Para Hugo Gutiérrez, ex-constituinte chileno e advogado de direitos humanos, não exigir de Zelensky a imediata libertação de Gonzalo “é uma vergonha”
O ex-constituinte chileno e advogado de direitos humanos, Hugo Gutiérrez, denunciou ao portal Sputnik que o jornalista, blogueiro e cineasta chileno, Gonzalo Lira, que mora em Kharkov, na Ucrânia, encontra-se encarcerado pelo Serviço de Segurança do regime de Kiev (SBU) desde o dia 5 de maio.
“A detenção de um jornalista em qualquer parte do mundo é, sem dúvida, um flagrante atentado à liberdade de informação, ao direito dos povos a serem informados com veracidade e a prestarem contas do que se passa a partir do local onde se encontram”, disse Gutiérrez. Nem o governo de Santiago, nem o Ministério das Relações Exteriores do Chile se pronunciaram até agora.
O ex-constituinte assegurou ao Sputnik que se sentia envergonhado pela inação das autoridades chilenas diante da prisão do jornalista na Ucrânia. “Tenho vergonha que o governo de Gabriel Boric e seus diplomatas não estejam tomando providências. Não há sequer um apelo público para a soltura do jornalista Gonzalo Lira”, disse Gutiérrez..
Acusado de supostamente apoiar a operação militar russa na Ucrânia, espalhar notícias falsas, gravar em vídeo os rostos dos militares ucranianos e insultá-los, Lira conquistou respeito nas redes sociais por suas análises do conflito e críticas à Otan e ao neonazismo que impera em Kiev.
Ele já havia sido seqüestrado pelo SBU em abril do ano passado, sob acusações análogas, mas acabou liberado depois da enorme repercussão do caso no mundo inteiro.
Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia pediu “à comunidade jornalística mundial que levante a voz em defesa de seu colega e exija sua libertação imediata”. “Seu destino ainda é desconhecido”, disse a porta-voz Maria Zakharova.
Como assinalou Guttierrez, neste 11 de setembro, o Chile comemora um novo aniversário do golpe contra o socialista Salvador Allende (1970-1973). Uma brutal ditadura militar foi então instalada no país que trouxe consigo prisões, torturas e desaparecimentos, assim como censura e perseguição contra jornalistas que denunciavam a brutalidade do regime Pinochet (1973-1990).
“Acho que no contexto em que estamos no Chile, para comemorar os 50 anos do golpe de Estado, com assassinatos de jornalistas, sabemos o que significa o atentado à democracia e à liberdade de informação. Portanto, esperava muito mais ativo, muito mais proativo, do presidente do Chile”, acrescentou.
Também segundo a porta-voz russa Zakharova, diante da história do desaparecimento forçado de milhares de chilenos, inclusive jornalistas, justamente no ano em que se completam 50 anos do golpe de Estado de Pinochet, não se pode permitir que isso se repita tão literalmente na Ucrânia de hoje. “Nesse sentido, contamos com a solidariedade das autoridades chilenas, que se consideram entre os herdeiros espirituais de Allende”, acrescentou.
O Colégio de Jornalistas do Chile manifestou sua preocupação com o destino de Lira, acrescentando que irá pedir ao ministério das Relações Exteriores do país que averigue “a real situação do comunicador e antecedentes da prisão da qual teria sido vítima”, disse a presidente da entidade, Rocío Alorda.
Libertad para Gonzalo Lira JÁ