Amer Abu Halil, preso sem julgamento ou acusação formal, denunciou os abusos e humilhações a que foi submetido em celas superlotadas, incluindo espancamentos até a perda de consciência, privação de sono, comida atirada ao chão, escassez de água potável, entre os mais diversos tipos de sistemática cueldade
Na entrevista concedida aos jornalistas Giedon Levy e Alex Levac, em sua casa na Cisjordânia, Hilal relata que foi preso pelas forças de ocupação israelense a pretexto de ser filiado ao Hamas e ficou detido na prisão de Ketziot sem nem mesmo direito a julgamento. Ele tem 30 anos, é formado em comunicação pela universidade Al-Quds em Abu Dis (bairro vizinho a Jerusalém Árabe. É casado com Bushra, 27 e pai de Tawfiq, de 8 meses. Foi preso pela primeira vez em 2019 por 47 meses sob ‘prisão administrativa’ (que é regulada pelas leis da colonização inglesa na Palestina e mantidas até hoje e aplicadas para prender palestinos sem direito a julgamento).
O tratamento brutal na prisão israelense se intensificou depois do ataque de 7 de outubro. Primeiro os guardas confiscaram todas as TVs, rádios e celulares. A partir de 9 de outubro eles começaram intensificaram os espancamentos e abusos, Abu Halil recorda que ficou 197 dias usando as mesmas roupas. As celas ficaram superlotadas com até 20 presos em cada uma mesmo após a abertura de novas prisões de palestinos na Cisjordânia.
Primeiro os guardas acompanhados com cachorros, investiram contra os detentos algemados com violência, ele relatou que os gritos dos presos podiam ser ouvidos por toda a prisão e que rapidamente as paredes ficaram cobertas com sangue. Desde então, espancamentos se tornaram uma rotina diária em Ketziot. Eles eram obrigados a beijar a bandeira de Israel e gritar “O povo de Israel vive!” Os prisioneiros tinham medo de falar qualquer palavra que começa com a letra “h” por medo dos guardas acharem que estavam falando do Hamas.
Em 29 de outubro, eles cortaram a água e eletricidade para os presos e foi dada uma garrafa d’água para ser dividida com 10 detentos por cela. Portas do banheiro foram arrancadas e os presos tinham que usar um cobertor na porta na hora de se aliviar. Eles também tinham que racionar a ida ao banheiro já que só tinha água corrente por 1h 30min por dia. Ele recorda que os guardas jogavam comida para os presos no chão sujo.
Quando eles pediram produtos de limpeza para limpar as selas, os guardas algemaram os presos, “agora vocês vão ser como cachorros”, eram obrigados a andarem curvados, foram levados para a cozinha, despidos e forçados a se deitar em cima uns dos outros, foram espancados com cassetetes, cuspidos, humilhados e sodomizados com cenouras. Por fim os guardas soltaram os cachorros contra os presos.
Sofreram privação de sono, os guardas ligavam os alto-falantes a todo volume durante a noite “Levantem-se seus porcos!” gritavam os carcereiros israelenses. Quando eram revistados com detector de metal, eram despidos, e golpes desferidos contra os testículos dos presos. Eram obrigados a cantar canções de louvor a Israel, os guardas deixavam os cães de guarda urinarem nos colchões que os presos dormiam. As sessões de espancamento se seguiram de forma continuada.
Uma vez, os guardas acusaram Abu Halil de rezar por Gaza, invadiram a cela em que ele estava e começaram a espancar todo mundo. Seu colega de cela, Ibrahim al-Zir, de 51 anos, foi espancado tanto que um de seus olhos quase foi arrancado com os golpes dos guardas. Abu Halil perdeu a consciência.
“Esse é seu segundo Nakba,” disseram os guardas em outra sessão de tortura dois dias depois. Nakba é o nome da limpeza étnica sofrida pelos palestinos na fundação de Israel. Um outro preso, Tair Abu Asab, de 38 anos, teria sido espancado até a morte pelos guardas por recusar a se curvar. Nenhum guarda foi sequer repreendido pelo ocorrido.
Hilal concluiu a entrevista comparando os horrores do presídio Ketziot aos que geraram o escândalo de Abu Graib no Iraque onde foi documentada a tortura sistemática de presos iraquianos por guardas americanos durante a invasão do Iraque.