Em uma noite trágica, o confronto Brasil x Argentina pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, ficou marcado pela confusão na torcida e por uma repressão violenta nas arquibancadas minutos antes de a bola rolar para o clássico sul-americano.
O conflito teve início durante a execução dos hinos nacionais no setor onde os torcedores argentinos estavam concentrados, atrás de um dos gols do estádio. Assentos foram arrancados e arremessados nas arquibancadas.
Não havia qualquer separação entre as duas torcidas e os seguranças privados se retiraram do entorno. A Polícia Militar então interveio com uma violência desproporcional e causando ferimentos graves em torcedores argentinos.
Depois de alguns minutos, os jogadores em campo perceberam o problema. Os argentinos, que se preparavam para a foto oficial, saíram em disparada em direção às arquibancadas para tentar intervir na confusão. O goleiro argentino Emiliano Martínez foi visto defendendo uma torcedora da ação policial registrada no estádio. O jogo ficou paralisado por quase 30 minutos até a bola rolar.
No setor Sul, onde houve a confusão, havia muitas crianças, que se desesperaram, muitas delas chorando. Alguns torcedores deixaram o estádio imediatamente. Ao fim da confusão, oito pessoas foram presas, e duas precisaram de atendimento no posto médico do Maracanã. Com a bola rolando, policiais fizeram uma barreira humana no setor Sul para separar as duas torcidas.
Para a Polícia, a culpa da confusão é da própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pela ausência de separação de torcedores. A polícia afirma que agiu de forma correta.
“A toda ação corresponde uma reação. Existe um histórico de torcidas que têm um enfrentamento maior com os órgãos de segurança. Inicialmente, se utilizou da verbalização. Posteriormente, a gente teve que utilizar o bastão. Não houve uso de material não letal, como balas de borracha. Não houve utilização de gás, a gente foi bem técnico”, disse o comandante do Batalhão Especializado de Policiamento em Estádio, coronel Vagner Ferreira.
RESPONSABILIDADE DA CBF
Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ) e também vice-presidente da CBF, se antecipou à confusão que aconteceu na partida entre Brasil e Argentina.
Na semana passada, ele enviou ofícios ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), ao Ministério Público (MPRJ) e também ao consórcio Maracanã, informando que a FERJ não foi procurada pela CBF para participar da organização do evento e que toda responsabilidade era da Confederação.
“Nesse sentido, em que pese a expertise da FERJ na organização/operacionalização de partidas de futebol com grande demanda de torcedores no Estádio do Maracanã (atuando sempre em conjunto com os demais órgãos e entidades públicas e privadas envolvidas nos eventos”, no caso em questão toda a responsabilidade operacional, de segurança, tributária, financeira e qualquer outra cabe única e diretamente à CBF”, diz trecho do documento.
Os ofícios foram assinados na sexta-feira da semana passada. E eles não tratam apenas da partida entre Brasil e Argentina, mas também movimentos de bastidores.
O cartola demonstra seu rompimento com o presidente da CBF, que tem cada vez estado mais isolado. Ednaldo Rodrigues tem sido criticado, desde o início da sua gestão, por ser centralizador e não compartilhar as tomadas de decisões com seus vices.
A entidade se pronunciou na madrugada desta quarta-feira (22) sobre a confusão envolvendo torcedores brasileiros, argentinos e policiais nas arquibancadas do Maracanã.
De acordo com a CBF, os planos de segurança para o clássico sul-americano foram aprovados pelos órgãos de segurança do Rio de Janeiro, pela Conmebol e também pela empresa que opera o Maracanã.
“Os planos de ação e segurança foram aprovados sem qualquer ressalva ou recomendação pelas autoridades de segurança pública presentes (Polícia Militar RJ, SEPOL, Ministério Público, Juizado do Torcedor, Guarda Municipal, CET-RIO, Subprefeitura, Concessionária Maracanã, SEOP, etc.), dentre as quais a Polícia Militar do RJ, na primeira reunião realizada na sede da FERJ, no dia 16 de novembro de 2023, às 11:00h”, afirmou a entidade.
“Na segunda (20), o plano operacional para o jogo foi igualmente aprovado sem qualquer ressalva ou recomendação na reunião realizada no Estádio Maracanã, com a presença da CBF, representantes da CONMEBOL, da Polícia Militar RJ, das empresas responsáveis pela operação do Maracanã, e que operam mais de 70 jogos no estádio por ano, e outras autoridades públicas.”
Ainda de acordo com a CBF, participaram da segurança do jogo 1.050 seguranças privados e mais de 700 policiais da PM do Rio de Janeiro.
O JOGO
O Brasil termina 2023 com mais uma marca negativa. Com a derrota por 1 a 0 para a Argentina no Maracanã, a Seleção perdeu um jogo em casa pela primeira vez na história das eliminatórias da Copa do Mundo (o país era o único da América do Sul que jamais havia perdido como mandante nas classificatórias para o Mundial).
Ao fim da partida, a torcida protestou com gritos de “time sem vergonha”, de “olé” para a troca de passes argentina e ofensas a Fernando Diniz. O gol argentino foi marcado pelo zagueiro Otamendi, aos 17 minutos do segundo tempo.
Até hoje, foram 65 jogos como mandante em todas as eliminatórias sul-americanas. Nos 64 anteriores, o Brasil tinha 51 vitórias e 13 empates e feito 173 gols e sofrido só 29. E em apenas cinco partidas a Seleção não havia marcado: 0 a 0 com a Colômbia em 2004; 0 a 0 com a Argentina em 2008; 0 a 0 com a Bolívia em 2008; 0 a 0 com a Colômbia em 2008 e 0 a 0 com a Venezuela em 2009. Agora, entrou para a lista o 1 a 0 da Argentina em 2023.
A primeira derrota em casa nas eliminatórias é mais uma marca negativa que a Seleção acumula sob o comando do técnico interino Fernando Diniz. Antes, o Brasil tinha perdido dois jogos seguidos das eliminatórias pela primeira vez e viu a Colômbia quebrar um tabu de nunca ter derrotado os brasileiros. Além disso, com o treinador já são seis gols sofridos em seis jogos, mais do que os cinco que a equipe dirigida por Tite levou em toda a eliminatória para a Copa de 2022.