Uma antiga anedota anti-imperialista diz que não há golpes de estado em Washington, porque não há embaixada dos EUA em Washington. Parece que isso está para mudar, desde que o New York Times, o guardião do american way of democracy, publicou artigo anônimo que revela uma conspiração, dentro da própria Casa Branca, para deter Trump. Há adultos dentro da Casa Branca, asseveram, prontos para agir.
O ex-estrategista-chefe de Trump, Steve Bannon, chamou a coisa pelo nome, “golpe”, e disse que os EUA estão vivendo uma situação não vista desde os tempos de Lincoln, quando generais democratas queriam botar rumo no país ao invés de acabar com a escravidão. Dizendo não ser metido a teorias conspiratórias, ele contestou a existência do “Estado Profundo”, asseverando que o que há mesmo é o “Estado Estacionário”. Parece que este está achando que Trump está atrapalhando os negócios.
Os principais nomes do governo Trump se apressaram a vir a público para esclarecer não serem eles o autor anônimo da “op-ed” do NYT. Inclusive seu vice, Mike Pence, seu secretário de Estado e ex-diretor da CIA, Mike Pompeo, seu chefe do Pentágono, general de marines Mad Dog, e seu chefe de gabinete, general John Kelly. Dizem que até o genro, Kushner, jurou.
Quando os juros sobem nos EUA, chega a hora da verdade para todo o castelo de cartas da especulação. Os oligarcas não se entendem se têm que partir para cima da China direto, e tentar neutralizar a Rússia, ou se têm que encaçapar a Rússia primeiro, para a China não ter retaguarda.
O dilema da única hiper-super-potência para manter seu unilateralismo está dilacerando corações em Washington – além de Wall Street e Langley. Enquanto a crise vai fermentando por baixo, apurada pela concentração desmedida de renda e riqueza, pós crash-2008 e pós-bailout, recorde de mortes por overdose, desindustrialização, egocentrismo, racismo, xenofobia – e Trump, que é só um sintoma, não a causa.
O estenógrafo predileto do establishment, Bob Woodward, cujo patrão agora é Jeff Bezos, o dono do monopólio avaliado em US$ 1 trilhão na Bolha de Tudo, a Amazon, está lançando no aniversário do 11 de Setembro seu livro “Medo: Trump na Casa Branca”, para ver se ajuda a apertar o laço no pescoço de Trump, que o investigador especial, “o cara de Obama”, Bob Mueller, tão diligentemente tenta ajeitar. Novembro vem aí, e o mundo é cheio de coincidências. Obama também voltou para o centro do palco, convocando a derrotar os republicanos, restaurar a sanidade em Washington e, claro, preparar a cama para Trump.
O NYT publicou seu ode à “Resistência” no dia seguinte do Post ter divulgado a prévia do livro de Woodward, em que este assevera que os principais auxiliares de Trump duvidam da sua sanidade e da sua inteligência e executam um “golpe de estado administrativo”, só fazendo o que querem. Trump reagiu tuitando “Traição” (Quem?), exigindo que o NYT entregue o talentoso escriba por razões de segurança nacional e chamando o livro de Woodward de “fraude”. A fedentina está ficando insuportável e outubro – mês tradicional das surpresas em Washington – ainda nem chegou.
A.P.