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Ele estava em Teerã para a posse do novo presidente iraniano. “Um assassinato político absolutamente inaceitável”, condenou a Rússia. “Como podem ocorrer negociações em que uma parte mata seu negociador ao mesmo tempo?”, questionou o sheik Al Thani, líder do Qatar, mediador ao lado do Egito. China chama a deter a escalada. Blinken se esquiva e diz que “não tinha conhecimento”
Em uma aposta insana em inviabilizar de qualquer jeito o cessar-fogo e estender a guerra a todo o Oriente Médio, o regime Netanyahu assassinou o líder do Hamas e principal negociador do cessar-fogo, Ismail Haniyeh, nas primeiras horas de quarta-feira (31), com um ataque de míssil à residência em que ele estava hospedado em Teerã, aonde fora para a posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.
O crime está sendo repudiado no mundo inteiro, exceto pelos já notórios cúmplices no genocídio perpetrado por Israel em Gaza.
“Este é um assassinato político absolutamente inaceitável e levará a uma nova escalada de tensões”, condenou o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Mikhail Bogdanov. A China se opôs veementemente ao assassinato, chamando ao cessar-fogo e a evitar uma nova escalada.
Haniyeh, 62 anos, era presidente do gabinete político do Hamas desde 2017, depois de ter sido o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina entre 2006 e 2007, e depois chefe do Hamas na Faixa de Gaza, após o rompimento entre o Hamas e a OLP.
Ele nasceu no campo de refugiados de Shati, na Faixa de Gaza, e sua família é originária da aldeia de Al-Jura, perto da cidade de Asqalan, que foi praticamente destruída e completamente limpa etnicamente durante a Nakba em 1948, para se tornar a cidade judaica portuária de Ashkelon.
Completou sua educação inicial nas escolas da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA). Formou-se em bacharelado em Literatura Árabe pela Universidade Islâmica de Gaza, de que se tornaria reitor em 1992.
Durante a Primeira Intifada foi várias vezes preso, sendo exilado no sul do Líbano em 1992, mas retornou a Gaza após os Acordos de Oslo. Desde 2018, sob Trump, estava na “lista de terroristas” do Departamento de Estado. Na atual investida de Israel contra Gaza, Haniyeh teve – em outra provocaçao israelense contra as negociações – três filhos e quatro netos assassinados em ataques aéreos.
Segundo o jornalista do Qatar, Hani Mahmoud, Haniyeh era visto em Gaza e na Cisjordânia “como um líder moderado, muito mais pragmático do que outros líderes que lideram a parte militar do movimento” e era muito popular por sua trajetória e origem de típico descendente das famílias expulsas de suas terras na Nakba (a ‘Catástrofe’, como designam os palestinos a implantação do Estado de Israel junto com a destruição de 400 aldeias e bairros de cidades palestinas entre 1948 e 1952.
“ASSASSINATO POLÍTICO”
Comunicado da diplomacia russa enfatizou que “os organizadores deste assassinato político estavam claramente conscientes das perigosas consequências que esta ação teria para toda a região. Não há dúvida de que o assassinato de Ismail Haniyeh terá um impacto muito negativo no progresso dos contatos indiretos entre o Hamas e Israel no âmbito dos quais eram conduzidas negociações sobre condições mutuamente aceitáveis do cessar-fogo na Faixa de Gaza”.
Também o líder do Qatar e principal mediador do cessar-fogo, ao lado do Egito, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, se manifestou sobre o abjeto crime na plataforma X. “A abordagem de assassinatos políticos e escalada intencional contra civis em Gaza em todas as etapas da negociação levanta a questão: como podem ocorrer negociações em que uma parte mata seu negociador ao mesmo tempo?”
O Egito disse que o assassinato de Haniyeh é um sinal de Israel de que não tem “vontade política para a desescalada”, de acordo com a Al Jazeera. No final de semana, mediadores do Qatar e do Egito haviam se reunido com funcionários israelenses e norte-americanos no esforço para desbloquear o acordo de cessar-fogo. A execução de Haniyeh com míssil ocorreu menos de 24 horas após a provocação de Israel bombardeando a capital do Líbano, Beirute, buscando aí assassinar um dos principais líderes do Hezbollah, Fuad Shukr.
ATO COVARDE DE UMA ESCALADA PERIGOSA
O presidente do Estado da Palestina, Mahmoud Abbas, condenou o assassinato de Haniyeh, chamando-o de “um ato covarde e uma escalada perigosa”, segundo a agência Wafa. Ele pediu ao povo palestino e suas forças “a se manterem unidas e firmes contra a ocupação israelense”.
O Hamas confirmou a morte do seu líder em um comunicado, no qual afirmava que ele foi morto por “traiçoeiro ataque sionista” ao prédio em que estava hospedado na capital do Irã. Uma greve geral foi declarada em toda a Cisjordânia, enquanto centenas marchavam pelas ruas de Ramalah e Nablus em protesto contra o assassinato de Haniyeh.
O Irã, cuja soberania foi vilmente violada no assassinato, nas palavras do presidente Masoud Pezeshkhian, reiterou que o país “defenderá a sua integridade territorial, dignidade e honra”, prometendo fazer “os terroristas invasores” se arrependerem do seu ato covarde, conforme a agência noticiosa iraniana Tasnim.
Pezeshkhian disse ainda que o Irã “está de luto por [alguém] com quem partilha a dor e a alegria, o companheiro constante e honrado no caminho da resistência, o corajoso líder da resistência palestina, o mártir de Al Qudsa, a Jerusalém Árabe, Ismail Haniya.” “Ontem levantei sua mão vitoriosa e hoje tenho que carregá-lo para enterrá-lo nos ombros”, acrescentou.
“O criminoso regime terrorista israelense assassinou o nosso querido hóspede na nossa casa e fez-nos chorar, mas também abriu o caminho para a sua severa punição”, afirmou o aiatolá Ali Khamenei, máxima autoridade iraniana.
“NÃO TINHA CONHECIMENTO”
Nas Filipinas, aonde se encontra insuflando a confrontação com a China, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, asseverou ao portal CNA que Washington “não tinha conhecimento nem estava envolvido” no assassinato do líder do Hamas. Já o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, prometeu que Washington ajudará a defender Israel se este for “atacado” em resposta ao assassinato, isto é, ao crime que cometeu.
“NETANYAHU QUER ESTENDER GUERRA A TODA A REGIÃO”, DENUNCIA A TURQUIA
A Turquia denunciou que o assassinato “visa espalhar a guerra em Gaza para a região”. “Foi revelado mais uma vez que o governo (do primeiro-ministro israelense Benjamin) Netanyahu não tem intenção de alcançar a paz”, disse o Ministério das Relações Exteriores turco em um comunicado na quarta-feira.
“A menos que a comunidade internacional tome medidas para deter Israel, nossa região enfrentará conflitos muito maiores”, afirmou.
O Hezbollah expressou suas condolências aos irmãos palestinos pelo “martírio” de Haniyeh, chamando-o de “um dos grandes líderes da resistência em nossa era atual, que se posicionou com toda a coragem diante do projeto de hegemonia americana e da ocupação sionista”.
Para analistas, ao cometer o assassinato do principal negociador, pelo Hamas, do acordo de cessar-fogo, ao mesmo tempo em que perpetra a provocação contra Beirute, Netanyahu demonstra que está disposto a tudo, para tentar se manter no poder e longe da prisão por corrupção, sem dar a mínima para qualquer acordo que traga de volta os assim chamados reféns israelenses e, ao invés, apostando em atrair Washington para uma guerra contra o Irã, que ele parece crer ser sua única chance de “reunificar” a dividida sociedade israelense em torno do apartheid e de sua psicopatia e a dos cúmplices no genocídio, Gvir e Smotrich.