
(continuação da edição anterior)
Concluímos nesta edição a publicação da coluna da jornalista inglesa Vanessa Beeley que viajou à Síria em meio à batalha pela libertação de Alepo e desmistificou a organização Capacetes Brancos e, em especial, o filme premiado com o Oscar de melhor documentário, ‘Os últimos homens em Alepo’, que tentava glorificar a organização financiada pelos serviços secretos dos EUA e Inglaterra e que se propalava neutra e de resgate humanitário. “Os Capacetes Brancos são uma fraude. Eles são uma fraude do começo ao fim”, conclui Vanessa. Na verdade, seu papel é corroborar as versões de guerra química assacadas contra o Exército sírio, pretexto central para justificar a intervenção norte-americana quando os bandos terroristas financiados pela CIA desmoronavam rumo à derrota. (N.B.)
VANESSA BEELEY*
“Além das informações acima [continua a carta de ‘esclarecimentos’ à solicitação de ativistas dentro da Lei de Liberdade de Informação], contratamos um monitor independente para verificar a validade dos serviços que estão chegando aos beneficiários aos quais se devem destinar e que tais serviços são usados para os devidos propósitos. O Escritório de Assuntos Externos e da Comunidade de Nações (FCO) tem encontros regulares com nosso parceiro e os Capacetes Brancos, assiste ao Encontro Geral Anual dos Capacetes Brancos e visita os centros de treinamento destes”.
Diante dessas “informações”, é justo supor que o governo inglês se encontra regularmente com a organização de longo alcance do FCO, a Mayday Rescue e assiste ao Encontro Geral Anual dos Capacetes Brancos sem nunca haver checado as informações que lhe são fornecidas por este cartel?
“Em resposta a sua pergunta final, a Defesa Civil Síria [apelido usado pelos Capacetes para enobrecer sua ação a serviço da intervenção] não fornece os nomes das pessoas que resgata ou o resultado de qualquer tratamento médico subsequente ao socorro”.
Estaríamos diante de uma clara negligência grosseira se o governo inglês alegasse esforços de autenticação das informações sobre as quais baseia sua política externa na Síria. O que tudo isso de fato revela é que o FCO criou deliberadamente um ciclo fechado de propaganda que fornece precisamente a informação requisitada pelo próprio FCO para justificar sua política intervencionista na Síria. Tudo mais é falsificação e obscurantismo político.
Os Capacetes Brancos são uma fraude. Eles são uma fraude do começo ao fim. Se tivessem, de fato, salvo um tal número gigantesco de civis sírios, por nunca vemos civis sírios louvando estes feitos? Ao invés disso, não escutamos nada além de acusações de crimes contra a humanidade cometidos diretamente pelos Capacetes Brancos e em colaboração com a Al Qaeda e grupos extremistas a ela associados, a exemplo do Nour Al Din Zinki que decapitou um garoto palestino de 12 anos de idade a apenas 200 metros de distância do centro dos Capacetes em Al Ansari, Alepo Leste. Quando Abdullah Issa implorava para ser morto de forma mais humana, em 2016, onde estavam os Capacetes Brancos? Muito ocupados, olhando na outra direção, ou buscando “bombas barris” nos céus, em preparação para o seu segundo filme indicado ao Oscar, Os Últimos Homens em Alepo.
Israel não oferece assistência “excepcional” a seus inimigos. Os Capacetes Brancos são “amigos” de Israel, assim como o são os milicianos e assassinos extremistas que escaparam sob cobertura de invisibilidade dos Capacetes Brancos. O governo inglês “paga um tributo ao bravo e altruísta trabalho dos voluntários dos Capacetes Brancos que salvaram civis sírios dos dois lados do conflito”, ainda que, em 2015, o ex-agente inglês Le Mesurier tenha admitido caráter sectário da organização.
Os Capacetes Brancos demonstraram sua natureza violentamente sectária em muitas ocasiões, talvez a mais notável tenha sido o chamado ao “extermínio” das comunidades xiitas sírias de Kafarya e Foua no interior do Estado de Idlib durante o cerco da Frente Al-Nusra que começou em março de 2015. A liberação final destas aldeias que enfrentaram longo sofrimento foi completada recentemente, sem nenhuma ajuda dos Capacetes Brancos, apesar de clamarem que “atendem a todos os lados do conflito”.
Quanto ao povo sírio, não haverá estátuas erigidas em “honra” a estes “salvadores da espécie humana desarmados e imparciais” – tal privilégio estará reservado aos Capacetes Brancos na Inglaterra, França, Alemanha, EUA e Canadá, que devem a maior gratidão ao grupo que fomentaram e financiaram por cinco anos. Um grupo que lhes forneceu as desculpas fabricadas para cometerem os crimes de guerra contra a Síria sob a bandeira do “humanitarismo excepcional” uma afirmação que tem se comprovado vazia e hipócrita quando se pesquisa o mapa da estrada do intervencionismo anglo-americano. É um mapa juncado de cadáveres daqueles que serviram, mas já não são mais “de serventia aos propósitos da intervenção”. É claro, então, que o propósito dos Capacetes Brancos ainda não foi totalmente utilizado.
* É fotógrafa e jornalista investigativa. Editora associada do portal 21st Century Wire e que tem concedido entrevistas à agência Russia Today – RT.