Com gastos completamente abusivos, as notas fiscais de compras feitas com o cartão corporativo da Presidência da República, na gestão Jair Bolsonaro, indicam que o dinheiro público foi usado para comprar combustível para motociatas, remédios de uso controlado, comidas caras e até guloseimas para festas no Palácio do Planalto.
O material foi obtido pela agência ‘Fiquem Sabendo’, especializada em pedidos pela Lei de Acesso à Informação, e começou a ser divulgado nesta segunda-feira (23). Os membros da agência trabalham, nesta semana, para digitalizar e tornar públicos os dados.
No último dia 12, também em resposta à Fiquem Sabendo, o governo federal divulgou os dados dos cartões corporativos da gestão Jair Bolsonaro, em geral, essas informações ficam em sigilo até o fim do mandato de cada presidente.
A Secretaria-Geral da Presidência da República também passou a divulgar, no site oficial da pasta, os dados dos cartões corporativos de 2003 a 2022.
Até esta segunda, no entanto, estavam disponíveis apenas os valores de cada transação. Com as notas fiscais agora públicas, será possível saber também o detalhamento de cada compra.
GASTOS ABUSIVOS
Entre as notas, há uma de 24 de junho de 2019 no valor de R$ 3.202,06. Somente naquele dia, Bolsonaro gastou mais de mil reais em cortes de carnes. Foram R$ 372 em filé mignon, R$ 218 em filé de costela, 131 em lagarto, R$ 203 em picanha e R$165 em filé de frango.
Em 30 de março de 2019, por exemplo, o cartão corporativo de Bolsonaro autorizou um gasto de R$ 743,26 em picanha. As notas fiscais mostram que, na maioria das vezes, era comprada mais de uma peça de carne por vez. Em 20 de fevereiro de 2019, foi feita a compra de duas peças de filé mignon no valor total de R$ 743,90.
Uma nota registrada em abril de 2019, no valor de R$ 272,30, também mostra a compra de dois medicamentos: Lexapro e Rivotril. Os medicamentos são usados para tratar depressão e outros transtornos de humor e ansiedade.
Em um dos documentos que acompanham as notas fiscais e destacados pela agência Fiquem Sabendo, consta um pedido de “apoio administrativo complementar” para abastecer motocicletas oficiais e descaracterizadas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Os veículos, segundo o documento, seriam usados para uma motociata de Jair Bolsonaro em São Paulo. Os eventos eram apenas manifestações públicas de apoio ao então presidente, e não envolviam qualquer ação de governo. Cada motociata envolveu um custo médio de R$ 100 mil para os cofres públicos.
Sendo assim, cada viagem do ex-presidente para a realização dos atos exigia gastos com hospedagem para cerca de 30 servidores públicos. O gasto com alimentação, por exemplo, era feito para aproximadamente 300 pessoas da área militar que davam suporte no lugar em que o evento seria realizado.
Segundo as notas reveladas, um único passeio de moto de Bolsonaro no Rio de Janeiro, em maio de 2021, custou R$ 116 mil para os cofres públicos da União. O evento contou com suporte dos policiais militares locais, a tropa de choque, socorristas e agentes do Exército.
Os números mostram, ainda, que era comum, em cada viagem, a aquisição de 300 lanches de 30 reais cada, totalizando R$ 9 mil por evento.
Os documentos apontam que os locais onde a tropa de apoio a Bolsonaro se alimentava de modo mais frequente eram as padarias Tony e Thays (com 102 compras, totalizando 126 mil reais), em São Paulo, e Santa Marta (com 24 compras, totalizando 364 mil reais), no Rio de Janeiro.
Entre 2019 e 2022, o ex-presidente gastou R$ 27,6 milhões. Entre os destaques, estão os gastos com hospedagem, a maior fatia do que foi pago com o cartão.
No total, foram R$ 13,7 milhões com hotéis. Somente no Ferraretto Hotel, no Guarujá, cidade do litoral paulista, foi gasto R$ 1,4 milhão.
Na alimentação, outra parcela significativa nos gastos gerais do cartão foram R$ 10,2 milhões. Destacam-se R$ 8.600 gastos em sorveterias, mais R$ 408 mil em peixarias. Em padarias, Bolsonaro gastou R$ 581 mil ao longo do mandato.
Vejam as notas fiscais na íntegra: