Um deles portava uma bandeira branca. Em seguida, uma escavadeira foi usada pelos israelenses para enterrá-los “na areia e no lixo”. “Crime de guerra hediondo”, repudia grupo árabe-americano de defesa de direitos civis
Soldados israelenses mataram a tiros dois palestinos desarmados em Gaza, com seus corpos enterrados na areia e no lixo por um trator do exército, mostraram imagens exclusivas divulgadas pela Al Jazeera.
Pelo menos um dos dois homens acenou repetidamente com o que parecia ser pano branco, em sinal de rendição e para mostrar que não havia ameaça, enfatizou a agência de notícias do Qatar.
É o segundo vídeo em menos de uma semana a comprovar a execução em Gaza de civis palestinos desarmados pelas tropas coloniais israelenses. O anterior mostrava a chacina de quatro civis que caminhavam, perpetrada com uso de drone.
Os dois da denúncia desta quinta-feira estavam perto da rotatória de Nabulsi, a sudoeste da Cidade de Gaza, e tentavam voltar para suas casas no norte da Faixa pela rua al-Rashid, a única rota possível, relatou um correspondente da Al Jazeera. Foi aí que se depararam com os soldados israelenses.
A exibição do vídeo ocorre dias depois que o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução exigindo um cessar-fogo imediato em Gaza e em meio a crescentes apelos para que Israel interrompa seu ataque de quase seis meses ao enclave sitiado, que matou dezenas de milhares de palestinos, feriu outras dezenas de milhares, destruiu casas, prédios, escolas, padarias e infraestrutura civil, expulsou de seus lares 2 milhões de palestinos, bloqueou comida, remédios, água e combustível, provocando alertas da ONU de fome catastrófica iminente.
BANDEIRA BRANCA
As imagens mostram um homem se aproximando das tropas, acenando, antes de desaparecer de vista atrás de um prédio. Enquanto isso, o outro se virou, mas o tempo todo parecendo levantar um pedaço de pano branco.
O homem que se virou é visto sendo perseguido por um veículo blindado. Os soldados abrem fogo contra ele e as imagens o mostram desabando na areia.
Um trator é usado para enterrar dois corpos, incluindo o do primeiro homem que caminhou em direção aos soldados, mostra o vídeo.
Este vídeo com legendas do portal Democracy Now! dá mais detalhes do crime hediondo:
À Al Jazeera, o exército israelense alegou que o vídeo “não mostra o contexto” do que chamou de “incidente” e asseverou que iria transferir a questão para “entidades profissionais competentes” para – o termo é das IDF – “análise”.
O Hamas condenou os assassinatos, dizendo que eram “mais uma evidência da escala do fascismo e da criminalidade que governa o comportamento sionista, no contexto da brutal guerra de extermínio contra nosso povo na Faixa de Gaza”.
Também pediu ao Tribunal Penal Internacional que tome “medidas necessárias” para responsabilizar Israel pelos “crimes que cometem contra crianças e civis indefesos”.
O grupo também exigiu que qualquer acordo de cessar-fogo inclua o direito dos palestinos de retornar às suas casas em segurança sem serem alvejados pelas tropas israelenses.
TRATA SUAS VÍTIMAS “COMO LIXO”
O Council on American-Islamic Relations (CAIR), entidade de defesa dos direitos civis com sede nos EUA, pediu uma investigação da ONU sobre o “hediondo crime de guerra” e denunciou que Israel parece “matar palestinos por capricho” e depois trata os corpos de suas vítimas “como lixo”.
“Este genocídio deve ser interrompido, não desculpado ou apoiado com armas [e] retórica”, disse a CAIR, em uma referência à cumplicidade de Washington com o genocídio em Gaza.
“São cenas brutais e aterrorizantes porque estamos olhando para execuções extrajudiciais”, disse o porta-voz do Crescente Vermelho Palestino, Nebal Farsakh, acrescentando que era óbvio que Israel estava tentando esconder as evidências.
“Quantos milhares de palestinos devem ser mortos antes que o mundo tome medidas sérias para responsabilizar Israel e ter um cessar-fogo imediato e sustentado?”, ele acrescentou.
ATROCIDADES ISRAELENSES
O ex-relator especial da ONU para os direitos humanos na Palestina, professor Richard Falk, disse a execução a sangue frio é “uma confirmação vívida das contínuas atrocidades israelenses”.
“Os olhos e ouvidos do mundo foram atacados em tempo real por essa forma de comportamento genocida”, disse Falk, chamando de “momento vergonhoso” a cumplicidade de governos ocidentais para com o regime de Tel Aviv.
Pelo menos 32.552 palestinos foram mortos e 74.980 ficaram feridos em ataques israelenses a Gaza desde 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.