Quatro garimpeiros integrantes da facção criminosa PCC morreram em troca de tiros com agentes da Polícia Rodoviária Federal e Ibama na Terra Indígena Yanomami, na noite de domingo (30). Fiscais que atuavam na região de garimpo conhecido como “Ouro Mil”, dentro do território, foram recebidos a tiros pelos criminosos.
“O ataque ocorreu durante tentativa de desembarque da aeronave PRF, quando criminosos, munidos de armamento de grosso calibre, atiraram contra os agentes no intuito de repelir a atividade de repressão ao garimpo ilegal. Os policiais revidaram e atingiram quatro atiradores, que não resistiram aos ferimentos”, informou a PRF.
O confronto entre os agentes e os garimpeiros ocorreu um dia após invasores abrirem fogo contra três indígenas na comunidade Uxiub. Um deles, atingido na cabeça, morreu durante atendimento na base de saúde de Surucucu; os outros dois foram encaminhados para Boa Vista, onde seguem internados.
Um dos garimpeiros mortos é Sandro Moraes de Carvalho, de 29 anos. Segundo informações do portal G1 com a Rede Amazônica, ele chefiava uma facção criminosa que atua na exploração ilegal em terras indígenas, e são chamados de “garimpeiros faccionandos”.
Foragido da Justiça do Amapá, onde respondia por roubo qualificado, o bandido era chamado de “Presidente”. Os outros três garimpeiros mortos ainda não tiveram a identidade revelada. O governo do estado, responsável pelo Instituto Médico Legal (IML), onde estão os corpos, e que tem como praxe divulgar a identidade, alega que a responsabilidade do caso é da Polícia Federal.
Segundo o G1 com a Rede Amazônica, as apurações indicam que Carvalho era uma das principais lideranças da facção de origem paulista PCC, que atuava principalmente nas regiões de garimpo da TIY. Na região, o grupo criminoso detém o controle de maquinários, extração de minérios como ouro e cassiterita e comanda as atividades ilegais.
ARSENAL
Na ação, a polícia apreendeu um arsenal de armas em poder dos invasores – inclusive um fuzil que estava no alojamento dos criminosos. Além do fuzil, três pistolas, sete espingardas e duas miras holográficas, além de munição de diversos calibres, carregadores e outros equipamentos bélicos, foram confiscados na operação.
A ousadia dos garimpeiros ilegais contra agentes federais que combatem o garimpo na TIY já havia sido registrada em outras ocasiões. No dia 28 de abril, na região do rio Couto de Magalhães, um helicóptero em que os agentes estavam foi alvejado pelos bandidos. Ninguém se feriu e equipamentos dos invasores foram destruídos pelas forças de segurança.
Em 14 de março, durante abordagem ao garimpo na região de Waikás, no Rio Uraricoera, criminosos trocaram tiros com agentes de fiscalização. Ninguém ficou ferido e dois garimpeiros que operavam máquinas foram presos.
A série de ataques começou no dia 23 de fevereiro. Uma base de fiscalização montada na comunidade Palimiú, no rio Uraricoera foi atacada a tiros. Garimpeiros armados romperam o bloqueio e dispararam contra agentes do Ibama, que revidaram e um dos invasores foi baleado.
Agentes da PRF e do Ibama avaliam que essas investidas dos criminosos às ações de repressão ao garimpo ocorrem sempre na tentativa de inibir o trabalho de desocupação das áreas demarcadas.
Desde janeiro, após ser deflagrada a crise sanitária na reserva Yanomami, o governo federal desencadeou uma série de medidas para atender à população. Entre as ações, a expulsão do garimpo que atua no território e é responsável pela situação dramática da qual são vítimas os yanomamis.
LULA ENVIA COMITIVA A RORAIMA
Neste final de semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu enviar uma comitiva de ministros a Roraima. Em seu perfil no Twitter, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajara, disse que a medida visa a reforçar “ações de desintrusão de criminosos”. Em outra postagem, ela pede reforço por parte do Ministério da Justiça e Segurança Pública e da Polícia Federal (PF) para apurar informações sobre o ataque de sábado (29). Já estão confirmadas as visitas da própria ministra Sonia Guajajara e de Nísia Trindade (Saúde).
A identidade do garimpeiro morto no confronto com a polícia reforça a suspeita da PRF de que os criminosos são integrantes da facção de São Paulo que age em todo o país, incluindo garimpos ilegais na Terra Yanomami.
TIRO NO PÉ
No final de março, a Polícia Militar foi acionada por um homem, que atirou no próprio pé, quando tentava escapar de uma operação de repressão a invasores em uma unidade de garimpo dentro da reserva indígena.
Ao ser atingido, o indivíduo de 21 anos fretou um helicóptero para o município de Amajari, no Norte de Roraima, e pousou em uma fazenda que serve de base para o garimpo. Depois, seguiu para Boa Vista com a intenção de conseguir atendimento médico.
Ele foi detido no bairro Aeroporto, zona Oeste de Boa Vista, após os policiais notarem contradição no seu relato. Ele alegou que havia sido ferido em um assalto em frente de casa. Não convencidos, os policiais pediram que ele contasse a história novamente e verificaram o celular dele. O aparelho estava sob suspeita de roubo ou furto, pois não possuía nota fiscal.
Além disso, os agentes identificaram uma pasta oculta que guardava várias fotos e vídeos de um garimpo ilegal dentro da Terra Indígena Yanomami. Nas imagens, o bandido ostentava armas e drogas.
Pressionando, ele confessou que integra uma facção criminosa, originada em São Paulo, e que estava agindo dentro do território quando, durante uma operação policial na região, se escondeu em uma mata e disparou a arma acidentalmente.
TERRA YANOMAMI
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, desde o início da operação para desmontar a estrutura do garimpo ilegal já foram destruídos 327 acampamentos de garimpeiros, 18 aviões, 2 helicópteros, centenas de motores e dezenas de balsas, barcos e tratores.
“Imagens de satélite apontam uma redução de cerca de 80% de áreas desmatadas para mineração de fevereiro a abril em relação ao mesmo período do ano anterior”, informa o ministério.