quando a nova presidente do órgão foi homenageada por servidores e delegações de etnias, houve uma série de rituais com maracás e defumação, um ato simbólico para “purificar” as salas. Até 29 de dezembro, o órgão era comandado pelo delegado federal Marcelo Xavier, com uma gestão desastrosa para os povos indígenas.
Criada há 56 anos, a Fundação Nacional do Índio (Funai) passa a se chamar Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FunaPi). Publicada nesta segunda-feira, a alteração se deu por medida provisória que estabelece a organização básica dos órgãos do Executivo.
A alteração atende a uma antiga reivindicação de indigenistas e entidades como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que tem como liderança Sonia Guajajara. O termo “índio”, segundo especialistas, é preconceituoso e impreciso, pois generaliza as mais de 300 etnias existentes no Brasil.