“Temos a clareza de que eventos como esse, de celebrar o 2 de julho, podem garantir que nossa história não seja apagada”, afirmou o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues. “O 2 de julho tem uma contribuição insubstituível na soberania do nosso País, na independência do Brasil”, declarou o deputado Daniel Almeida (PCdoB)
Na última quarta-feira (5), o Congresso Nacional comemorou o Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia em sessão solene.
O 2 de julho relembra a expulsão do exército português, em 1823, no Estado da Bahia, depois de batalhas que duraram mais de 1 ano.
Após o 7 de setembro de 1822, diversos conflitos contra as tropas lusitanas continuaram ocorrendo por todo o território brasileiro.
A homenagem atendeu a requerimento dos senadores Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (Sem Partido-AP) e dos deputados Bacelar (PV-BA), Alice Portugual, Lídice da Mata (PSB-BA) e Rogéria Santos (Republicanos-BA).
A solenidade teve a presença do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, da ministra da Cultura, Margareth Menezes, e do senador Otto Alencar (PSD-BA).
Segundo Wagner, que presidiu a sessão, a atuação dos baianos foi inspirada pelos ideais revolucionários que prosperaram nos séculos 18 e 19.
‘IDEIAS PROGRESSISTAS DA ÉPOCA’
“O pano de fundo da resistência no Brasil eram as ideias progressistas da época, que já pregavam a autonomia política, a República, o fim da escravidão e dos privilégios das classes econômicas e políticas. O escritor Laurentino Gomes, em sua obra 1822, afirma que a manutenção da unidade nacional só foi possível por conta da resistência baiana. Não fosse o 2 de julho, fatalmente o território brasileiro seria dividido em duas partes”, disse o senador Jaques Wagner (PT-BA).
“O 2 de julho tem uma contribuição insubstituível na soberania do nosso País, na independência do Brasil. Resgatar toda essa trajetória, que tem a marca da participação popular, é extremamente necessário. E, hoje, estamos aqui num momento elevado, de ressignificação dessa batalha para consolidar a independência do Brasil”, reforçou o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA).
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) lembrou que a Câmara dos Deputados promove neste mês a exposição “Dois de Julho: 200 anos da Independência do Brasil na Bahia”, no Corredor Tereza de Benguela.
MEMÓRIA
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, afirmou que a cultura é peça fundamental para evitar erros do passado e garantir a democracia.
“Essa data prestigia a memória de todos aqueles que foram cruciais para a Independência… Gente simples e trabalhadora, mesmo tipo de gente que em pleno século 21 reabre diálogo do Brasil consigo mesmo e com o mundo, que valoriza o que é nosso. Essa é nossa verdadeira independência”, disse a ministra.
“Essas conquistas não podem ser consideradas perenes, tem que ser defendidas diariamente. Os eventos de 8 de janeiro mostram de forma contundente a importância de termos viva na memória as dificuldades do passado, para que a gente não repita os mesmos erros. A memória é um tema em que a cultura é central”, completou.
REAFIRMAÇÃO DO PROTAGONISMO DO POVO
Para o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), relembrar as lutas na Bahia é uma forma de reafirmar o protagonismo do povo. Jerônimo também criticou as poucas menções a negros e mulheres nos livros de história.
“Temos a clareza de que eventos como esse, de celebrar o 2 de julho, podem garantir que nossa história não seja apagada. Um povo colonizado não tem capacidade de planejar seu futuro, não tem força suficiente para escolher seu destino. Passamos tempos vivendo essa condição. Foi preciso derramamento de sangue para que pudéssemos ter nossa soberania”, discursou Jerônimo.
“O mais forte para a gente é quando a nossa história é contada por nós mesmos. Nós, infelizmente, não temos nos livros de história a história do povo negro, das mulheres, do povo do interior. A história de Maria Felipa e Joana Angélica não estão nas páginas da imprensa”, disse o governador baiano, referindo-se às figuras femininas baianas que se destacaram nas lutas pela independência.
REPARAÇÃO HISTÓRICA AOS NEGROS
A deputada Lídice da Mata (PSB) contextualizou importantes eventos que levaram às batalhas na Bahia. Para Lídice, o Brasil deve reparação histórica aos negros, que eram grande parte dos combatentes.
“[Após a proclamação da Independência por Dom Pedro I], o Nordeste todo permaneceu sob domínio português e a Coroa mandou para aqui o general Madeira de Melo, para dominar a colônia mais importante do Nordeste, que era a Bahia”, lembrou Lídice.
“Isso levou a nova elite econômica, os negros escravos e livres, o povo baiano, enfim, a se unirem para resistir. Isto aconteceu de maneira expressiva no dia 25 de junho [de 1822], quando Câmara de Cachoeira se junta com outras para declarar Dom Pedro o regente perpétuo do Brasil. Esse símbolo não é aceito pelas tropas portuguesas, que atacam [a cidade de] Cachoeira”, demarcou.
“Ela reage, o povo nas ruas, mulheres, homens, indígenas, o povo simples… e de lá se forma o Exército dos Periquitos, que ganha essa batalha, rememorada nos nossos hinos. Os negros escravos que participaram tinham uma promessa: a abolição da escravatura. Só ocorreu 65 anos depois e é a marca da chaga principal da miséria e pobreza desse País. Precisamos incluir os negros na democracia Brasil”, enfatizou a deputada.
O deputado Bacelar (PV) destacou versos do Hino da Bahia que representam a data comemorada. “Nada mais justo que buscar inspiração em uma das maiores expressões culturais do nosso estado. “Nunca mais o despotismo regerá nossas ações. Com tiranos não combinam brasileiros, brasileiros corações”. Essa estrofe resume perfeitamente o espírito de luta movido pela chama da liberdade. Ao comemorarmos, somos desafiados a refletir sobre o significado desse marco histórico e na construção do Brasil que queremos. Devemos honrar o legado dos nossos antepassados lutando incansavelmente por um país mais justo, igualitário e próspero”, disse Bacelar.
Fonte: Agência Senado