Donald Trump e o chefe do Pentágono, que atende por ‘Mad Dog’ Mattis, agora alegam preocupação com a ‘catástrofe humanitária’ que ocorrerá se os terroristas de Idlib forem despachados da Síria
Após a Rússia ter desmascarado a operação de bandeira trocada “com arma química” marcada para Idlib, subitamente o presidente Trump e seu chefe do Pentágono que atende pela alcunha de Cachorro Doido pela chacina de Faluja, deram para se preocupar com a “catástrofe humanitária” que ameaça a província síria sob controle dos terroristas, se o exército sírio empreender sua libertação, como parece iminente de ocorrer.
“Centenas de milhares de pessoas morreriam”, escreveu pungido o presidente dos EUA no Twitter. Até a Rússia desencadear suas maiores manobras navais no Mediterrâneo em 25 anos, em frente ao litoral sírio, Trump andava trovejando à Síria contra “ataques imprudentes” a Idlib, além de prometer resposta imediata “às armas químicas de Assad”. Em outras palavras, “não mexam com os terroristas”, cuja candura e humanitarismo foram recém redescobertos pela reportagem do New York Times.
O problema – sempre tem um problema – é que alguém acabou abrindo a boca demais, no caso o próprio enviado especial de Trump à região, Brett McGurk, que disse que a província de Idlib “é o maior refúgio da Al Qaeda desde o 11 de Setembro, ligado diretamente a Ayman al Zawahiri”. “Isto é um grande problema”, acrescentou. A propósito, ao arrasarem até o chão Mossul e Raqqa, o Pentágono e a Casa Branca não haviam expressado quaisquer “incômodos humanitários” sobre ataques e bombardeios.
Na terça-feira, depois de semanas sem bombardeios a Idlib, a aviação russa alvejou paióis de armas dos terroristas, que tem mudado de nome sempre que o laço aperta e, de Al Qaeda e Frente Al Nusra, passaram a Tahir al Sham.
O mesmo McGurk, em uma palestra em um think tank no ano passado, havia indagado como é que a rapaziada da Al Qaeda havia ido parar lá em Idlib. “Como eles estão chegando lá? Eles não são paraquedistas …”. Como se não tivesse sido uma operação desencadeada sob as bênçãos e armas dos EUA e o dinheiro saudita, entupindo a Síria de extremistas vindos de toda a parte para a jihad americana, cuja primeira etapa foi a destruição da Líbia pela Otan.
Apesar do que as agências de notícias insinuam, Idlib não é “a última área” fora do controle soberano da Síria, porque os EUA mantêm regiões inteiras sob sua ocupação direta ou de mercenários na folha de pagamentos de Washington, o que inclui a cidade de Raqqa e os campos de petróleo sírio. Portanto, a hora da verdade vai chegar lá também, pois o exército sírio está determinado a libertar cada centímetro do solo que considera sagrado.
Desde que foi aberto o processo de santificação de John McCain, parece que virou moda em Washington e em Langley reivindicar uma auréola dourada também. O mais recente deles, o secretário de Estado Mike Pompeo, deixou de lado sua fama de mau e tuitou que “os 3 milhões de sírios, que já tinham sido forçados de seus lares e agora estão em #Idlib, sofrerão com essa agressão. Não é bom. O mundo está observando”.
Na semana passada, o chanceler russo Sergey Lavrov havia dito esperar que os parceiros ocidentais não fizessem uma asneira na Síria e advertido que a planejada provocação com armas químicas no “último foco remanescente dos terroristas”, Idlib, visa manter os terroristas na área e os civis como seus “escudos humanos”. Lavrov chamou a região, sob controle dos terroristas, de um “abscesso purulento” que precisa ser resolvido.
Agindo para tornar mais difícil para Washington a cumplicidade com a provocação planejada para Idlib, Moscou já apresentou provas à ONU e a Organização para a Proibição de Armas Químicas, e também ao Departamento de Estado, sobre a operação de bandeira trocada. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, assinalou que a presença dos extremistas em Idlib estava minando o processo de paz sírio e servindo para ataques a civis, ao exército sírio e às forças russas.
TERROR REMANESCENTE
“Um grupo razoavelmente grande de terroristas se estabeleceu lá e, claro, isso leva a uma desestabilização geral da situação. Isso prejudica as tentativas de colocar a situação no caminho de um acordo político-diplomático”, apontou Peskov, acrescentando que o Kremlin estava ciente de que o exército sírio estava “se preparando para resolver esse problema ”.
Ao anunciar o sucesso das operações contra os terroristas remanescentes de Idlib, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, general Igor Konashenkov, afirmou que só foram atingidos locais distantes dos centros populacionais, e que a Rússia trabalha “em estreita cooperação com o lado turco para evitar vítimas civis”.
Na sexta-feira, cúpula entre Rússia, Irã e Turquia irá avaliar o quadro e definir os passos que se seguirão. Há a expectativa, por parte de Ancara, de que seja possível evitar um novo êxodo de refugiados em direção à Turquia. “Vamos levar este assunto a um ponto positivo com a cúpula de Teerã, que é uma continuação de Astana”, afirmou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Nesta quarta-feira, o ministro sírio da Reconciliação, Ali Haidar, chamou os curdos sírios a darem as costas a Washington e a se reintegrarem plenamente à nação síria.
ANTONIO PIMENTA