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Arroubo de Macron em socorro à guerra do Pentágono foi amplamente repelido
Arroubo do presidente Emmanuel Macron de “não descartar” o envio de tropas para a guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia, feito imediatamente após Paris sediar uma cúpula de emergência sobre a Ucrânia, causou uma tempestade política na França, com praticamente todo espectro da oposição, à esquerda e à direita, a considerando uma “loucura” rematada.
O ex-candidato a presidente pelo partido A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, disse que entrar em “guerra contra a Rússia seria uma loucura” e chamou as declarações de Macron de “irresponsáveis”.
“Enviar tropas à Ucrânia nos tornaria cobeligerantes (…) Esta escalada verbal belicosa de uma potência nuclear contra outra grande potência nuclear é um ato irresponsável”, advertiu Mélenchon. “É chegada a hora de negociar a paz na Ucrânia com cláusulas de segurança mútua”, ele acrescentou.
A líder da Reunião Nacional, Marine Le Pen, acusou Macron de encenar como “chefe de guerra, mas é da vida dos nossos filhos que ele fala com tanto descuido. É a paz ou a guerra em nosso país que está em jogo”.
“Entrar em guerra com a Rússia e arrastar o continente. Loucura”, se manifestou o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, que defende “apoiar a resistência ucraniana”. Ele se mostrou perplexo com a “leveza” na proclamação de Macron, “que durante uma conferência de imprensa diz estar possivelmente pronto para envolver a França como uma nação co-beligerante nesta guerra”.
Eric Ciotti, líder do partido conservador Os Republicanos (LR), denunciou as declarações de Macron como “carregadas de consequências terríveis” e questionou se foram “realmente bem pensadas”.
“Macron está levando a França e a Europa a uma escalada de guerra terrivelmente perigosa! A França deve agir pela paz, certamente não soprar sobre as brasas da guerra”, afirmou o secretário nacional dos comunistas franceses, Fabien Roussel.
“UMA SEMANA DE MUNIÇÃO”
O ex-candidato presidencial François Asselineau, um soberanista, questionou a afirmação de Macron de querer “vencer a Rússia, a principal potência nuclear do mundo”. Ele lembrou que os exércitos franceses “só têm uma semana de munições”, acrescentando que “as pessoas se recusam totalmente a serem mortas na Ucrânia em prol da Blackrock”.
A reação também não tardou da Rússia. Os opositores da proposta “têm uma avaliação sóbria dos riscos potenciais” de ter forças da NATO na Ucrânia, disse Peskov na terça-feira (25). Isso seria “absolutamente contra os interesses dessas nações” e dos seus povos, alertou.
Questionado sobre a probabilidade de um conflito direto com a Otan se tropas ocidentais forem enviadas para a Ucrânia, o porta-voz do Kremlin disse: “neste caso, temos de falar não sobre a probabilidade, mas sim sobre a inevitabilidade”.
SCHOLZ E STOLTENBERG NEGAM
A cúpula de que Macron foi anfitrião teve a incumbência de regurgitar as péssimas notícias da Ucrânia e da guerra ali por procuração para expansão da Otan, que já dura dois anos, com o quadro do regime neonazista de Kiev cada dia mais insustentável, como explicitado pela libertação pelas forças russas da ex-fortaleza de Adviika, no Donbass.
Em uma coletiva de imprensa a seguir, Macron disse que “atualmente não há consenso para enviar tropas terrestres de forma oficial, assumida e endossada. Mas dinamicamente, nada deve ser descartado. Faremos tudo o que for necessário para garantir que a Rússia não possa vencer esta guerra”.
Ele lembrou ainda que, antes, países europeus que eram contra mandar armas, acabaram mandando até mesmo tanques e aviões de guerra.
A fina flor da vassalagem europeia prontamente buscou se afastar do arroubo de Macron, com o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz declarando que “não haverá tropas terrestres, nada de soldados no solo ucraniano enviados pelos países europeus ou da Otan no futuro”.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, correu a enfatizar que “não há planos para tropas de combate da Otan no solo na Ucrânia”. “O que foi decidido entre nós desde o início continua a ser válido para o futuro”, nomeadamente “que não haverá tropas no terreno, nem soldados enviados quer pelos Estados europeus, quer pelos Estados da NATO em solo ucraniano”, ele disse à Associated Press.
ONDE HÁ FUMAÇA…
Declarações análogas foram feitas pelo novo primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, e pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. A Casa Branca negou, à Reuters, que haveria botas norte-americanas em solo ucraniano.
Mas, o recém eleito primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, alertou que alguns países da Otan estão, sim, cogitando o envio de seus militares para a Ucrânia com base em acordos bilaterais – como os assinados recentemente com o Reino Unido e a França.
“Para mim, a reunião de hoje [em Paris] é a confirmação de que a estratégia do Ocidente na Ucrânia falhou, mas quero estar construtivamente preparado para isso… Decorre desses argumentos que um grupo de países da Otan e da UE está considerando [a opção] de enviar seus militares para a Ucrânia com base em acordos bilaterais”, disse Fico a repórteres após uma reunião do governo e do conselho de segurança.
Em suma, Macron falou em voz alta o que a vassalagem e outros aprendizes de feiticeiro sussurram nos corredores em Bruxelas, diante da débâcle de seu rebento, o regime de Kiev.
E, portanto, Macron não teve como escapar da língua ferina da porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova. No Telegram, ela postou que Macron estaria cogitando “recriar a divisão francesa da SS ‘Carlos Magno II’ para defender o bunker do presidente Volodymyr Zelensky”. Ela destacou que “um dos últimos defensores do Reichstag, da Chancelaria do Reich e do bunker de Adolf Hitler” eram soldados daquela divisão em particular.
“NÃO HOUVE UMA SÓ PALAVRA PELA PAZ”
O premiê eslovaco descreveu a reunião de Paris como uma “reunião de combate” e denunciou a ausência de um plano de paz. “Tudo o que querem é que a matança continue”, declarou Fico, que voltou ao poder nas eleições de outubro passado.
“Reinava em Paris uma atmosfera puramente a favor da guerra. Não houve uma palavra sobre paz, o que pessoalmente lamento”, ele acrescentou.
“Posso confirmar que há países que estão dispostos a enviar os seus soldados para a Ucrânia, há países que dizem nunca, a Eslováquia é um deles, e países para os quais esta proposta deve ser tida em consideração”, continuou.
Na conferência de Paris, Fico repetiu as posições de seu governo. “O nosso governo rejeita a continuação da guerra, não enviaremos armas para a Ucrânia, focamo-nos apenas em projetos civis, e o mais importante é o acordo dentro da coligação governamental que não aceitaremos, jamais um soldado eslovaco irá para a Ucrânia para esta guerra”, ele concluiu.